Journal Information
Vol. 95. Issue 3.
Pages 347-350 (1 May 2020)
Visits
9574
Vol. 95. Issue 3.
Pages 347-350 (1 May 2020)
Dermatopatologia
Open Access
Histiocitose intravascular: relato de caso de doença rara provavelmente associada a prótese mamária de silicone
Visits
9574
Yasmin Gama Abuawad
Corresponding author
yasmin_gama@yahoo.com.br

Autor para correspondência.
, Ticiana de Andrade Castelo Branco Diniz, Priscila Kakizaki, Neusa Yuriko Sakai Valente
Departamento de Dermatologia, Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
This item has received

Under a Creative Commons license
Article information
Abstract
Full Text
Bibliography
Download PDF
Statistics
Figures (4)
Show moreShow less
Resumo

A histiocitose intravascular é condição rara, caracterizada por agregados de histiócitos no lúmen de vasos dilatados na derme. Trata‐se de afecção pouco conhecida e de diagnóstico essencialmente histopatológico e imuno‐histoquímico. Relatamos caso de mulher de 55 anos, com surgimento de manchas eritematovioláceas nas mamas, dorso e região proximal dos membros havia um ano e meio. Antecedente de carcinoma ductal na mama direita, submetida à mastectomia em 2006 e colocação de prótese de silicone em 2009. A hipótese clínica foi metástase telangiectásica de carcinoma de mama. A histopatologia evidenciou ectasia, trombose e recanalização de vasos na derme superior com histiócitos no interior. À imuno‐histoquímica as células intravasculares foram CD68+ e negativas para receptores de estrógeno e progesterona, CK7, EMA e AE1/AE3 e as endoteliais foram CD34+, levou ao diagnóstico de histiocitose intravascular.

Palavras chave:
Histiocitose
Imuno‐histoquímica
Próteses e implantes
Proliferação de células
Full Text
Introdução

A histiocitose intravascular é uma afecção rara, caracterizada pela presença de histiócitos no interior de vasos linfáticos dilatados na derme. Pode ser primária ou secundária a doenças sistêmicas como artrite reumatoide e a próteses metálicas. Sua patogênese ainda é desconhecida.

Relato do caso

Paciente do sexo feminino, 55 anos, referia surgimento de manchas eritematovioláceas, assintomáticas, nas mamas com progressão para dorso e região proximal dos membros havia um ano e meio (fig. 1). Apresentava antecedente de carcinoma ductal infiltrante na mama direita submetida à mastectomia em 2006, com uso de expansor e colocação de prótese de silicone em 2009. Foram feitas três biópsias cutâneas na mama esquerda e uma na coxa direita com hipótese clínica de metástase telangiectásica de carcinoma de mama e a histopatologia evidenciou ectasia, trombose e recanalização de vasos na derme superior com presença de células histiocitoides no lúmen (fig. 2). À imuno‐histoquímica, as células intravasculares foram negativas para CK7, EMA e AE1/AE3, exclui‐se a hipótese de metástase de câncer de mama e as células endoteliais foram CD34+ (fig. 3). Somente na última biópsia foi usado o anticorpo para CD68 (fig. 4) que veio positivo nas células intraluminais, levou ao diagnóstico de histiocitose intravascular.

Figura 1.

(A e B) Manchas eritematosas e violáceas nas mamas, abdome, braços e pernas.

(0.15MB).
Figura 2.

A, Hematoxilina & eosina, 100×: ectasia, trombose e recanalização de vasos na derme superior e presença de histiócitos dentro dos lúmens. B, Hematoxilina & eosina, 400×: detalhe dos histiócitos.

(0.19MB).
Figura 3.

Imuno‐histoquímica para CD 34 (400×): positiva nas células endoteliais dos vasos e negativa nas células intraluminais.

(0.11MB).
Figura 4.

A, Imuno‐histoquímica para CD68, 200×: positiva nas células intravasculares. B, Detalhe da Figura A, 400×.

(0.1MB).
Discussão

A histiocitose intravascular é uma entidade rara que foi descrita pela primeira vez em 1994. É caracterizada pela presença de histiócitos no interior de vasos linfáticos dilatados na derme papilar e reticular.1,2 Desde 2003, foi incluída no espectro da angiomatoses cutâneas reativas, juntamente com a angioendoteliomatose reativa. A histiocitose intravascular pode ser primária ou secundária principalmente à artrite reumatoide, porém também a outras doenças inflamatórias como a de Crohn, dermatomiosite gamopatia monoclonal, próteses metálicas, infecções crônicas e neoplasias, especialmente câncer de mama. Todavia, também há casos associados a câncer de cólon, melanoma, necrose vulvar e osteoartose.1,3

Afeta principalmente mulheres de 17 a 87 anos com média de 65. As lesões geralmente são limitadas e apresentam‐se como mácula, pápula ou placa eritematoviolácea isolada ou como lesão livedo reticular símile nos membros ou tronco, porém há relatos de lesões disseminadas. Quando associadas à artrite reumatoide, prótese metálica e osteoartrose, as lesões surgiram adjacentes à articulação implicada e quando associadas à neoplasia de mama surgiram na cicatriz da mastectomia.1,2

A patogênese da doença permanece desconhecida,4 porém esses achados sugerem que a migração de histiócitos pela reação inflamatória adjacente pode ser a chave para patogênese da doença. Requena et al. postularam que a histiocitose intravascular resultaria de linfangiectasia ou obstrução linfática por dano congênito ou adquirido por trauma, cirurgia, radiação ou infecções.2,5,6 Outra hipótese seria que a resposta inflamatória crônica levaria à estase e diminuição do clareamento de antígenos com disfunção imune e estimularia maior proliferação e agregação de histiócitos nos vasos linfáticos. O papel do TNF alfa também tem sido levantado na patogênese da doença, pela associação com artrite reumatoide e a outras desordens associadas a histiócitos, como reticulo‐histiocitose multicêntrica e dermatite granulomatosa intersticial.1,3 Os achados histopatológicos consistem em agregados de histiócitos CD68+ no interior de vasos linfáticos dilatados, identificados por podoplanina+, na derme papilar e reticular. O diagnóstico diferencial histopatológico com angioendoteliomatose reativa é controverso e alguns autores consideram as duas entidades como espectros diferentes do mesmo fenômeno, em que a presença de histiócitos intraluminais levaria a organização de microtrombos e proliferação endotelial.2,7 O carcinoma metastático telangiectático de mama é uma forma rara de metástase cutânea de neoplasia de mama, que se caracteriza pelo surgimento de manchas eritematosas com telangiectasias ou pela presença de linfangiomas circunscritos. À histopatologia apresenta proliferação intravascular de células tumorais que, apresentam à imuno‐histoquímica marcadores de estrógenos e progestágenos positivos, levaram a ectasia dos capilares dérmicos.8,9

O curso da histiocitose intravascular é crônico e de difícil tratamento. Nos casos secundários, é necessário o tratamento da doença de base. Em casos associados a próteses metálicas, alguns pacientes evoluíram para cura clínica após troca da prótese.1,2,10 Existem relatos de tratamento com infliximab, metotrexato, terapia compressiva, pentoxifilina, radioterapia, corticosteroides e tacrolimus tópicos com respostas variáveis e recidivas frequentes.1,2 O caso relatado apresentou quadro disseminado exuberante e possível associação com prótese mamária de silicone pelo início nas mamas, relação essa nunca citada na literatura.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Yasmin Gama Abuawad: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Ticiana de Andrade Castelo Branco Diniz: Concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Priscila Kakizaki: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Neusa Yuriko Sakai Valente: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Referências
[1]
E. Barba, C. Colato, G. Girolomoni.
Intralymphatic Histiocytosis: A case report and review of literature.
J Cutan Pathol., 42 (2015), pp. 593-599
[2]
L. Requena, L. El-Shabrawi-Caelen, S.N. Walsh, S. Segura, M. Ziemer, M.A. Hurt, et al.
Intralymphatic Histiocytosis. A Clinicopathologic Study of 16 Cases.
Am J Dermatopathol, 31 (2009), pp. 140-151
[3]
F. Bakr, N. Webber, H. Fassihi, V. Swale, F. Lewis, E. Rytina, et al.
Primary and secondary intralymphatic histiocytosis.
J Am Acad Dermatol., 70 (2014), pp. 927-933
[4]
D.Y. Rhee, D.W. Lee, S.E. Chang, M.W. Lee, J.H. Choi, K.C. Moon, et al.
Intravascular histiocytosis without rheumatoid arthritis.
J Dermatol., 35 (2008), pp. 691-693
[5]
V. Piccolo, L. Ruocco, T. Russo, A. Baroni.
A possible relationship between metal implant‐induced intralymphatic histiocytosis and the concept of the immunocompromised district.
Int J Dermatol., 53 (2014), pp. 347-366
[6]
M. Bidier, C. Hamsch, C. Kutzner, A. Enk, J.C. Hassel.
Two cases of intralymphatichistiocytosis following hip replacement.
J Dtsch Dermatol Ges., 13 (2015), pp. 700-702
[7]
S.E. Mazloom, A. Stallings, A. Kyei.
Differentiating intralymphatic histiocytosis, intravascular histiocytosis, and subtypes of reactive angioendotheliomatosis: review of clinical and histologic features of all cases reported to date.
Am J Dermatopathol., 39 (2017), pp. 33-39
[8]
A.G. Marneros, F. Blanco, S. Husain, D.N. Silvers, M.E. Grossman.
Classification of cutaneous intravascular breast cancer metastases based on immunolabeling for blood and lymph vessels.
J Am Acad Dermatol., 60 (2009), pp. 633-638
[9]
M.M. Shinohara, G. Tozbikian, J.T. Wolfe, S.J. Shin, C. Mies, R. Elenitsas.
Cutaneous metastatic breast carcinoma with clear cell features.
J Cutan Pathol., 40 (2013), pp. 753-757
[10]
M.M. Tang, N. Irla, D. Simon, H. Beltraminelli, L. Borradori.
Cutaneous reactive Angiomatosis with foreign body reaction after total knee replacement with a defective implant: a diagnostic challenge with a review of the literature.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 29 (2015), pp. 1029-1032

Como citar este artigo: Abuawad YG, Diniz TACB, Kakizaki P, Valente NYS. Intravascular histiocytosis: case report of a rare disease probably associated with silicone breast implant. An Bras Dermatol. 2020;95:347–50.

Trabalho realizado no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

Copyright © 2020. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Download PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia
Article options
Tools
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.