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Vol. 95. Núm. 5.
Páginas 658-660 (1 setembro 2020)
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Vol. 95. Núm. 5.
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Carta – Investigação
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Dermatite alérgica de contato por componentes de xampus: análise descritiva de 20 casos
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Rosana Lazzarinia, Lilian Lemos Costab, Nathalie Mie Suzukia, Mariana de Figueiredo Silva Hafnera,
Autor para correspondência
mariana@hafner.med.br

Autor para correspondência.
a Setor de Alergias, Clínica de Dermatologia, Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
b Clínica de Dermatologia, Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
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Tabela 1. Alérgenos relevantes encontrados nos testes de contato
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Prezado Editor,

Os xampus são os cosméticos mais usados para cuidados com cabelos e couro cabeludo. São compostos por diversos ingredientes, em geral de 10 a 30, com diferentes funções, como surfactantes que atuam na limpeza (emulsificação), conservantes que estabilizam o produto e fragrâncias que o tornam cosmeticamente agradável ao consumidor.1–3

Reações adversas ao seu uso podem ocorrer. Embora estudos mostrem que o poder de sensibilização dos alérgenos presentes em produtos enxaguáveis seja menor (pelo contato efêmero com a pele), a dermatite alérgica de contato (DAC) por componentes dos xampus é bem descrita.4 É possível que a sensibilização ocorra anteriormente pelo contato com outros produtos que contenham os mesmos alérgenos. Além disso, fatores como frequência de uso e presença de atopia poderiam influenciar na ocorrência do processo.

Os principais sintomas referidos são prurido e queda de cabelos. Lesões eczematosas geralmente ocorrem em couro cabeludo, face, orelhas e região cervical.1,5 Nesses casos, o teste de contato é a principal ferramenta para identificação do agente causal e então, cura do processo.

O objetivo deste estudo foi avaliar os principais alérgenos causadores da DAC por xampus e as características epidemiológicas da população acometida por essa afecção, em serviço dermatológico especializado de hospital quaternário.

Foram feitos 654 testes de contato entre janeiro de 2014 e agosto de 2019. Entre esses, foram escolhidos aqueles com diagnóstico final de DAC por xampu para análise. As baterias usadas em todos os testes dos casos selecionados foram padrão brasileiro (FDA Allergenic, Brasil), capilar (IPI ASAC, Brasil) e latino‐americana (Chemothecnique, Suécia).

Foram encontrados 20 pacientes com diagnóstico de DAC por xampus (3% dos submetidos a teste de contato). Desses, 19 (95%) eram do gênero feminino e um do masculino. A média foi de 52,2 anos. A maior frequência de pacientes do sexo feminino é consistente com o maior uso de cosméticos por esse grupo.

O tempo médio da doença foi de 46 meses, refletindo prováveis dificuldades para definição diagnóstica e alongando, assim, o tempo de doença pelo não afastamento dos agentes causais.

As regiões mais afetadas nos pacientes foram: couro cabeludo em 12 casos (60%), face e membros superiores em 10 (50%) cada, cervical em sete (35%), dorso em quatro (20%), orelhas em três (15%), tórax e axilas em dois (10%) cada, abdome e ombros em um (5%) cada, dados esses compatíveis com a literatura. Essa variedade de possíveis apresentações clínicas contribui para dificuldades diagnósticas, ainda mais quando não há lesões evidentes no couro cabeludo, como ocorreu em oito dos 20 pacientes (40%), o que pode ser explicado pelas características anatômicas da região (grande espessura e maior número de unidades pilosebáceas), que acabam dificultando a penetração dos alérgenos e a detecção do eczema.1,2 Em alguns pacientes, as lesões comprometiam as áreas que entram em contato com o xampu ao ser enxaguado: fronte, pálpebras, região auricular, cervical lateral e dorso (figs. 1‐3).

Figura 1.

Paciente com eczema crônico (intensa liquenificação na fronte) por dermatite alérgica de contato à metilisotiazolinona presente nos xampus de que fazia uso.

(0.13MB).
Figura 2.

Paciente com dermatite alérgica de contato a componentes dos xampus envolvendo regiões pré‐auricular, retroauricular e cervical lateral (áreas por onde escorre o produto após o enxague).

(0.14MB).
Figura 3.

Paciente com hipercromia e escoriações no dorso causadas pelo prurido da dermatite alérgica de contato à cocoamidopropilbetaína dos xampus (com teste de contato evidenciado).

(0.07MB).

Os resultados positivos e relevantes dos testes de contato estão apresentados na tabela 1. Os alérgenos responsáveis foram conservantes (Kathon CG, formaldeído, captan, metildibromoglutaronitrila e diazolinidilureia), fragrâncias (fragrância mix 1 [FM1] e fragrância mix 2 [FM2] e bálsamo do Peru) e surfactantes (cocoamidopropilbetaína, laurilpoliglucosídeo e decilglucosídeo). Esses resultados coincidem com estudos da literatura.1 Destaca‐se que entre os 11 alérgenos causadores de DAC apresentados, apenas quatro estão na bateria padrão brasileira (Kathon CG, formaldeído, fragrância‐mix 1 e bálsamo do Peru), enquanto os demais estão nas baterias complementares usadas. Em todos os casos o diagnóstico foi confirmado pelo resultado do teste com relevância atual, verificada pela leitura dos rótulos dos xampus usados (comprovou a exposição aos alérgenos detectados) e a melhoria completa após afastamento desses agentes no seguimento clínico.

Tabela 1.

Alérgenos relevantes encontrados nos testes de contato

Alérgenos relevantes  Número de testes positivos 
Kathon CGa  12  26,0 
Formaldeído  17,0 
Cocamidopropilbetaina  11,0 
Captanb  11,0 
Laurilpoliglucosideo  8,5 
Decilglucosideo  8,5 
Metildibromoglutaronitrila  6,0 
FM1c  4,0 
FM2d  4,0 
Diazolinidilureia  2,0 
Bálsamo do Peru  2,0 
Total  47e  100,0 
a

Kathon CG: metilisotiazolinona+metilcloroisotiazolinona.

b

Captan: N‐trichloromethylthio‐4‐cyclohexene‐1,2‐dicarboximide.

c

FM1: geraniol, cinnamaldehyde, hydroxycitronellal, cinnamyl alcohol, amylcinnamaldehyde, isoeugenol, eugenol and oak moss.

d

FM2: coumarin, lyral, citronellol, farnesol, citral, hexylcinnamicaldehyde.

e

OBS: alguns pacientes tiveram mais de um teste positivo.

Como a maioria dos xampus tem composições semelhantes, é comum que os pacientes mantenham a dermatite mesmo após trocar o produto e a marca por conta própria. Dessa forma, é essencial indicar teste de contato sempre que houver suspeita clínica e este deve ser feito com a série padrão e as complementares, o que possibilita assim a orientação individualizada a cada paciente quanto à por outros produtos específicos.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Rosana Lazzarini: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa.

Lilian Lemos Costa: Obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Nathalie Mie Suzuki: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Mariana de Figueiredo Silva Hafner: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Referências
[1]
M. Zirwas, J. Moennich.
Shampoos. Dermatitis, 20 (2009), pp. 106-110
[2]
N.M. Aleid, R. Fertig, A. Maddy, A. Tosti.
Common Allergens Identified Based on Patch Test Results in Patients with Suspected Contact Dermatitis of the Scalp.
Skin Appendage Disord., 3 (2017), pp. 7-14
[3]
M.J. Zirwas.
Contact Dermatitis to Cosmetics.
Clin Rev Allergy Immunol., 56 (2019), pp. 119-128
[4]
D.A. Drechsel, K.M. Towle, E.S. Fung, R.M. Novick, D.J. Paustenbach, A.D. Monnot, et al.
Skin Sensitization Induction Potential From Daily Exposure to Fragrances in Personal Care Products.
Dermatitis., 29 (2018), pp. 324-331
[5]
J.D. Welling, T.F. Mauger, L.R. Schoenfield, A.J. Hendershot.
Chronic eyelid dermatitis secondary to cocamidopropyl betaine allergy in a patient using baby shampoo eyelid scrubs.
JAMA Ophthalmol., 132 (2014), pp. 357-359

Como citar este artigo: Lazzarini R, Costa LL, Suzuki NM, Hafner MFS. Allergic contact dermatitis by shampoo components: a descriptive analysis of 20 cases. An Bras Dermatol. 2020;95:658–60.

Trabalho realizado na Clínica de Dermatologia, Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

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Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
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