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Vol. 96. Núm. 5.
Páginas 623-625 (1 setembro 2021)
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Vol. 96. Núm. 5.
Páginas 623-625 (1 setembro 2021)
Carta ‐ Investigação
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Eficácia de diferentes concentrações de lidocaína e associação de vasoconstritor na anestesia infiltrativa local em adultos
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Lury Bueno Wako Kitahara, Vanessa Paula da Silva, Gabriel Peres, Hélio Amante Miot
Autor para correspondência
heliomiot@gmail.com

Autor para correspondência.
, Juliano Vilaverde Schmitt
Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
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Prezado Editor,

A anestesia infiltrativa local bloqueia a condução nervosa sem causar depressão no sistema nervoso central. Em cirurgia dermatológica, a lidocaína é o anestésico mais empregado em todo o mundo; porém, sua toxicidade é dose‐dependente, o que limita o uso de grandes volumes em cirurgias de maior porte.1,2

No Brasil, a concentração de lidocaína predominantemente empregada em procedimentos dermatológicos é 2%. A associação de vasoconstritores, como a epinefrina, é usual, a fim de reduzir o sangramento transoperatório e prolongar o efeito anestésico, além de retardar sua absorção sistêmica, o que propicia o uso de maiores volumes com menor risco de toxicidade.2

A infiltração cutânea dessas soluções está associada a certo desconforto. Por isso, é importante estudar estratégias que visem minimizar a dor do paciente durante a anestesia, favoreçam sua colaboração e promovam maior sucesso anestésico, além de humanizar o procedimento.3 Aquecimento da solução anestésica, infiltração lenta e subcutânea, alcalinização da solução, uso prévio de anestésico tópico, agulhas mais finas, hipnoterapia, medicações pré‐anestésicas, vibração e resfriamento da pele são algumas estratégias bem descritas para minimizar a dor ligada à anestesia infiltrativa local.2–5 Há, contudo, poucos estudos sistemáticos ligados às concentrações de lidocaína e epinefrina quanto à sensibilidade dolorosa da infiltração e eficácia em procedimentos dermatológicos.6

O objetivo deste trabalho foi avaliar concentrações de lidocaína e suas associações ao vasoconstritor quanto à duração da anestesia e dor à infiltração intradérmica no antebraço em adultos. Para tanto, foi empregado um modelo experimental duplo‐cego que envolveu dez voluntários adultos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição (n° 2.647.476), e todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Foram incluídos adultos (> 18 anos), sem dermatoses nos antebraços, hipersensibilidade à lidocaína, acufobia, ou alterações da coagulação.

Após antissepsia, foram injetados, lentamente, pelo mesmo dermatologista, via intradérmica, 0,1 mL de soluções de lidocaína 0,5%; 1,0% ou 2%, com ou sem epinefrina (1:200.000), e NaCl 0,9% (controle) de modo randomizado e cego nas faces ventrais dos antebraços. Foram utilizadas seringas de insulina (BD‐ultrafine) pré‐agulhadas. Todos os dez participantes receberam todos os sete tratamentos, em uma sequência aleatorizada.

A intensidade de dor relacionada à infiltração de cada solução foi avaliada pela Escala Analógica Visual (VAS: 0–10 pontos). Posteriormente, avaliou‐se a presença de dor à punctura padronizada com lancetas utilizadas em exame de glicemia capilar (5mm), disparadas por caneta específica, nos tempos zero, 15, 30, 45 e 60 minutos, sobre as áreas infiltradas. Após 60 minutos, procedeu‐se nova avalição da sensibilidade após perfuração transdérmica com agulha 30G.

As variáveis dependentes do estudo foram o escore de dor à infiltração e a presença de sensibilidade dolorosa, comparadas para cada um dos sete tratamentos, de maneira dependente, de acordo com os dez participantes e o tempo de avaliação. Os escores de dor à infiltração e a presença de sensibilidade dolorosa nos diferentes tempos foram comparados quanto ao efeito da concentração de lidocaína, uso da epinefrina e a interação dos fármacos por modelos lineares generalizados de efeitos mistos (distribuição normal e logit), com matriz de covariância não estruturada, e teste post‐hoc de Sidak. Considerou‐se significativo p ≤ 0,05. O dimensionamento amostral baseou‐se na expectativa de diferença maior que 30% na proporção de dor por alguma das composições, com erro alfa=0,05 e beta=0,2.

Entre os voluntários do estudo, cinco (50%) eram do sexo feminino, e suas idades variaram entre 20 e 43 anos. Os escores de dor decorrentes da infiltração intradérmica de cada solução estão dispostos na figura 1. Houve leve aumento da média da dor infiltrativa nos participantes que utilizaram epinefrina, em comparação aos que não utilizaram (5,8 [dp=2,1] vs. 5,0 [dp=2,2]; p=0,013). Da mesma maneira, houve maiores escores de dor infiltrativa nos participantes que utilizaram altas concentrações de lidocaína (2%), em comparação às menores concentrações (1% e 0,5%; escores 6,6 [dp=1,7] vs. 5,1 [dp=2,1] e 4,5 [dp=1,8]; p <0,001).

Figura 1.

Intensidade dolorosa (VAS – Escala Visual Analógica: 0–10) referida no momento das injeções das diferentes soluções testadas (n=70).

(0.12MB).

As frequências de sensibilidade dolorosa após estímulo padronizado, para cada solução anestésica, estão representadas na figura 2. Durante todo o experimento, não houve sensibilidade dolorosa com a solução de lidocaína 2% com epinefrina, enquanto as demais soluções mantiveram a anestesia até 30 minutos em todos os casos. A sensibilidade dolorosa progrediu, em função do tempo, inversamente proporcional à concentração de lidocaína (p <0,001); do mesmo modo, a anestesia foi mais duradoura quando foi empregada epinefrina (p=0,046). A análise posthoc revelou que, entre 0 e 45 minutos, não houve diferença no perfil anestésico para lidocaína 2% e 0,5% (p> 0,15).

Figura 2.

Frequência da sensibilidade dolorosa (estímulo padronizado) em função do tempo, após as injeções das diferentes soluções testadas (n=350).

(0.23MB).

A figura 3 exibe a frequência de sensibilidade ao estímulo doloroso intenso após 60 minutos da infiltração de cada solução. Nenhum participante apresentou dor na região onde foi infiltrada lidocaína 2% com epinefrina. Houve menor frequência de sensibilidade nas soluções que empregaram epinefrina (30% vs. 70%; p <0,001), assim como, proporcionalmente, nas soluções que empregaram as maiores concentrações de lidocaína (0,5%; 1% e 2%): 38% vs. 27% vs. 8% (p <0,001). Identificou‐se interação positiva entre epinefrina e lidocaína na concentração de 1% (40% vs. 80%; p=0,035), e significância marginal para a interação com lidocaína 2% (0% vs. 60%; p=0,070).

Figura 3.

Frequência de sensibilidade dolorosa (estímulo mais intenso) 60 minutos após as injeções para cada uma das diferentes soluções testadas (n=70).

(0.1MB).

A dor relacionada ao processo infiltrativo de anestésicos locais está associada a elementos relacionados ao paciente, à técnica de aplicação e às soluções empregadas.3 Nossos resultados evidenciaram diferentes comportamentos quanto à eficácia e dor à infiltração quando variadas as concentrações de lidocaína e associado epinefrina.

A associação de epinefrina à lidocaína ratificou seu efeito, estendendo a duração da eficácia anestésica.2 O aumento da dor infiltrativa associado à epinefrina pode ser compensado, por exemplo, com menores concentrações de lidocaína ou técnicas de alcalinização, como a adição de bicarbonato, sem prejuízo do efeito anestésico.7,8

A lidocaína em concentrações menores que 2% também não apresentou diferença no perfil anestésico dos primeiros 30 minutos, confirmando os resultados oriundos da técnica de anestesia tumescente.1,9 Concentrações menores de lidocaína, quando associadas à epinefrina, aumentam a segurança da anestesia local, principalmente quando são necessários maiores volumes de anestésicos.6,10

O estudo apresenta limitações ligadas ao caráter experimental, que não considera a ansiedade naturalmente envolvida na cirurgia dermatológica, além do volume reduzido de anestésico utilizado. Em contrapartida, a injeção intradérmica promove efeito mais rápido, com maior dor à injeção. Finalmente, o emprego de apenas uma topografia reduz a generalização dos resultados para outras áreas com maior inervação sensitiva, como a face. Todos esses elementos foram padronizados a fim de maximizar a comparabilidade dos indivíduos.

Em conclusão, a lidocaína, em concentrações de 0,5% ou 1% promove menor dor à infiltração intradérmica sem prejuízo anestésico nos primeiros 30 minutos, e a epinefrina aumenta a eficácia e a duração da anestesia local.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Lury Bueno Wako Kitahara: Coleta dos dados; escrita do texto; revisão da literatura; aprovação final do texto.

Vanessa Paula da Silva: Coleta dos dados; escrita do texto; revisão da literatura; aprovação final do texto.

Gabriel Peres: Coleta dos dados; idealização do projeto; análise dos dados; escrita do texto; revisão da literatura; aprovação final do texto.

Hélio Amante Miot: Coleta dos dados; idealização do projeto; análise dos dados; escrita do texto; revisão da literatura; aprovação final do texto.

Juliano Vilaverde Schmitt: Coleta dos dados; idealização do projeto; análise dos dados; escrita do texto; revisão da literatura; aprovação final do texto.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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Como citar este artigo: Kitahara LBW, Silva VP, Peres G, Miot HA, Schmitt JV. Efficacy of different concentrations of lidocaine and association of vasoconstrictor in local infiltration anesthesia in adults. An Bras Dermatol. 2021;96:623–5.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia e Radioterapia, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil.

Copyright © 2020. Sociedade Brasileira de Dermatologia
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