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Vol. 96. Núm. 5.
Páginas 638-640 (1 setembro 2021)
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Carta ‐ Caso clínico
Open Access
Efeitos do dupilumabe na neurofibromatose tipo 1 concomitante com dermatite atópica grave
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Camilla Chello, Alvise Sernicola, Giovanni Paolino, Teresa Grieco
Autor para correspondência
teresa.grieco@uniroma1.it

Autor para correspondência.
Unidade de Dermatologia, Sapienza University of Rome, Roma, Itália
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Prezado Editor,

Relatamos o caso de uma mulher caucasiana de 30 anos de idade com neurofibromatose tipo 1 (NF1), que procurou atendimento médico pelo agravamento recente de forma grave concomitante de dermatite atópica (DA). A paciente apresentava características típicas de NF1: sardas axilares e inguinais, manchas cafe‐au‐lait, múltiplos neurofibromas subcutâneos, nódulos de Lisch, alterações da coluna vertebral com escoliose. A DA caracterizava‐se por um padrão generalizado, com acometimento predominante da face com eczema e ectrópio palpebral (fig. 1). O escore do Eczema Area Severity Index (EASI) foi 30, e o Dermatology Life Quality Index (DLQI) foi 25, correspondendo a uma forma grave da doença. Em razão da ineficácia dos tratamentos anteriores (esteroides sistêmicos e ciclosporina) em obter melhora clínica da dermatite atópica, a paciente iniciou terapia com dupilumabe na dosagem padrão aprovada de 600mg por via subcutânea seguida de 300mg a cada duas semanas, de acordo com as diretrizes atuais. Quatro semanas após o início da terapia, observamos melhora dos sinais e sintomas de DA (EASI 4; fig. 2). Como achado colateral, observamos também redução do tamanho e do edema dos neurofibromas (fig. 3). Após 16 semanas, constatamos a remissão completa da DA e nenhuma progressão da NF1, em termos de quantidade e tamanho dos neurofibromas, com melhora geral da qualidade de vida da paciente (DLQI 0). Após 18 meses de tratamento, o comprometimento cutâneo pela NF1 permaneceu estável.

Figura 1.

Sinais clínicos de neurofibromatose tipo 1 e dermatite atópica. Lesões eczematosas, com eritema, secreção e formação de crostas, várias manchas cafe‐au‐lait, sardas, neurofibromas cutâneos.

(0.19MB).
Figura 2.

Remissão da dermatite atópica após quatro semanas de tratamento com dupilumabe. Lesões eczematosas residuais, como vistas no pescoço, determinaram um escore EASI de 4.

(0.28MB).
Figura 3.

(A), Neurofibroma cutâneo antes de iniciar o tratamento com dupilumabe. (B), A mesma lesão mostra redução evidente do edema e da consistência após quatro semanas de terapia.

(0.08MB).

Nesta paciente, o dupilumabe mostrou‐se eficaz tanto no manejo da DA grave quanto dos neurofibromas, alcançando a estabilização da doença em um ano. A possível eficácia desse medicamento na NF1 pode residir na patologia molecular da neurofibromatose. Fibroblastos e mastócitos são fatores‐chave na promoção do crescimento tumoral no microambiente do neurofibroma, bem como na cicatrização de feridas e na formação de cicatrizes.1,2 Como relatado anteriormente, a ativação das vias de IL‐4 e IL‐13 em fibroblastos, mediada pela sinalização intracelular de JAK/STAT, leva à produção excessiva de colágeno, que é responsável pelo desenvolvimento dos neurofibromas.3 Em relação à NF1, hipotetizamos que o dupilumabe, um anticorpo monoclonal antireceptor de IL‐4, pode inibir o crescimento de neurofibromas, interferindo na ligação de IL‐4 e IL‐13 aos receptores tipo I e tipo II expressos em mastócitos e fibroblastos. Isso é consistente com o mecanismo de ação descrito anteriormente na DA.4 Até o momento, ainda faltam tratamentos farmacológicos para neurofibromas na NF1. Além disso, não há evidências relatadas anteriormente sobre o efeito do dupilumabe no tratamento da NF1. Isso provavelmente também se deve à escassez de estudos que destacam a associação entre as duas doenças. De fato, apenas um estudo relatou a coexistência de DA concomitante em 18% de 227 pacientes com NF1, mas esses dados não são confirmados por evidências adicionais na literatura atual.5

A presente experiência pode ser útil no manejo da NF1, destacando o efeito anti‐inflamatório benéfico deste biológico na doença neurocutânea, mas estamos conscientes de que estudos patogenéticos de interações de citocinas e vias de sinalização imune, bem como estudos clínicos randomizados (ECRs), são necessários para investigar o uso de dupilumabe no tratamento da NF1.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Camilla Chello: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito.

Alvise Sernicola: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito.

Giovanni Paolino: Revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.

Teresa Grieco: Concepção e planejamento do estudo; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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D. Antonopoulos, I. Tsilioni, N.A.A. Balatsos, K.I. Gourgoulianis, T.C. Theoharides.
The mast cell – neurofibromatosis connection.
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A. Diaz, K. Tan, H. He, H. Xu, I. Cueto, A.B. Pavel, et al.
Keloid lesions show increased IL‐4/IL‐13 signaling and respond to Th2‐targeting dupilumab therapy.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 34 (2020), pp. e161-e164
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N.A. Gandhi, B.L. Bennett, N.M.H. Graham, G. Pirozzi, N. Stahl, G.D. Yancopoulos.
Targeting key proximal drivers of type 2 inflammation in disease.
Nat Rev Drug Discov., 15 (2016), pp. 35-50
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N. Gour, M. Wills-Karp.
IL‐4 and IL‐13 signaling in allergic airway disease.
Cytokine, 75 (2015), pp. 68-78
[5]
M. Koga, K. Koga, J. Nakayama, S. Imafuku.
Anthropometric characteristics and comorbidities in Japanese patients with neurofibromatosis type 1: A single institutional case‐control study.
J Dermatol., 41 (2014), pp. 885-889

Como citar este artigo: Chello C, Sernicola A, Paolino G, Grieco T. Effects of dupilumab in type 1 neurofibromatosis coexisting with severe atopic dermatitis. An Bras Dermatol. 2021;96:638–40.

Trabalho realizado na Unidade de Dermatologia, Sapienza University of Rome, Roma, Itália.

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Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
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