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Vol. 94. Issue 6.
Pages 764-765 (1 November 2019)
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Vol. 94. Issue 6.
Pages 764-765 (1 November 2019)
Carta – Caso clínico
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Carcinoma de células de Merkel em homem imunocompetente e usuário de estatina
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Isaura Azevedo Fasciania,
Corresponding author
isafasciani@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Luisa Groba Bandeiraa, Neusa Yuriko Sakai Valentea,b, Maria Fernanda Vieira Cunha Camargoa
a Departamento de Dermatologia, Hospital do Servidor Público Estadual, Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual, São Paulo, SP, Brasil
b Departamento de Dermatopatologia, Hospital do Servidor Público Estadual, Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual, São Paulo, SP, Brasil
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Prezado Editor,

O carcinoma de células de Merkel (CCM) é uma neoplasia cutânea primária neuroendócrina de comportamento agressivo. Apresenta alto risco de recidiva local, além de acometimento de linfonodos e metástase à distância, o que explica sua alta letalidade e justifica seu reconhecimento e tratamento precoces.

Homem branco de 67 anos procurou o ambulatório de dermatologia com antecedente pessoal de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus tipo 2 e dislipidemia, em uso de insulina, losartana, hidroclorotiazida, atenolol, ácido acetilsalicílico, rosuvastatina e fibrato, após seis meses de evolução de nódulo eritêmato‐violáceo (fig. 1), assintomático, de crescimento rápido, que media 3cm2, na perna direita, sem linfadenomegalias palpáveis. A biópsia incisional (figs. 2 e 3) da lesão revelou, na histopatologia, tumor dérmico com arranjo trabecular, composto por pequenas células azuis com citoplasma escasso e núcleo compacto. A imuno‐histoquímica foi positiva para cromogranina e citoqueratina 20, firmando diagnóstico de CCM. No retorno ambulatorial, solicitamos tomografia computadorizada de tórax, abdômen e pelve, que não evidenciou comprometimento de órgãos internos ou linfadenomegalias. Os testes para imunossupressão e as sorologias eram todos negativos. Em seguida, o paciente foi enviado para cirurgia oncológica, que fez pesquisa de linfonodo sentinela, sem evidência de comprometimento neoplásico. Foi feita exérese ampla, medindo 7,7 × 6,8 × 0,8cm, e a histopatologia demonstrou CCM com margens de resseção livres de comprometimento.

Figura 1.

Nódulo eritemato‐violáceo, de crescimento rápido, com 3cm na perna direita.

(0.05MB).
Figura 2.

Tumor dérmico, com arranjo trabecular, composto por pequenas células azuis com citoplasma escasso e núcleo compacto (Hematoxilina & eosina, 20×).

(0.09MB).
Figura 3.

Detalhe das células de Merkel.

(0.17MB).

O CCM é uma neoplasia maligna neuroendócrina cutânea rara, agressiva e com aumento significativo nas taxas de incidência nos últimos anos, que se apresenta como pápula ou nódulo eritemato‐violáceo, geralmente indolor e de crescimento rápido. Aparece mais frequentemente em áreas expostas ao sol, como cabeça e pescoço, ocorrendo também em extremidades, tronco e genitália.1

O CCM acomete mais homens (relação homem:mulher de 1,5‐2:1), idosos, com média de 73 anos no sexo masculino e 76 no feminino, e imunocomprometidos, como receptores de transplante e portadores de HIV, nos quais geralmente ocorre 10 anos antes do que a média.2

Em 2008, o CCM foi relacionado à infecção pelo Polyomaviridae em 80% dos casos, ao ser identificado em células tumorais sequências de DNA de um novo poliomavírus humano – denominado poliomavírus das células de Merkel. A frequência desses poliomavírus varia de 9% em indivíduos de um a 4 anos a 80% em indivíduos com mais de 50 anos.3 Mais recentemente, foi relatado um aumento de casos de CCM em indivíduos mais jovens usuários de estatina.4

A estatina tem sido amplamente usada devido a seu efeito na redução do colesterol no sangue e por ter um papel bem estabelecido na prevenção de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares. Apresenta, ainda, efeito imunomodulador na regulação negativa da expressão do MHCII, com uma mudança da resposta Th1 (células T auxiliares) para Th2, que leva ao aumento de células B, ativa a produção de anticorpos em excesso, além de exercer efeito inibitório em células natural killer, cruciais para a imunidade natural contra patógenos intracelulares, o que compromete a vigilância imune contra infecções virais e predispõe à proliferação das células tumorais.5

Desse modo, é possível inferir que as estatinas predispõem à infecção pelo Polyomaviridae e à consequente proliferação de células tumorais do CCM, fenômeno semelhante ao que ocorre com imunocomprometidos.

Devido à raridade do tumor, não existe um tratamento padrão. O que se preconiza é a excisão cirúrgica ampla com margens livres de 2cm e radioterapia adjuvante ou isolada.5

Relata‐se um caso de CCM em paciente imunocompetente, com idade ao diagnóstico inferior à da média dos diagnosticados com CCM, sem história de outros cânceres de pele e usuário crônico de estatina, o que fortalece a correlação existente entre o CCM e o uso de estatinas.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Isaura Azevedo Fasciani: Elaboração e redação do manuscrito.

Luisa Groba Bandeira: Obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica do manuscrito.

Neusa Yuriko Sakai Valente: Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Maria Fernanda Vieira Cunha Camargo: Concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Referências
[1]
J. Albores-Saavedra, K. Batich, F. Chable-Montero, N. Sagy, A.M. Schwartz, D.E. Henson.
Merkel cell carcinoma demographics, morphology, and survival based on 3870 cases: a population based study.
J Cutan Pathol., 37 (2010), pp. 20-27
[2]
V. Dinh, L. Feun, G. Elgart, N. Savaraj.
Merkel cell carcinomas.
Hematol Oncol Clin North Am., 21 (2007), pp. 527-544
[3]
P. Czapiewski, W. Biernat.
Merkel cell carcinoma ? recent advances in the biology, diagnostics and treatment.
Int J Biochem Cell Biol., 53 (2014), pp. 536-546
[4]
H. Sahi, V. Koljonen, T. Böhling, P.J. Neuvonen, H. Vainio, A. Lamminpää, et al.
Increased incidence of Merkel cell carcinoma among younger statin users.
Cancer Epidemiol., 36 (2012), pp. 421-424
[5]
L. Mascitelli, M.R. Goldstein.
Do the immunosuppressive effects of statins increase Merkel cell carcinoma risk?.
Int J Dermatol., 53 (2014), pp. e406-e409

Como citar este artigo: Fasciani IA, Bandeira LG, Valente NYS, Camargo MFVC. Merkel cell carcinoma in an immunocompectent male statin user. An Bras Dermatol. 2019;94:764–5.

Trabalho realizado no Hospital do Servidor Público Estadual, Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual, São Paulo, SP, Brasil.

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