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Vol. 99. Issue 6.
Pages 978-980 (1 November 2024)
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Cartas ‐ Dermatopatologia
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Poroma apócrino: caso de múltiplas lesões
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Natalia Scardua Mariano Alves
Corresponding author
nataliascardua@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Bianca Cristina Dantas, Luana Rytholz Castro, Bethânia Cabral Cavalli Swiczar, Neusa Yuriko Sakai Valente
Departamento de Dermatologia, Hospital do Servidor Público Estadual, São Paulo, SP, Brasil
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Prezado Editor,

O poroma apócrino é tumor anexial benigno extremamente raro. Tradicionalmente, os poromas são classificados como écrinos. Entretanto, existem alguns relatos que descrevem tumores poroides com diferenciação sebácea, folicular e apócrina.1,2 A identificação e descrição mais tardia desse grupo possivelmente é justificada pela semelhança histológica entre os ductos dessas glândulas, senão completamente idênticos, apesar de as glândulas écrinas e apócrinas serem histologicamente diferentes.3,4 Em 1981, Grosshans et al.4 descreveram, pela primeira vez, poromas com diferenciação sebácea e apócrina, classificando esse grupo como “adenomas infundibulares”. Posteriormente, novas designações foram sugeridas para os mesmos achados histológicos: “adenoma anexial poroma‐like”;5 “adenoma sebócrinio” ou “análogo apócrino‐sebáceo”;1 e por fim “poroma apócrino”.3

As estruturas apócrinas têm a mesma origem embrionária do sistema pilossebáceo e se desenvolvem como unidade única. Em contrapartida, a glândula écrina e seu ducto desenvolvem‐se a partir de outro botão epitelial.5,6 Portanto, considerando a origem embriológica comum da unidade folículo‐sebácea‐apócrina, o termo “poroma apócrino” firmou‐se como o mais apropriado para tumores anexiais como este descrito.

Este caso é apresentado como relato de caso de tumor cutâneo anexial pouco conhecido, que apresenta características clínicas e diferenciações histológicas de derivação apócrina. É o segundo relato de múltiplos poromas apócrinos em um único paciente.

Paciente do sexo feminino, 64 anos, apresentando cinco lesões assintomáticas dispersas no tronco que surgiram de maneira lenta e progressiva nos últimos dois anos. A paciente não fez uso de nenhuma medicação, oral ou tópica, ou realizou qualquer procedimento prévio.

O exame físico evidenciou lesões vegetantes eritematovioláceas, a maior com 1,5cm no seu maior diâmetro e a menor com 0,5cm, com bordas irregulares, superfície granular e leve projeção no dorso médio (duas lesões), em quadrante superior lateral de mama direita (uma lesão), em hipogástrio (uma lesão) e no flanco esquerdo (uma lesão) (fig. 1). Carcinoma metastático de mama, melanoma e hemangioma foram aventados como diagnósticos diferenciais.

Figura 1.

(A) Poromas apócrinos no dorso, aparência clínica. Lesões vegetantes eritematovioláceas, superfície granular e leve projeção. (B) Poroma apócrino, apresentação dermatoscópica.

(0.19MB).

A biopsia incisional foi realizada em duas das lesões descritas. A histopatologia revelou proliferação de células basaloides sem atipias, em traves anastomosadas conectadas à epiderme, com formação de lúmens glandulares de tamanhos variados com projeções papilíferas do revestimento (figs. 2 e 3). Os lúmens glandulares evidenciaram epitélio de revestimento com secreção por decapitação, característica do apócrino (fig. 4).

Figura 2.

Poroma apócrino: proliferação de células basaloides sem atipias, em traves anastomosadas conectadas à epiderme com formação de lúmens glandulares (Hematoxilina & eosina, 40×).

(0.33MB).
Figura 3.

Poroma apócrino: proliferação de células basaloides sem atipias formando lúmens glandulares com projeções papilíferas do revestimento (Hematoxilina & eosina, 100×).

(0.27MB).
Figura 4.

Poroma apócrino: lúmen glandular revestido por epitélio apócrino com secreção por decapitação (Hematoxilina & eosina, 400×).

(0.15MB).

Embora casos separados de poroma apócrino6–8 e alguns relatos de casos de múltiplos poromas écrinos,9 até onde sabemos esse é o segundo relato de poromas apócrinos múltiplos em um único paciente – o primeiro caso foi descrito em 2015, no Japão.10

A análise microscópica do presente caso apresentou células basaloides sem atipias em traves anastomosadas conectadas à epiderme, com formação de lúmens glandulares com secreção por decapitação, o que direcionou o diagnóstico do poroma como de origem apócrina. Também foi identificada, no tumor, a presença de sebócitos e conexão com folículo piloso, o que reforça a diferenciação apócrina. A imuno‐histoquímica evidenciou pesquisa por anticorpos para antígenos da membrana epitelial (EMA) positivo e antígeno carcinoembrionário (CEA) negativo.

Quanto à transformação maligna, porocarcinoma com diferenciação apócrina ainda não foi descrito na literatura. No entanto, Requena et al.3 relatam que os porocarcinomas podem ter continuidade com os infundíbulos, indicando origem apócrina. Presumem ainda que, apesar de a maioria das neoplasias poroides ser descrita écrina, a transdiferenciação de células poroides malignas progrediu a tal ponto que uma distinção entre origem écrina e apócrina não é possível na maioria dos casos.3 É razoável supor que os poromas apócrinos podem potencialmente sofrer transformação maligna. Por essas razões, todos os poromas, incluindo os de derivação apócrina, devem ser completamente excisados.

Por fim, vale reforçar a importância de relatos de casos de poromas apócrinos, visto que à medida que os poromas e os porocarcinomas se tornam cada vez mais reconhecidos como de origem também apócrina, é possível que as diferenças clínicas, histológicas e prognósticas dos tumores de origem écrina e apócrina tornem‐se cada vez mais possíveis e conhecidas.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Natalia Scardua Mariano Alves: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Bianca Cristina Dantas: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Luana Rytholz Castro: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Bethânia Cabral Cavalli Swiczar: Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.

Neusa Yuriko Sakai Valente: Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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Sebocrine adenoma An adnexal adenoma with sebaceous and apocrine poroma‐like differentiation.
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Philadelphia: Lippincott‐Raven, (1998), pp. 545-561
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E. Grosshans, D. Hanau.
The infundibular adenoma: a follicular poroma with sebaceous and apocrine differentiation (author's transl).
Ann Dermatol Venereol., 108 (1981), pp. 59-66
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D. Hanau, E. Grosshans, G. Laplanche.
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Br J Dermatol., 147 (2002), pp. 825-827
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Cytokeratin expression of apocrine and eccrine poromas with special reference to its expression in cuticular cells.
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Arch Dermatol., 101 (1970), pp. 606-608
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M. Nishioka, M. Kunisada, N. Fujiwara, M. Oka, Y. Funasaka, C. Nishigori.
Multiple apocrine poromas: a new case report.
J Cutan Pathol., 42 (2015), pp. 894-896

Como citar este artigo: Alves NSM, Dantas BC, Castro LR, Swiczar BCC, Valente NYS. Apocrine poroma: a case with multiple lesions. An Bras Dermatol. 2024;99:978–80.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Hospital do Servidor Público Estadual, São Paulo, SP, Brasil.

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