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Vol. 99. Issue 1.
Pages 148-149 (1 January 2024)
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Cartas ‐ Terapia
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Dermatose perfurante reacional adquirida tratada com sucesso com alopurinol
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Ana Gusmão Palmeiroa,
Corresponding author
apgalmeiro@gmail.com

Autor para correspondência.
, Maria João Gonçalvesb, Cristina Amaroa, Isabel Vianaa
a Departamento de Dermatologia, Hospital de Egas Moniz, Centro de Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
b Departamento de Reumatologia, Hospital de Egas Moniz, Centro de Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
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Prezado Editor,

As dermatoses perfurantes reacionais adquiridas (DPRA) são um grupo raro de doenças cutâneas caracterizadas pela eliminação transepidérmica de diversos materiais, como colágeno, elastina e queratina. Quando a eliminação ocorre por meio de uma estrutura folicular, é chamada de foliculite perfurante.1 As doenças sistêmicas mais comuns associadas à DPRA são diabetes mellitus e insuficiência renal, mas já foram relatadas associações com doenças infecciosas, inflamatórias e autoimunes, com possíveis desencadeantes incluindo vasculopatia imunológica no contexto de doença autoimune subjacente e microangiopatia dérmica causada pelo ato de coçar.

Os autores apresentam o caso de uma paciente do sexo feminino, de 54 anos, que recorreu ao Ambulatório de Dermatologia por dermatose pruriginosa com tempo de evolução desconhecido. A dermatose distribuía‐se difusa e bilateralmente nas coxas e nos cotovelos e era composta por pápulas eritemato‐violáceas umbilicadas com tampões hiperceratóticos aderentes centrais (fig. 1). Fenômeno de Koebner estava presente em algumas das lesões. A paciente tinha artrite reumatoide (AR), positiva para fator reumatoide e anticorpos antiproteína citrulinada, com controle insatisfatório utilizando 12,5mg de prednisolona diariamente. Ela nunca havia sido tratada com medicamentos biológicos e havia recentemente suspendido o uso de sulfasalazina em virtude de hepatotoxicidade. O exame de sangue revelou taxa de sedimentação de eritrócitos levemente elevada de 42mm/h (normal<29mm/h), mas a glicemia e a função renal estavam normais. Considerando as manifestações cutâneas associadas à AR, como dermatose neutrofílica reumatoide e dermatite granulomatosa intersticial, foi realizada biopsia por punch. A histopatologia revelou folículo piloso dilatado com ruptura infundibular, contendo restos de queratina e neutrófilos. A coloração pelo método de Verhoeff evidenciou que os materiais eliminados eram fibras elásticas e colágeno (fig. 2). Consequentemente, foi estabelecido o diagnóstico de foliculite perfurante.

Figura 1.

(A) Pápulas eritematosas na face anterior das coxas e joelhos. (B) Detalhe dos tampões hiperceratóticos aderentes centrais.

(0.23MB).
Figura 2.

Histopatologia da biopsia de pele mostrando eliminação folicular de fibras elásticas (mostradas em preto) e colágeno (estruturas eosinófilas; Verhoeff, 100×).

(0.55MB).

Após resposta sub‐ótima ao propionato de clobetasol tópico e anti‐histamínicos e diante da impossibilidade de realizar fototerapia com segurança (a paciente apresentava comprometimento auditivo e cognitivo), o uso de alopurinol 100mg/dia resultou em alívio sintomático considerável e resolução quase completa da dermatose, sem efeitos adversos. A paciente mantém acompanhamento regular nos ambulatórios de Dermatologia e Reumatologia e, desde então, iniciou o uso de abatacepte, um agente antirreumático modificador da doença.

Até o momento, não há diretrizes específicas baseadas em evidências sobre o tratamento da dermatose perfurante.2 Quando possível, a prioridade deve ser o controle da doença de base. Outras opções de tratamento incluem retinoides tópicos ou sistêmicos, antibióticos, glicocorticoides tópicos, intralesionais ou sistêmicos, anti‐histamínicos, cirurgia, fototerapia com ultravioleta B de banda estreita, PUVA (psoraleno+ultravioleta A) e alopurinol. O alopurinol pode ser tratamento válido e útil para DPRA, com resultados bem‐sucedidos apresentados em 14 relatos de casos e séries de casos, sem reações adversas.2–4 Seu mecanismo de ação exato é desconhecido, mas pode atuar por meio de seu efeito antioxidante em virtude da inibição da xantina oxidase. Uma revisão sistemática recente sugere o alopurinol como tratamento sistêmico de primeira linha, juntamente com anti‐histamínicos.2

Em conclusão, em virtude da raridade dessas doenças e da falta de diretrizes, o manejo da DPRA pode ser um desafio. Os autores apresentam rara associação de foliculite perfurante e AR, tratada com sucesso com alopurinol 100mg/dia. A presente experiência apoia o uso do alopurinol como tratamento seguro e eficaz para DPRA.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Ana Gusmão Palmeiro: Revisão crítica da literatura; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; obtenção, análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito; concepção e planejamento do estudo.

Maria João Gonçalves: Revisão crítica do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Cristina Amaro: Revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; concepção e planejamento do estudo.

Isabel Viana: Aprovação da versão final do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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T. Kawakami, M. Akiyama, A. Ishida-Yamamoto, H. Nakano, C. Mitoma, K. Yoneda, et al.
Clinical practice guide for the treatment of perforating dermatosis.
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J. Lukács, S. Schliemann, P. Elsner.
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J Dtsch Dermatol Ges., 16 (2018), pp. 825-842
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Acquired reactive perforating collagenosis and pseudoporphyric bullous dermatosis in a hemodialysis patient.
Hemodial Int., 20 (2016), pp. E14-E18
[4]
S. Valenzuela-Ubiña, D. Jiménez-Gallo, F.R. Torre, M. Linares-Barrios.
Elastosis perforans serpiginosa induced by d‐penicillamine treated with cyclosporine and allopurinol.
Dermatol Ther., 33 (2020), pp. e13692

Como citar este artigo: Palmeiro AG, Gonçalves MJ, Amaro C, Viana I. Acquired reactive perforating dermatosis successfully treated with allopurinol. An Bras Dermatol. 2024;99:148–9.

Trabalho realizado no Hospital de Egas Moniz, Centro de Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal.

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