Journal Information
Vol. 95. Issue 6.
Pages 751-753 (1 November 2020)
Visits
9284
Vol. 95. Issue 6.
Pages 751-753 (1 November 2020)
Qual o seu diagnóstico?
Open Access
Caso para diagnóstico. Úlcera fagedênica no tórax
Visits
9284
Isabella Lemos Baltazara,
Corresponding author
isabellalb@gmail.com

Autor para correspondência.
, Flávia Regina Ferreiraa,b, Mariana Galhardo Tressinoa, Fernanda da Rocha Gonçalvesc
a Serviço de Dermatologia, Hospital Municipal Universitário de Taubaté, Taubaté, SP, Brasil
b Departamento de Medicina, Universidade de Taubaté, Taubaté, SP, Brasil
c Hospital do Servidor Público Estadual, São Paulo, SP, Brasil
This item has received

Under a Creative Commons license
Article information
Abstract
Full Text
Bibliography
Download PDF
Statistics
Figures (3)
Show moreShow less
Resumo

A doença de Paget é um distúrbio raro do complexo aréolo‐mamilar que se caracteriza por lesão eritêmato‐descamativa e frequentemente associada ao carcinoma in situ ou invasivo da mama. É apresentado um caso atípico, exuberante, com evolução de oito anos, sendo ressaltada a importância do diagnóstico precoce.

Palavras‐chave:
Doença de Paget mamária
Mama
Neoplasias
Full Text
Relato do caso

Paciente do sexo feminino, 64 anos, parda, natural e procedente de Lorena (SP), com “ferida” no mamilo direito havia oito anos. Ao exame, apresentava úlcera fagedênica de cerca de 45cm no maior diâmetro, com bordas eritêmato‐violáceas, infiltradas e irregulares que envolviam desde a mama esquerda, hemitórax direito (onde se observa lesão tumoral e progressão da úlcera) até dorso à direita (fig. 1). Negava histórico familiar e pessoal de câncer da mama. Biópsias incisionais da borda da ulceração e da tumoração evidenciaram neoplasia maligna restrita à epiderme, exulcerada e caracterizada por presença de inúmeras células epidérmicas atípicas, isoladas, de núcleos volumosos e citoplasma claro (fig. 2). O painel imuno‐histoquímico foi negativo para receptores de estrogênio e progesterona e positivo 3+/3 (escore 3+) padrão membrana para c‐erbB‐2 e CK7 (fig. 3).

Figura 1.

Tórax e dorso à direita: úlcera extensa com bordas eritêmato‐violáceas, infiltradas e irregulares. Face lateral do tórax: tumoração de aspecto vegetante, eritematosa e ulcerada.

(0.12MB).
Figura 2.

Epiderme infiltrada por células epiteliais atípicas com citoplasma amplo e claro (Hematoxilina & eosina, 100×).

(0.27MB).
Figura 3.

Células epiteliais positivas para CK7 (Imuno‐histoquímica, 100×).

(0.15MB).
Qual o seu diagnóstico?

  • a)

    Carcinoma espinocelular

  • b)

    Metástase cutânea de câncer de mama

  • c)

    Doença de Paget

  • d)

    Pioderma gangrenoso

Discussão

A doença de Paget (DP) da mama é doença incomum, representando 0,5%‐5% de todos os carcinomas mamários.1 Ocorre normalmente em mulheres pós‐menopausa.2

Clinicamente, apresenta‐se como lesão eczematoide, eritematosa, com bordas irregulares, geralmente limitada ao mamilo ou estendida à aréola e, em casos avançados, também pode envolver a pele ao redor. Dor ou prurido são frequentes.3

Em 92%‐100% dos casos associa‐se a um câncer da mama subjacente.4,5 Aproximadamente 50% apresentam massa palpável na mama, geralmente associada a carcinoma.3,6 Pacientes que não apresentam massa palpável provavelmente têm carcinoma ductal in situ.7

A biópsia para exame histopatológico e imuno‐histoquímico é o padrão‐ouro para diagnóstico dessa dermatose.8

Histologicamente, o padrão clássico compreende grandes células intraepidérmicas ovais ou redondas com citoplasma claro e amplo, núcleos pleomórficos e hipercromáticos. As células de Paget são mais frequentemente localizadas na região basal da epiderme, em camadas únicas ou como aglomerados de células que formam estruturas semelhantes a glândulas ou ninhos.1,2

O perfil imuno‐histoquímico corrobora o diagnóstico e auxilia na diferenciação com outras entidades, além de esclarecer a célula de origem na DP. As células de Paget são positivas para CK7 em quase todos os casos e não são reativas para CK20. Frequentemente são negativas para os receptores de estrógeno e progesterona, porque os carcinomas subjacentes tendem a ser pouco diferenciados.1,8,9 A oncoproteína c‐erbB‐2 é superexpressa na maioria dos casos de DP da mama (> 90%), o que também foi observado no presente caso. Em muitos pacientes existe correlação entre a positividade da oncoproteína c‐erbB‐2 das células de Paget com o carcinoma intraductal subjacente in situ ou carcinoma invasivo da mama.10

Devido à similaridade clínica da DP com outras dermatoses, o diagnóstico diferencial deve ser feito com dermatite atópica ou de contato do mamilo, doença de Bowen, carcinoma basocelular superficial, melanoma extensivo superficial e psoríase, hipóteses que não se aplicam ao presente caso.6

Como regra geral, em qualquer dermatose crônica do mamilo ou aréola recomenda‐se que a pele seja histologicamente examinada para conclusão diagnóstica.6 O dermatologista e o ginecologista exercem papel fundamental no diagnóstico precoce da DP, podendo modificar o prognóstico dessas pacientes apenas por meio da valoração da queixa e de um exame físico completo.

O presente caso foi encaminhado para seguimento oncológico especializado.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Isabella Lemos Baltazar: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Flávia Regina Ferreira: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Mariana Galhardo Tressino: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.

Fernanda da Rocha Gonçalves: Aprovação da versão final do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Referências
[1]
C. Karakas.
Paget's disease of the breast.
J Carcinog., 10 (2011), pp. 31
[2]
A.C. Ascensão, M.S. Marques, M. Capitão-Mor.
Paget's disease of the nipple. Clinical and pathological review of 109 female patients.
Dermatologica., 170 (1985), pp. 170-179
[3]
G.H. Sakorafas, K. Blanchard, M.G. Sarr, D.R. Farley.
Paget's disease of the breast.
Cancer Treat Rev., 27 (2001), pp. 9-18
[4]
A.S. Kothari, N. Beechey-Newman, H. Hamed, I.S. Fentiman, C. D’Arrigo, A.M. Hanby, et al.
Paget disease of the nipple: A multifocal manifestation of higher‐risk disease.
Cancer., 95 (2002), pp. 1-7
[5]
D.R. Kollmorgen, J.S. Varanasi, S.B. Edge, W.E.3rd. Carson.
Paget's disease of the breast: a 33‐year experience.
J Am Coll Surg., 187 (1998), pp. 171-177
[6]
J. Kanitakis.
Mammary and extramammary Paget's disease.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 21 (2007), pp. 581-590
[7]
J.H. Yim, M.R. Wick, G.W. Philpott, J.A. Norton, G.M. Doherty.
Underlying pathology in mammary Paget's disease.
Ann Surg Oncol., 4 (1997), pp. 287-292
[8]
P.P. Rosen.
Paget's disease of the nipple Rosen's breast pathology.
2nd ed, Lippincott‐Raven, (2001),
[9]
D.X. Yao, S.A. Hoda, A. Chiu, L. Ring, P.P. Rosen.
Intraepidermal cytokeratin 7 immunoreactive cells in the non‐neoplastic nipple may represent interepithelial extension of lactiferous duct cells.
Histopathology., 40 (2002), pp. 230-236
[10]
R.A. Wolber, B.A. Dupuis, M.R. Wick.
Expression of c‐erbB‐2 oncoprotein in mammary and extrammamary Paget's disease.
Am J Clin Pathol., 96 (1991), pp. 243-247

Como citar este artigo: Baltazar IL, Ferreira FR, Tressino MG, Gonçalves FR. Case for diagnosis. Phagedenic ulcer on the thorax. An Bras Dermatol. 2020;95:751–3.

Trabalho realizado no Hospital Municipal Universitário de Taubaté, Taubaté, SP, Brasil.

Copyright © 2020. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Download PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia
Article options
Tools
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.