Journal Information
Vol. 98. Issue 4.
Pages 533-536 (1 July 2023)
Visits
6891
Vol. 98. Issue 4.
Pages 533-536 (1 July 2023)
Cartas ‐ Caso clínico
Full text access
Caso para diagnóstico. Alopecia cicatricial no vértice
Visits
6891
Anna Carolina Miolaa,
Corresponding author
anna.c.miola@unesp.br

Autor para correspondência.
, Paulo Muller Ramosb, Hélio Amante Miota
a Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
b Departamento de Dermatologia, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
This item has received
Article information
Full Text
Bibliography
Download PDF
Statistics
Figures (4)
Show moreShow less
Full Text
Prezado Editor,

Paciente do sexo feminino, 34 anos, branca, queixava‐se de alopecia no vértex havia seis anos, associada a prurido e queimação local. Relatava que, desde o início do quadro, observou a formação de pústulas na periferia da lesão. Negava comorbidades ou medicamentos de uso contínuo. Relatava ter feito ciclos de sulfametoxazol‐trimetoprim por 60‐90 dias, com melhora parcial. Ao exame, área alopécica cicatricial na região do vértex, com pústulas foliculares na periferia, eritema e áreas com politriquia (fig. 1). À dermatoscopia, foram observadas pústulas foliculares, politriquia, descamação e eritema perifoliculares (fig. 2). Realizada biópsia da região periférica (área com atividade da doença), que evidenciou infiltrado inflamatório perifolicular misto, rico em plasmócitos e histiócitos, acometendo a região entre o istmo e o infundíbulo, com destruição folicular (figs. 3 e 4).

Figura 1.

Alopecia cicatricial com pústulas foliculares na periferia, eritema e descamação perifolicular, além de áreas com politriquia.

(0.47MB).
Figura 2.

Dermatoscopia com pústulas foliculares, descamação e eritema perifolicular. Áreas com ausência de óstios foliculares, porém com politriquia presente.

(0.43MB).
Figura 3.

Infiltrado inflamatório perifolicular misto na região entre o istmo e o infundíbulo, com destruição folicular (Hematoxilina & eosina, 100×).

(0.79MB).
Figura 4.

Presença de inúmeros plasmócitos e histiócitos, em meio ao infiltrado perifolicular misto (Hematoxilina & eosina, 400×).

(0.33MB).
Qual o seu diagnóstico?

  • a)

    Foliculite decalvante

  • b)

    Espectro fenotípico da foliculite decalvante e líquen planopilar

  • c)

    Alopecia cicatricial centrífuga

  • d)

    Líquen plano pilar

Discussão

Espectro fenotípico da foliculite decalvante e líquen planopilar (do inglês FDLPPPS) é uma alopecia cicatricial descrita recentemente, mais prevalente no vértex, em adultos, que combina sinais clínicos e histopatológicos de duas outras alopecias: líquen plano pilar (LPP) e foliculite decalvante (FD), que apresentam infiltrados inflamatórios linfocíticos e neutrofílicos, respectivamente.1

A patogênese da LPP e da FD ainda é pouco elucidada; porém, enquanto no LPP observa‐se ativação de linfócitos TCD8+ e perda do privilégio imune folicular, na FD a presença de Staphylococcus aureus induz biofilme que estimula a resposta imune inata, perpetuando o processo inflamatório mediado por neutrófilos.2,3

A etiologia do FDLPPPS ainda é discutida, visto a coexistência (ou alternância) de ambos os processos inflamatórios. Foi sugerido que a disbiose do microbioma folicular da FD possa induzir a exposição de autoantígenos foliculares, estimulando um padrão de resposta Th1.1,4

Quanto à clínica, pacientes com FDLPPPS geralmente apresentam processo bifásico sequencial com as características de FD precedendo LPP, ou mesmo a concomitância das características clínicas: áreas de alopecia cicatricial com pústulas foliculares, eritema e descamação perifolicular, podendo evoluir com politriquia, como neste caso.5,6

Em relação à histopatologia, observa‐se infiltrado misto na região do infundíbulo, com destruição e atrofia do epitélio folicular e proeminência do componente plasmocitário com histiócitos, em contrapartida à predominância de neutrófilos na FD e de linfócitos no LPP.4,7,8

Ainda não há tratamento padronizado para FDLPPPS, visto sua recente descrição. Contudo, costumam‐se associar os tratamentos utilizados na FD e LPP, como corticosteroides, sulfas, doxiciclina, antimaláricos retinoides e imunossupressores, de acordo com a predominância de características clínicas e tricoscópicas. Neste caso, foi introduzida hidroxicloroquina 400mg/dia e isotretinoína 30mg/dia por via oral, e clobetasol 0,05% gel, com estabilização do quadro no seguimento de seis meses. O racional para a preferência de anti‐inflamatórios e retinoides orais baseou‐se na predominância de sinais clínicos e tricoscópicos do espectro LPP – neste caso, principalmente após tratamento prévio com antibióticos, visando reduzir a intensidade da atividade neutrofílica.1,9 Convém, contudo, salientar a carência de estudos controlados sobre eficácia das estratégias terapêuticas em alopecias cicatriciais.

Os casos descritos em adultos e crianças com FDLPPPS não parecem atingir grande extensão do couro cabeludo, apesar do atraso em seu diagnóstico.1,4–8

Dermatologistas devem estar atentos ao diagnóstico de FDLPPPS frente a casos menos característicos de alopecia cicatricial no vértex, com pústulas, eritema e descamação folicular, cujo infiltrado inflamatório seja misto, ou de padrões alternantes em biópsias subsequentes, e que contenha plasmócitos.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Anna Carolina Miola: Concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; escrita e aprovação da versão final do manuscrito.

Paulo Muller Ramos: Revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito, escrita e aprovação da versão final do manuscrito.

Hélio Amante Miot: Concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito, escrita e aprovação da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
L. Yip, T.H. Barrett, M.J. Harries.
Folliculitis decalvans and lichen planopilaris phenotypic spectrum: a case series of biphasic clinical presentation and theories on pathogenesis.
Clin Exp Dermatol., 45 (2020), pp. 63-72
[2]
M.J. Harries, K. Meyer, I. Chaudhry, J.E. Kloepper, E. Poblet, C.E. Griffiths, et al.
Lichen planopilaris is characterized by immune privilege collapse of the hair follicle's epithelial stem cell niche.
J Pathol., 231 (2013), pp. 236-237
[3]
B. Matard, J.L. Donay, M. Resche-Rigon, A. Tristan, D. Farchi, C. Rousseau, et al.
Folliculitis decalvans is characterized by a persistent, abnormal subepidermal microbiota.
Exp Dermatol., 29 (2020), pp. 295-298
[4]
A. Egger, O. Stojadinovic, M. Miteva.
Folliculitis decalvans and lichen planopilaris phenotypic spectrum‐A series of 7 new cases with focus on histopathology.
Am J Dermatopathol., 42 (2020), pp. 173-177
[5]
K.L. Morais, C.F. Martins, A. Anzai, N.Y.S. Valente, R. Romiti.
Lichen planopilaris with pustules: a diagnostic challenge.
Skin Appendage Disord., 4 (2018), pp. 61-66
[6]
P.M. Ramos, H.A. Miot.
Exuberant tufted folliculitis.
An Bras Dermatol., 94 (2019), pp. 115-116
[7]
B. Matard, B. Cavelier Balloy, P. Assouly, P. Reygagne.
It has the Erythema of a Lichen Planopilaris, it has the Hyperkeratosis of a Lichen Planopilaris, but it is Not a Lichen Planopilaris: About the “Lichen Planopilaris‐Like” Form of Folliculitis Decalvans.
Am J Dermatopathol., 43 (2021), pp. 235-236
[8]
P.M. Ramos, D.F. Melo, L.R. Lemes, G. Alcantara, H.A. Miot, M.R. Lyra, et al.
Folliculitis decalvans and lichen planopilaris phenotypic spectrum: case report of two paediatric cases.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 35 (2021), pp. e674-e676
[9]
H. Babahosseini, S. Tavakolpour, H. Mahmoudi, K. Balighi, A. Teimourpour, S.Z. Ghodsi, et al.
Lichen planopilaris: retrospective study on the characteristics and treatment of 291 patients.
J Dermatolog Treat., 30 (2019), pp. 598-604

Como citar este artigo: Miola AC, Ramos PM, Miot HA. Case for diagnosis. Cicatricial alopecia on the vertex ‐ Folliculitis decalvans and lichen planopilaris phenotypic spectrum. An Bras Dermatol. 2023;98:533–6.

Trabalho realizado no Ambulatório de Dermatologia, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil.

Copyright © 2023. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Download PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia
Article options
Tools
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.