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Vol. 95. Issue 3.
Pages 390-391 (1 May 2020)
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Pages 390-391 (1 May 2020)
Carta – Caso clínico
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Micobacteriose atípica cutânea por M. fortuitum adquirida em ambiente domiciliar
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Dimitri Luz Felipe da Silva
Corresponding author
dimitriluzfs@gmail.com

Autor para correspondência.
, Letícia dos Santos Valandro, Paulo Eduardo Neves Ferreira Velho, Andréa Fernandes Eloy da Costa França
Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil
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Prezado Editor,

Trata‐se de mulher, branca, 54 anos, previamente hígida, que procurou o serviço de dermatologia com lesão nódulo‐cística eritematosa, de 2 cm, sem óstio de drenagem, localizada na face dorsal do 4° quirodáctilo esquerdo; associada a dor, edema e calor (fig. 1). A lesão surgiu quatro dias após trauma local quando fazia a limpeza do banheiro da sua residência. Negava febre ou outro sintoma sistêmico associado. Não houve melhora com o uso de antibióticos e corticoides orais. Foram levantadas as hipóteses de feo‐hifomicose, esporotricose e micobacteriose atípica, sendo realizadas biópsia da lesão e coleta do conteúdo líquido para cultura. O exame anatomopatológico evidenciou processo inflamatório crônico organizado, que ocupava toda a espessura da amostra, com pesquisa negativa para BAAR e fungos (fig. 2). Na cultura do material houve crescimento de Mycobacterium fortuitum, no meio Middlebrook 7H12. As sorologias para HIV, hepatites B e C e sífilis foram todas negativas. Após confirmação do agente etiológico, foi instituído tratamento com claritromicina (1g ao dia) e levofloxacino (1g ao dia), com posterior troca dessa última medicação para sulfametoxazol‐trimetoprim (1200 mg/240 mg a cada 12 horas), por intolerância gastrointestinal, levando à regressão completa da lesão após seis meses (fig. 3).

Figura 1.

Edema e eritema no quarto quirodáctilo direito.

(0.07MB).
Figura 2.

Processo inflamatório crônico organizado, com pesquisa negativa para BAAR e fungos (Hematoxilina & eosina, 40×).

(0.2MB).
Figura 3.

Resolução da inflamação após antibioticoterapia.

(0.11MB).

Micobactérias atípicas, também conhecidas como não tuberculosas (mycobacteria other than tuberculosis – MOTT), são bacilos álcool‐ácido resistentes, de crescimento lento em cultura e de comportamento muito peculiar, podendo ser saprófitas ou encontradas em animais, água e locais úmidos. As micobacterioses atípicas correspondem a 10% das infecções por micobactérias e acometem preferencialmente imunossuprimidos.1 O grupo das micobactérias de crescimento rápido (rapidly growing mycobacteria – RGM), assim denominadas pelo seu tempo de crescimento em ambiente de cultura de uma semana, pode ser encontrado nos mais diversos sítios. As três espécies mais relevantes são: M. fortuitum, M. chelonae e M. abscessus. O M. fortuitum está mais relacionado a infecções hospitalares em pacientes imunossuprimidos e pode acarretar infecções pulmonares, de tecidos moles e osso. O acometimento cutâneo está mais relacionado a situações pós‐operatórias e procedimentos estéticos invasivos.2 O presente caso corresponde à infecção cutânea por M. fortuitum em paciente imunocompetente, adquirido em ambiente domiciliar, possivelmente devido ao trauma em local de bastante umidade, tendo como diagnóstico diferencial o granuloma das piscinas, causado pelo M. marinum, devido às circunstâncias em que foi adquirida a infecção. O diagnóstico das micobacterioses atípicas é feito por meio do isolamento do agente em cultura, uma vez que os exames radiológico, histopatológico, PCR e clínico são, muitas vezes, inconclusivos. A história de infecção prolongada, sem melhora com diferentes tratamentos, podem levar à suspeita clínica. O tratamento deve ser prolongado e com antibióticos de largo espectro. O grupo dos macrolídeos em associação com quinolonas é um dos esquemas mais preconizados e por vezes necessita de intervenção cirúrgica.3,4 O presente relato reforça a necessidade de se lembrar das micobacterioses atípicas como parte do rol dos diagnósticos diferenciais de lesões cutâneas traumáticas, em especial quando tendem à cronicidade.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Dimitri Luz Felipe da Silva: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Letícia dos Santos Valandro: Concepção e planejamento do estudo; revisão crítica da literatura.

Paulo Eduardo Neves Ferreira Velho: Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Andréa Fernandes Eloy da Costa França: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Referências
[1]
J.R.W. Belda, N. Chiachio, J.R.P. Criado.
Tratado de Dermatologia.
2nd ed, Ed Atheneu, (2015),
[2]
S. Park, G.Y. Suh, M.P. Chung, H. Kim, O.J. Kwon, K.S. Lee, et al.
Clinical significance of Mycobacterium fortuitum isolated from respiratory specimens.
Respir Med., 102 (2008), pp. 437-442
[3]
A.C.G.O. Sousa, C.P. Pereira, N.S. Guimaraes, V.R. Rego, A.P. Paixão, J.R.A.A. Barbosa.
Atypical cutaneous mycobacteriosis following mesotherapy.
An Bras Dermatol., 76 (2001), pp. 711-715
[4]
N.D. Murback, M.G. Higa Júnior, M.A. Pompílio, E.S. Cury, G. Hans Filho, L.C. Takita.
Disseminated cutaneous atypical mycobacteriosis by M. chelonae after sclerotherapy of varicose veins in a immunocompetent patient: a case report.
An Bras Dermatol., 90 (2015), pp. 36-39

Como citar este artigo: Silva DLF, Valandro LS, Velho PENF, França AFEC. Atypical cutaneous mycobacteriosis caused by M. fortuitum acquired in domestic ambience. An Bras Dermatol. 2020;95:390–1.

Trabalho realizado no Hospital de Clínicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

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