Transcorria o ano de 1925, durante o qual muitos acontecimentos da vida econômica, política e social brasileira fizeram‐se realidade. O mundo estava em um período de transição e reconstrução após a Primeira Guerra Mundial (1914‐1918). Muitos países europeus ainda estavam se recuperando dos devastadores efeitos da Guerra. Economias estavam tentando se estabilizar e reconstruir e havia um sentimento generalizado de desejo por estabilidade e paz. No Brasil, foi inaugurada, em São Paulo, a primeira fábrica nacional de automóveis, a General Motors. Nesse mesmo ano, Irineu Marinho fundou O Globo, um jornal diário de notícias e foi realizada a primeira corrida São Silvestre. Paralelamente, após treze anos da fundação da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Eduardo Rabello foi o responsável pela primeira edição dos Anais Brasileiros de Dermatologia, ainda na gestão de Fernando Terra à frente da SBD.

Ao folhearmos a primeira edição dos Annaes Brasileiros de Dermatologia e Syphilographia, datada de janeiro de 1925 e guardada na maior biblioteca de Dermatologia da América do Sul, na Sede da SBD no Rio de Janeiro; além do cheiro, é possível sentir o entusiasmo com que Eduardo Rabello, fiel à escola francesa, resolveu criar um órgão de divulgação de maior porte e de finalidade científica.1

Apesar de sempre ter sido uma revista cuja direção científica foi da Sociedade Brasileira de Dermatologia, curiosamente, durante os seus primeiros 22 anos de existência, os Anais Brasileiros de Dermatologia eram propriedade de pessoas físicas, sendo o seu primeiro proprietário Oscar Silva Araújo. Foi só em 10 de outubro de 1947, que Antônio Fernandes da Costa Júnior, então Presidente da SBD, cedeu os direitos dos Anais Brasileiros de Dermatologia ao patrimônio da nossa sociedade, conforme a escritura assinada nesta ocasião no 16° Ofício de Notas da Cidade do Rio de Janeiro.2

Excetuando o ano de 1931, no qual devido a demanda financeira para a construção do Pavilhão São Miguel a revista não foi publicada, os Anais Brasileiros de Dermatologia chegam ao seu centenário de maneira ininterrupta. Uma guerra mundial, a guerra fria, a chegada do homem à Lua, a queda do muro de Berlim, pandemias, 21 anos de regime militar no Brasil, nada disso fez com que nossa revista não fosse publicada e paulatinamente ganhasse relevância científica mundialmente reconhecida.

Em nome da SBD agradecemos a cada Editor Chefe e sua equipe editorial desde a fundação dos ABD pelo brilhante trabalho desenvolvido, assim como a todos os autores que submeteram os seus trabalhos científicos ao crivo da nossa Sociedade. Recentemente, atingimos o maior fator de impacto já alcançado por um periódico de Dermatologia na América do Sul. Isso é resultado de um trabalho consistente realizado ao longo desse século de existência.

No contexto atual, resta o desafio de mantermos a nossa revista relevante para comunidade científica. Nossa maior vocação no Brasil sempre foi edição de publicações relacionadas às doenças infecto parasitárias, vanguarda da qual não podemos olvidar jamais. Por outro lado, é cada vez maior a quantidade de artigos internacionais que são submetidos. Conectando essas duas realidades, temos todas as condições de elevar a competitividade internacional dos ABD, buscando sempre a excelência e honrando a todos que nos precederam na condução desse periódico nesses últimos cem anos.