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Vol. 95. Núm. 3.
Páginas 395-397 (1 maio 2020)
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Vol. 95. Núm. 3.
Páginas 395-397 (1 maio 2020)
Carta – Caso clínico
Open Access
Criptococose cutânea e pulmonar
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Deborah Lucena Markmana,
Autor para correspondência
deborahlmarkman@gmail.com

Autor para correspondência.
, Pamella Paola Bezerra de Oliveiraa, Daniela Mayumi Takanob, Idalina Inês Fonseca Nogueira Cambuimc
a Departamento de Dermatologia, Hospital Otávio de Freitas, Recife, PE, Brasil
b Departamento de Patologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil
c Laboratório de Micologia, Hospital Otávio de Freitas, Recife, PE, Brasil
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Prezado Editor,

Cryptococcus neoformans é agente etiológico da criptococose, doença infecciosa cosmopolita que acomete o homem, animais domésticos e silvestres. Esse patógeno é frequentemente isolado de excrementos de pombos e psitacídeos, e tem inúmeras fontes ambientais.1

O diagnóstico pode ser feito pela análise do líquido cefalorraquidiano (LCR), sedimento de urina, lavado broncoalveolar, exsudatos de feridas, pus aspirado de nódulos flutuantes e biópsias de lesões suspeitas.2

No tratamento de humanos imunocompetentes e imunocomprometidos, a anfotericina B é usada em associação com a 5‐flucitosina, em infecções disseminadas, ou fluconazol e itraconazol, como opção para o tratamento de infecções cutâneas.3

Relata‐se o caso de paciente, sexo feminino, 36 anos, a qual apresentava placa ulcerada de bordos eritematoinfiltrados encimados por pústulas e fundo recoberto por crosta hemática, com cerca de 3 cm de comprimento, na região posterior de pavilhão auricular esquerdo, com 4 meses de evolução (fig. 1). Associava‐se a sintomas sistêmicos como febre intermitente, tosse produtiva e perda ponderal de, aproximadamente, 5 kg em 15 dias. Apresentava também radiografia de tórax que evidenciava hipotransparência em segmento médio de lobo pulmonar direito. Referia ser portadora de diabetes mellitus insulinodependente, além de ter história pregressa de transplante renal feito há três anos, em uso de Azatioprina e Prednisona. Após avaliação dermatológica inicial, optou‐se por fazer exame direto e cultura micológica da secreção do pavilhão auricular e do escarro, além de biópsia incisional da lesão, com retirada de dois fragmentos para estudo micológico e histopatológico. Lâminas diretas da secreção e do escarro foram preparadas com adição de tinta da china nas quais foram evidenciadas leveduras capsuladas. Na cultura micológica de todas as amostras, houve desenvolvimento de colônias de coloração branca a creme de aspecto mucoide típicas de Cryptococcus spp. A identificação da espécie e o antifungigrama foram feitos no Vitek 2‐Compact. O isolado foi também identificado por meio do sequenciamento do domínio D1/D2 do rDNA com os primers NL1 e NL4, e identificado como Cryptoccocus neoformans (San Felice) Vuill (1901). O histopatológico evidenciou inúmeras estruturas fúngicas leveduriformes mais bem visualizadas pela coloração de PAS, que apresentavam cápsulas de mucopolissacarídeos que se destacam pela coloração de Alcian Blue, com escasso infiltrado inflamatório de permeio (fig. 2). A paciente foi internada e submetida a lavado broncoalveolar através de broncoscopia com material enviado para nova cultura, a qual confirmou o diagnóstico inicial. Dessa forma, iniciou‐se o tratamento com anfotericina B associada a fluconazol. Após melhoria clínica significativa, a paciente recebeu alta hospitalar em uso de fluconazol 450 mg/dia até resolução completa do quadro cutâneo (fig. 3).

Figura 1.

Lesão cutânea no pavilhão auricular esquerdo.

(0.29MB).
Figura 2.

Histopatologia. Criptococos corados em PAS e em Alcian blue, respectivamente, com aumento de 400×.

(0.52MB).
Figura 3.

Lesão cutânea pós‐tratamento. Regressão completa da lesão após tratamento.

(0.17MB).

De acordo com a literatura, essa micose é comumente diagnosticada em pacientes com imunodepressão celular, como os soropositivos para HIV. A micose de caráter sistêmico é mais frequente nesse grupo de doentes e a terceira causa de doença oportunista do sistema nervoso central (SNC).1,4 Nos transplantados renais, a criptococose ocorre em 0,8%‐5% dos pacientes, na dependência do tipo e da intensidade da imunossupressão.5

A resistência a fármacos, como o fluconazol, é possível principalmente durante tratamentos supressivos prolongados, como nos casos de meningite por C. neoformans.1 Para o tratamento de pacientes transplantados renais em uso de drogas imunossupressoras, as interações medicamentosas e os efeitos colaterais devem ser especialmente considerados, principalmente a nefrotoxicidade intrínseca da anfotericina B.5 Sobre o ajuste das doses, tempo e duração do tratamento, bem como a necessidade de terapia de manutenção, ainda não há consenso na literatura.5

Com o caso descrito ressalta‐se a importância do diagnóstico diferencial dos quadros infecciosos em pacientes transplantados renais e destaca‐se a necessidade de investigação complementar para excluir acometimento infeccioso extracutâneo.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Deborah Lucena Markman: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura.

Pamella Paola Bezerra de Oliveira: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.

Daniela Mayumi Takano: Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica do manuscrito.

Idalina Inês Fonseca Nogueira Cambuim: Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica do manuscrito.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Referências
[1]
J.P.A.F. Queiroz, F.D.N. Sousa, R.A. Lage, M.A. Izael, A.G. Santos.
Criptococose ‐ uma revisão bibliográfica.
Acta Veterinaria Brasilica., 2 (2008), pp. 32-38
[2]
R.D. Azulay, D.R. Azulay, L.A. Abulafia.
Dermatologia 6nd ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;, (2013),
[3]
F.C. Bivanco, C.D.S. Machado, E.L. Martins.
Criptococose cutânea.
Arq Med ABC., 31 (2006), pp. 102-109
[4]
V.L. Pinto Junior, M.C.G. Galhardo, M. Lazéra, B. Wanke, R.S. Reis, M. Perez.
Criptococose associada à AIDS. A importância do cultivo da urina no seu diagnóstico.
Rev Soc Bras Med Trop., 39 (2006), pp. 230-232
[5]
B.M. Trope, A.L.C. Fernandes, M.H.J.P. Maceira, M.G.C. Barreiros.
Paniculite criptocócica em transplantado renal.
An Bras Dermatol., 83 (2008), pp. 233-236

Como citar este artigo: Markman DL, Oliveira PPB, Takano DM, Cambuim IIFN. Cutaneous and pulmonary cryptococcosis. An Bras Dermatol. 2020;95:395–7.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Hospital Otávio de Freitas, Recife, PE, Brasil.

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Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
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