Journal Information
Vol. 96. Issue 2.
Pages 255-256 (1 March 2021)
Visits
7534
Vol. 96. Issue 2.
Pages 255-256 (1 March 2021)
Carta ‐ Caso clínico
Open Access
Siringofibroadenoma écrino reativo desencadeado por dano térmico: relato de caso
Visits
7534
Roberto Rheingantz da Cunha Filhoa,
Corresponding author
robertodermatologista@yahoo.com.br

Autor para correspondência.
, Lucas José Quiocab, Graziela Junges Crescente Rastellic, José Fillus Netod
a Faculdade de Medicina, Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, SC, Brasil
b Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, SC, Brasil
c Departamento de Patologia, Faculdade Evangélica Mackenzie Paraná, Curitiba, PR, Brasil
d Departamento de Patologia Básica, Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil
This item has received

Under a Creative Commons license
Article information
Full Text
Bibliography
Download PDF
Statistics
Figures (3)
Show moreShow less
Full Text
Prezado Editor,

O siringofibroadenoma écrino (SFAE) é um tumor raro que consiste da proliferação de estruturas ductais que se assemelham à porção acral das glândulas sudoríparas écrinas. Foi descrito por Mascaró em 1963, e há na literatura pouco mais de 70 casos publicados.1,2 Embora histologicamente distinto, a apresentação clínica do SFAE é variável, desde uma pápula, placa ou nódulo solitário até múltiplas lesões, com predileção pelas extremidades de pacientes mais idosos.2,3 Não há consenso quanto a sua patogênese: tumor, hamartoma ou hiperplasia reacional.4 Este relato agrega aspectos inéditos, visto que demonstra a associação do SFAE ao dano térmico e o tratamento exitoso por meio de corticoide tópico.

Paciente do sexo masculino, 71 anos de idade, aposentado e sem comorbidades. Referia uso de emplastro tipo térmico que gera calor, constituído por pó de ferro, carbono ativado, vermiculite, cloreto de potássio e água (Fenaflan Patch®) para tratar dor na região lateral da coxa direita. Entretanto, teve reação local com ardência e queimação, retirando o emplastro antes do tempo indicado. Nos dias seguintes, desenvolveu pápulas e placa vegetante, eritematosas, por vezes friáveis e com sangramento, com leve prurido. Progrediu durante três meses, atingindo o tamanho de 4cm (fig. 1). Foi realizada biópsia com punch de 5mm. O exame anatomopatológico evidenciou cordões epiteliais anastomosantes de células cuboides formando trabéculas embebidas em estroma fibroso e mixoide bastante vascularizado partindo da epiderme à derme profunda. O diagnóstico de SFAE do tipo reativo foi firmado (figs. 2 e 3).

Figura 1.

Placa vegetante e pápulas eritematosas e rosadas agrupadas na região lateral da coxa direita.

(0.05MB).
Figura 2.

Exame anatomopatológico: cordões epiteliais anastomosantes de células cuboides formando trabéculas em estroma fibroso que partem da epiderme à derme profunda (Hematoxilina & eosina, 20×).

(0.06MB).
Figura 3.

Exame anatomopatológico: estroma fibroso na derme média e profunda (Hematoxilina & eosina, 100×).

(0.14MB).

Foi administrado clobetasol em creme 0,05% com aplicação oclusiva uma vez ao dia por 20 dias, com resposta plenamente efetiva, permanecendo eritema residual do tipo pós‐inflamatório que se resolveu totalmente em poucos meses.

A classificação mais atual do SFAE admite cinco subtipos: solitário; múltiplos sem alterações cutâneas; nevoide associado à displasia ectodérmica; múltiplo associado à síndrome de Schopf; e reativo associado a dermatoses neoplásicas ou inflamatórias.3 Há, na literatura, descrição ocasional com outras entidades, tanto inflamatórias quanto neoplásicas, incluindo penfigoide bolhoso, líquen plano erosivo palmoplantar, psoríase, sífilis congênita, nevo sebáceo, úlcera cutânea crônica, carcinoma basocelular e espinocelular.2

O tipo reativo provavelmente é desencadeado a partir de dano tecidual, e no processo de reparo e remodelamento ocorre hiperplasia responsiva ao agravo.3 Todavia, não há relatos associando o SFAE após injúrias térmicas como fator desencadeante – de nosso conhecimento, este é o primeiro relato.

A confirmação diagnóstica é através da histopatologia, e os ductos écrinos podem ou não ser visualizados. A imuno‐histoquímica pode auxiliar em casos difíceis onde as células são frequentemente positivas para queratina 6 e 19, assim como filagrina.2

Não há consenso quanto ao tratamento. Há relatos de terapia com etretinato, cirurgia, radioterapia e laser; entretanto, não há relatos de tratamento com clobetasol ou outros corticoides de uso tópico.5 A resolução do presente caso ocorreu muito rapidamente, com regressão total em apenas 20 dias. Provavelmente, a conjunção dos efeitos anti‐inflamatório, antiproliferativo, vasoconstritor e de redução de atividade mitótica que o corticoide promove foram determinantes para a resposta efetiva da terapia.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Roberto Rheingantz da Cunha Filho: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Lucas José Quioca: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Graziela Junges Crescente Rastelli: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

José Fillus Neto: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
H.L. Tey, W.S. Chong, S.N. Wong.
Leprosy‐associated eccrine syringofibroadenoma of Mascaro.
Clin Exp Dermatol., 32 (2007), pp. 533-535
[2]
P. LeBoit, G. Burg, D. Weedon, A. Sarasain.
(orgs.). World Health Organization Classification of Tumours: Pathology and Genetics os Skin Tumours.
IARC Press, (2006),
[3]
L.E. French, E. Masgrau, P. Chavaz, J.-H. Saurat.
Eccrine Syringofibroadenoma in a patient with erosive palmoplantar lichen planus.
Dermatology., 195 (1997), pp. 399-401
[4]
I.W. Mattoch, N. Pham, J.B. Robbins, J. Bogomilsky, M. Tandon, S. Kohler.
Reactive eccrine syringofibroadenoma arising in peristomal skin: An unusual presentation of a rare lesion.
J Am Acad Dermatol., 58 (2008), pp. 691-696
[5]
A.G. Morganti, F.R. Martone, G. Macchia, A. Carbone, G. Massi, M. de Ninno, et al.
Eccrine syringofibroadenoma radiation treatment of an unusual presentation.
Dermatol Ther., (2010), pp. S20-S23

Como citar este artigo: Cunha Filho RR, Quioca LJ, Rastelli GJC, Fillus Neto J. Reactive eccrine syringofibroadenoma triggered by thermal damage: case report. An Bras Dermatol. 2021;96:255–6.

Trabalho realizado na Universidade do Oeste de Santa Catarina, Campus de Joaçaba, SC, Brasil.

Copyright © 2021. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Download PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia
Article options
Tools
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.