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Vol. 98. Issue 6.
Pages 884-886 (1 November 2023)
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Cartas ‐ Terapia
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Pitiríase rubra pilar induzida pelo uso tópico de imiquimode 5%
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Lucia Armillas‐Lliterasa,
Corresponding author
armillaslucia@gmail.com

Autor para correspondência.
, Maribel Iglesias‐Sanchoa, Arcadi Altemira, Juan Antonio Moreno Romerob
a Departamento de Dermatologia, Hospital Universitari Sagrat Cor, Grupo Quirónsalud, Barcelona, Espanha
b Departamento de Dermatologia, Hospital General de Catalunya, Grupo Quirónsalud, Barcelona, Espanha
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Tabela 1. Relatos de casos de PRP associados ao uso tópico de imiquimode
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Prezado Editor,

A pitiríase rubra pilar (PRP) é dermatose inflamatória papuloescamosa rara cuja patogênese permanece incerta, mas acredita‐se que alguns medicamentos possam estar envolvidos.1 Quatro casos de PRP desencadeados por imiquimode foram relatados anteriormente.2–5

Paciente do sexo masculino, de 67 anos, sem antecedentes médicos relevantes, apresentou ceratoses actínicas múltiplas no tórax. Imiquimode 5% creme foi prescrito três vezes por semana. Na quarta semana de tratamento, o paciente desenvolveu lesões dolorosas e eritematosas no local da aplicação. Foi iniciado tratamento com corticosteroide tópico, e o tratamento com imiquimode foi suspenso. Entretanto, houve piora da erupção, com desenvolvimento de pápulas foliculares coalescentes de cor salmão, com descamação superficial, que se expandiram no sentido craniocaudal afetando o restante do corpo, com ilhas de regiões não afetadas (fig. 1). Também houve ocorrência de ceratodermia palmoplantar (fig. 2). O paciente apresentava sintomas semelhantes aos da gripe, como mialgia e febre. Os exames de sangue estavam dentro da normalidade. Foi realizada biópsia e a histopatologia revelou acantose psoriasiforme, tamponamento folicular com paraceratose nas bordas do orifício folicular e acantólise acentuada em múltiplas áreas. Os estudos de imunofluorescência foram negativos. Foi feito o diagnóstico clínico‐histopatológico de PRP. O paciente negava qualquer sintoma sugestivo do quadro atual, pelo que a etiologia do processo em curso foi atribuída ao tratamento com imiquimode. Acitretina oral foi introduzida na dose de 50mg/dia, obtendo resposta mantida após cinco meses de seguimento.

Figura 1.

Imagens clínicas e histopatológicas do paciente. (A) Placas cor de salmão com descamação superficial e áreas não afetadas. (B) Tamponamento folicular com paraceratose nas bordas do óstio folicular e área de acentuada acantólise (Hematoxilina & eosina, 100×)

(0.56MB).
Figura 2.

Imagem clínica de ceratodermia palmar

(0.16MB).

A PRP é um distúrbio da queratinização cuja patogênese permanece incerta. Foi postulado que poderia ser uma resposta imune exacerbada a gatilhos antigênicos. A via T‐helper 1 (Th1) é ativada, causando alteração na sinalização dos receptores de retinoides nos queratinócitos, bloqueando a ação da vitamina A e desenvolvendo um distúrbio da queratinização.2

Imiquimode é tratamento tópico aprovado para muitas doenças tumorais e virais. É agente estimulador da resposta imune, ligando‐se ao receptor Toll‐like (TLR)‐7, que ativa a via Th1, resultando em cascata pró‐inflamatória, como ocorre na PRP.3

Foram relatados mais quatro casos de PRP induzida por imiquimode com algumas características em comum (tabela 1). É notável que todos os casos tenham mostrado acantólise na microscopia óptica,2–5 embora tenha sido descrita em aproximadamente apenas 30% das biópsias de PRP em estudos anteriores.1 Foi relatado anteriormente que o imiquimode está envolvido no desenvolvimento de alterações acantolíticas com estudos de imunofluorescência direta negativos. Foi proposto que a acantólise poderia ser o resultado do aumento dos níveis de citocinas pró‐inflamatórias induzidas pelo imiquimode.4 Além disso, deve‐se ressaltar que a maioria dos pacientes apresentava sintomas sistêmicos.5 A maioria deles mostrou excelente resposta aos tratamentos convencionais, sugerindo que a PRP induzida por imiquimode provavelmente tenha prognóstico favorável.2–5

Tabela 1.

Relatos de casos de PRP associados ao uso tópico de imiquimode

N°  Referência  Idade/sexo  História de PRP  % de imiquimode  Dermatose anterior  Sintomas sistêmicos  Acantólise  Tratamento  Tempo até recuperação 
Yang et al.3  67/M  Sim  5%  Ceratose actínica  Sim  Sim  Acitretina  6 meses 
Gómez‐Moyano et al.5  56/M  Não  5%  Carcinoma basocelular superficial  Sim  Sim  Acitretina  2 meses 
Atanaskova Mesinkovska et al.4  65/M  Não  3,75%  Ceratose actínica  Não  Sim  UVB nb  Permanece com lesões 
Leite et al.2  60/F  Não  5%  Ceratose actínica  Sim  Sim  Metotrexato  9 meses 
a  67/M  Não  5%  Ceratose actínica  Sim  Sim  Acitretina  5 meses 

F, feminino; M, masculino; PRP, pitiríase rubra pilar.

a

Caso relatado no presente artigo.

Outras dermatoses inflamatórias que podem se desenvolver ou ser exacerbadas com o uso tópico de imiquimode foram relatadas, como erupções psoriasiformes, lesões semelhantes ao pênfigo, eritema multiforme, lúpus subagudo, líquen plano e despigmentação semelhante ao vitiligo.2 Assim, o papel pró‐inflamatório sistêmico do imiquimode parece ser reforçado.

O imiquimode, como tratamento estimulador da resposta imune, pode ter efeito sistêmico, aumentando os níveis de citocinas pró‐inflamatórias e a resposta Th1, resultando no desenvolvimento de PRP. Deve‐se considerar o imiquimode tratamento útil para muitas doenças dermatológicas, mas devemos estar cientes do risco de aparecimento e exacerbação de dermatoses inflamatórias.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Lucia Armillas‐Lliteras: Contribuições substanciais para a concepção e planejamento do estudo; obtenção de dados; análise e interpretação dos dados; redação e revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito; concorda em ser responsável por todos os aspectos do trabalho.

Maribel Iglesias‐Sancho: Contribuições substanciais para a concepção e planejamento do estudo; obtenção de dados; análise e interpretação dos dados; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito; concorda em ser responsável por todos os aspectos do trabalho.

Arcadi Altemir: Contribuições substanciais para a concepção e planejamento do estudo; obtenção de dados; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito; concorda em ser responsável por todos os aspectos do trabalho.

Juan Antonio Moreno‐Romero: Contribuições substanciais para a concepção e planejamento do estudo; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito; concorda em ser responsável por todos os aspectos do trabalho.

Conflito de interesses

Nenhum.

Agradecimentos

O paciente descrito neste manuscrito deu o consentimento informado por escrito para a publicação dos detalhes de seu caso.

Referências
[1]
D. Wang, V.C.-L. Chong, W.-S. Chong, H.H. Oon.
A review on pityriasis rubra pilaris.
Am J Clin Dermatol., 19 (2018), pp. 377-390
[2]
O.G. Leite, S. Tagliolatto, E.M. Souza, M.L. Cintra.
Acantholytic pityriasis rubra pilaris associated with topical use of imiquimod 5%: case report and literature review.
An Bras Dermatol., 95 (2020), pp. 63-66
[3]
F.C. Yang, C. Jessup, M. Dahiya, R. Reynolds.
Pityriasis rubra pilaris exacerbation with topical use of imiquimod.
Int J Dermatol., 47 (2008), pp. 1076-1078
[4]
N.A. Mesinkovska, D. Dawes, A. Sood, W. Bergfeld.
Acantholytic pityriasis rubra pilaris associated with imiquimod 3.75% application.
Case Rep Dermatol Med., 2011 (2011), pp. 412684
[5]
E. Gómez-Moyano, A. Crespo-Erchiga, A.V. Casaño, A. Sanz Trelles.
Pityriasis rubra pilaris with focal acantholytic dyskeratosis during treatment with imiquimod 5% cream.
Actas Dermosifiliogr., 101 (2010), pp. 898-900

Como citar este artigo: Armillas‐Lliteras L, Iglesias‐Sancho M, Altemir A, Moreno Romero JA. Pityriasis rubra pilaris induced by topical use of imiquimod 5%. An Bras Dermatol. 2023;98:884–6.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Hospital Universitario Sagrat Cor, Grupo Quirónsalud, Barcelona, Espanha.

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