Compartilhar
Informação da revista
Vol. 95. Núm. 6.
Páginas 771-773 (1 novembro 2020)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
12157
Vol. 95. Núm. 6.
Páginas 771-773 (1 novembro 2020)
Carta – Caso clínico
Open Access
Ceratoses seborreicas múltiplas em local previamente irradiado
Visitas
12157
Danielle Ferreira Chagas
Autor para correspondência
daaani__@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Lúcia Martins Diniz, Bruna Anjos Badaró, Elton Almeida Lucas
Serviço de Dermatologia, Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, Vitória, ES, Brasil
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (3)
Mostrar maisMostrar menos
Texto Completo
Prezado Editor,

Câncer da mama é o segundo tipo de neoplasia maligna mais frequente no mundo. No Brasil, foram estimados 59.700 novos casos para 2019.1 Esse tipo de câncer acomete predominantemente mulheres de 50 anos e o subtipo histológico mais comum é o adenocarcinoma ductal invasivo.1

O tratamento do câncer da mama está associado a queixas dermatológicas em 74%‐100% dos casos.2 A terapêutica envolve cirurgia e radioterapia locorregional, além de quimioterapia e hormonioterapia como tratamento sistêmico.3

Ceratose seborreica é o tumor benigno cutâneo mais comum, predominando nos adultos brancos. Tem origem na epiderme, em que se observa proliferação de queratinócitos imaturos. Clinicamente, é caracterizada por pápulas acastanhadas, bem delimitadas, de superfície untuosa.4,5 A partir da suspeição clínica, a dermatoscopia auxilia e o exame histopatológico confirma o diagnóstico.5

Descreve‐se um caso de múltiplas ceratoses seborreicas restritas ao local de radioterapia prévia devido a câncer na mama.

Paciente do sexo feminino, 73 anos, branca, foi diagnosticada, há quatro anos, com carcinoma micropapilar invasivo na mama esquerda, requerendo intervenção cirúrgica (quadrantectomia), quimioterapia (adriamicina, ciclofosfamida e paclitaxel) e 30 sessões de radioterapia adjuvante. Havia seis meses, notara o aparecimento de pápulas acastanhadas, assintomáticas, de evolução lenta, restritas à pele adjacente à cicatriz cirúrgica, área previamente irradiada (figs. 1 e 2). Em 2019, buscou atendimento dermatológico, quando foram evidenciadas, ao exame clínico e dermatoscopia, lesões sugestivas de ceratoses seborreicas apenas na mama esquerda. No momento, a paciente está em remissão da doença e acompanhamento clínico semestral. A histopatologia de uma lesão foi compatível com o diagnóstico, pela presença de células basaloides, hiperceratose e formação de pseudocistos córneos (fig. 3).

Figura 1.

Múltiplas ceratoses seborreicas localizadas apenas no local prévio de irradiação.

(0.07MB).
Figura 2.

Detalhe das múltiplas pápulas acastanhadas, arredondadas, bem delimitadas e de superfície untuosa, que acometem apenas a mama esquerda.

(0.09MB).
Figura 3.

Histopatologia de uma das lesões da mama evidencia proliferação de células basaloides, uniformes, alongamento dos cones interpapilares e hiperceratose. Observam‐se, ainda, pseudocistos de queratina e hiperpigmentação melânica da epiderme (Hematoxilina & eosina, 10×).

(0.12MB).

O câncer da mama foi diagnosticado em mais de 1,3 milhão de pessoas no mundo até 2015.1 O subtipo micropapilar invasivo, diagnosticado neste caso, é raro, representa 0,9%‐2% dos carcinomas de mama e está associado a características clinicopatológicas agressivas.1

A radioterapia ocasiona inúmeros efeitos no tecido cutâneo, variando entre agudos (até seis meses após o início da terapia) ou crônicos; a depender da localização, do tamanho e da profundidade do tumor irradiado, são classificados como leve, moderado ou grave.2,3,5 A paciente apresentava os sintomas crônicos.

A gravidade da lesão cutânea determinada pela radiação é dependente de fatores relacionados ao tratamento e ao paciente.2 Os ligados à terapia incluem a dose total e o local de irradiação, tempo de fracionamento, volume e área de tecido irradiado e adição de quimioterapia.2,3 Entre os associados ao paciente, destacam‐se tabagismo, desnutrição, obesidade, doenças autoimunes e fatores genéticos.2,3 Os únicos encontrados na paciente foram múltiplas sessões de radioterapia e quimioterapia.

O sinal de Leser‐Trélat é raro, caracterizado por erupção abrupta de múltiplas ceratoses seborreicas, geralmente no dorso, e pode preceder ou ocorrer após o diagnóstico da malignidade, em especial adenocarcinoma de pulmão e gastrintestinal.4 A paciente apresentava lesões de surgimento progressivo apenas no local irradiado.

O mecanismo da lesão determinado pela radiação não é totalmente conhecido, mas sabe‐se que a pele é um órgão em constante renovação, constituído por células de rápida proliferação e maturação, que a torna vulnerável a essa terapia.2 Os queratinócitos basais e folículos pilosos são altamente radiossensíveis. Além disso, a lesão por radiação causa inflamação, recrutamento celular, dano ao DNA e geração de citocinas.3,5

A etiologia da ceratose seborreica permanece desconhecida. Recentemente, tem‐se postulado que fatores de crescimento epidérmico (oncogenes − PIK3CA e o receptor 3 do fator de crescimento de fibroblastos − FIGR3) participariam em 32% e 48% dos casos, respectivamente. Estudos recentes mostram que outros oncogenes (TERT e DPH3) também estão envolvidos na gênese das lesões.5

Os eczemas e a quimioterapia podem desencadear inflamação ou aumento das ceratoses seborreicas preexistentes, diferentemente do caso apresentado.3

O diagnóstico da ceratose seborreica é clínico e a dermatoscopia é útil para a diferenciação de outras lesões pigmentadas. O padrão dermatoscópico é polimórfico e o achado mais característico são os pseudocistos córneos, visualizados no caso. Quando há dúvida diagnóstica, a histopatologia torna‐se indispensável.5 Na paciente, devido à presença de múltiplas lesões, optou‐se pela exérese de uma delas e envio do material para histopatologia, que confirmou o diagnóstico clínico.

O tratamento é indicado para fins estéticos. Algumas opções são curetagem, aplicação de ácido tricloroacético e crioterapia com nitrogênio líquido.5 No caso apresentado, optou‐se pela crioterapia em duas sessões, com diminuição da superfície untuosa das ceratoses seborreicas e hiperpigmentação após a primeira sessão.

Na revisão da literatura, os autores não encontraram estudos relacionados à ceratose seborreica induzida pela radioterapia, mas concluíram que a radiação foi deflagradora da proliferação dos queratinócitos, provavelmente por mediadores que levam à produção de citocinas estimuladoras de melanogênese, ativação de oncogenes e fatores de crescimento epidérmico.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Danielle Ferreira Chagas: Elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura.

Lúcia Martins Diniz: Aprovação da versão final do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.

Bruna Anjos Badaró: Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Elton Almeida Lucas: Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Referências
[1]
Y.L. Yang, B.B. Liu, X. Zhang, L. Fu.
Invasive micropapillary carcinoma of the breast: an update.
Arch Pathol Lab Med., 140 (2016), pp. 799-805
[2]
Y. Balagula, S.T. Rosen, M.E. Lacouture.
The emergence of supportive oncodermatology: the study of dermatologic adverse events to cancer therapies.
J Am Acad Dermatol., 65 (2011), pp. 624-635
[3]
S.C. Hu, M.F. Hou, K.H. Luo, H.Y. Chuang, S.Y. Wei, G.S. Chen, et al.
Changes in biophysical properties of the skin following radiotherapy for breast cancer.
J Dermatol., 41 (2014), pp. 1087-1094
[4]
M.R. Wick, J.W. Patterson.
Cutaneous paraneoplastic syndromes.
Semin Diagn Pathol., 36 (2019), pp. 211-228
[5]
U. Wollina.
Recent advances in managing and understanding seborrheic keratosis.
F1000 Res., (2019), pp. 8

Como citar este artigo: Chagas DF, Diniz LM, Badaró BA, Lucas EA. Multiple seborrheic keratoses in a previously irradiated site. An Bras Dermatol. 2020;95:771–3.

Trabalho realizado no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, Vitória, ES, Brasil.

Copyright © 2020. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Baixar PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.