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Vol. 98. Issue 2.
Pages 259-261 (1 March 2023)
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Vol. 98. Issue 2.
Pages 259-261 (1 March 2023)
Carta – Caso Clínico
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Regressão espontânea de carcinoma de células de Merkel com detecção positiva de poliomavírus de células de Merkel por PCR e imuno‐histoquímica
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Thiago Rubim Bellotta,
Corresponding author
thiagogorbbn@gmail.com

Autor para correspondência.
, Flávio Barbosa Luzb, Rafael Brandão Varellac, Mayra Carrijo Rochaela
a Departamento de Patologia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil
b Departamento de Dermatologia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil
c Departamento de Microbiologia e Parasitologia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil
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Prezado Editor,

O carcinoma de células de Merkel (CCM) é neoplasia cutânea rara, caracterizada pela proliferação de células anaplásicas, com curso clínico agressivo. É diagnosticada com maior frequência em homens caucasianos após a sétima década de vida e em imunossuprimidos.1

Em 2008, Feng et al. observaram o DNA de um novo poliomavírus em 8 de 10 CCM, nomeado de poliomavírus de células de Merkel (MCPyV). O DNA viral estava integrado ao DNA das células tumorais em padrão clonal, sugerindo que a infecção viral precedeu a expansão clonal dessas células.2

Um paciente de 76 anos de idade referiu nódulos de crescimento rápido na perna, com oito semanas de evolução. Exame físico demonstrou nódulo firme, eritematoso, semiesférico, medindo 4 cm na perna esquerda, circundado por lesões satélites semelhantes (fig. 1A). Esses achados regrediram substancialmente três semanas após a realização de biópsia em shave da lesão principal (fig. 1B).

Figura 1.

Lesão tumoral na perna esquerda, antes e após biópsia em shave. (A) Nódulo vermelho, firme, de 4 cm na perna esquerda, com pápulas similares adjacentes, antes de se realizar biópsia em shave. (B) Achados clínicos de regressão tumoral, três semanas após a realização de biópsia em shave.

(0.51MB).

A histopatologia demonstrou tumor de crescimento dérmico com vasta proliferação composta por pequenas células basofílicas, com nucléolos ovoides, largos e hipercromáticos, e cromatina finamente dispersa (fig. 2A). A imuno‐histoquímica foi positiva para CK20, com padrão em pontos perinucleares (dot‐like), e cromogranina A (fig. 2B,C), e negativa para TTF‐1 e CK7, confirmando o diagnóstico de CCM. O DNA do MCPyV foi detectado por PCR, e o antígeno viral T maior foi detectado pela positividade nuclear na imuno‐histoquímica utilizando‐se anticorpo monoclonal CM2B (fig. 2D). Apesar da regressão parcial apresentada, uma excisão cirúrgica com margens amplas foi realizada, não havendo recidiva do quadro após dois anos de seguimento. O laudo histopatológico final ainda continha neoplasia residual delimitada por traves de tecido conjuntivo e fibrose dérmica.

Figura 2.

Coloração histológica e imuno‐histoquímica. (A) Proliferação composta por pequenas células basofílicas, com nucléolos ovoides, largos e hipercromáticos, com a cromatina finamente dispersa (Hematoxilina & eosina, 400×). (B) Imuno‐histoquímica positiva para CK20 com o padrão em pontos perinucleares (“dot‐like”), 400×. (C) Imuno‐histoquímica positiva para cromogranina A, 400×. (D) Imuno‐histoquímica com positividade nuclear para o MCPyV (anticorpo monoclonal CM2B), 40×.

(1.32MB).

Apesar de não existir protocolo padrão, o tratamento se baseia em excisão com margens amplas para doença localizada ou loco‐regional, com radioterapia adjuvante para tumores de grandes dimensões. Quando há metástases à distância, associam‐se rádio e quimioterapia adjuvante.1

A patogênese do CCM é considerada multifatorial. Estudos reportaram mutação da P53 e altos níveis de expressão do proto‐oncogene bcl2 nas células tumorais, corroborando com a rápida expansão e crescimento tumoral.1,3

A regressão espontânea do CCM é rara e foi descrita em 1986, com menos de 40 casos similares reportados desde então. Regressões após biópsia ou excisão incompleta também foram descritas, podendo ser derivadas da ativação da resposta imunológica mediada por células T após o trauma cirúrgico, apesar de esses mecanismos exatos permanecerem desconhecidos.4

Ao contrário do que ocorre no melanoma, os casos relatados de CCM com regressão espontânea usualmente apresentaram melhor prognóstico e evoluíram para a cura.5

Pensa‐se que a presença do MCPyV no CCM estimule o desencadeamento da resposta imunológica contra os antígenos virais e as células tumorais.5 Considerando‐se a presença do MCPyV neste relato, postula‐se que a exposição antigênica viral após a biopsia possa ter desencadeado a ativação imunológica do hospedeiro e a regressão tumoral.

Em conclusão, este relato tem por objetivo atrair a atenção para a rara possibilidade de regressão espontânea do CCM e sua associação com o MCPyV.

Suporte financeiro

FUNADERM (Fundo de Apoio à Dermatologia) em 2019.

Contribuição dos autores

Thiago Rubim Batista Bellott Nascimento: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Flávio Barbosa Luz: Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica do manuscrito.

Rafael Brandão Varella: Aprovação da versão final do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica do manuscrito.

Mayra Carrijo Rochael: Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
H.H. Wong, J. Wang.
Merkel cell carcinoma.
Arch Pathol Lab Med., 134 (2010), pp. 1711-1716
[2]
H. Feng, M. Shuda, Y. Chang, P.S. Moore.
Clonal integration of a polyomavirus in human Merkel cell carcinoma.
Science., 319 (2008), pp. 1096-1100
[3]
J.C. Becker, C.S. Kauczok, S. Ugurel, S. Eib, E.B. Bröcker, R. Houben.
Merkel cell carcinoma: molecular pathogenesis, clinical features and therapy.
J Dtsch Dermatol Ges., 6 (2008), pp. 709-719
[4]
C. Pang, D. Sharma, T. Sankar.
Spontaneous regression of Merkel cell carcinoma: A case report and review of the literature.
Int J Surg Case Rep., 7 (2015), pp. 104-108
[5]
N.M. Walsh.
Complete spontaneous regression of Merkel cell carcinoma (1986‐2016): a 30‐year perspective.
J Cutan Pathol., 43 (2016), pp. 1150-1154

Como citar este artigo: Bellott TR, Luz FB, Varella RB, Rochael MC. Spontaneous regression of Merkel Cell Carcinoma with positive detection of Merkel Cell Polyomavirus by PCR and Immunohistochemistry. An Bras Dermatol. 2023;98:268–70.

Trabalho realizado no Departamento de Patologia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil.

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