Tumores glômicos (TG) se originam das células glômicas, presentes em derivações arteriovenosas localizadas na derme reticular,1 e são categorizados como benignos, de comportamento incerto e malignos (TGM) com base em características clinicopatológicas.2 Os TGM, constituindo menos de 1% dos casos, exibem invasão local agressiva, tendência à recorrência após excisão e metástase à distância ocasionalmente.1,3 TGM são ainda subclassificados em TG localmente infiltrativos, glomangiossarcoma (GS) resultante de TG benignos e GS de novo.1,4,5
O presente caso descreve paciente feminina, de 53 anos, com histórico médico de osteoartrite de joelho, intolerância à glicose, obesidade, asma e hipotireoidismo. A paciente relatou a ocorrência de acidente cortante com vidro na parte externa do antebraço direito, evoluindo com dor neuropática intensa durante o primeiro ano. Dois anos depois, relatou aumento de volume na referida área, muito sensível à palpação e associado a hemorragia espontânea. O exame físico mostrou tumor multilobulado, firme, doloroso, pulsátil, de coloração marrom‐acinzentada, medindo 10 × 6cm, bem delimitado, com tonalidade violácea, na superfície extensora do antebraço direito (fig. 1 A‐B). O estudo com Doppler mostrou massa caracterizada por alta densidade arterial que invadia o tecido cutâneo e subcutâneo até a fáscia superficial. A histopatologia de biopsia incisional revelou GS. O PET scan não revelou disseminação à distância. O tumor foi excisado com margens de 3cm até a profundidade da fáscia muscular subjacente e foi realizada dissecção dos linfonodos axilares. A histopatologia mostrou tumor dérmico e hipodérmico bem circunscrito, composto por células com citoplasma eosinofílico, núcleos pleomórficos, nucléolos proeminentes, mitoses atípicas e alto índice mitótico (nove mitoses/dez campos de grande aumento; fig. 2 A‐B). A imunohistoquímica foi positiva para actina de músculo liso (fig. 2C) e negativa para CD31, CD34, S100 e citoqueratina. Ki67 foi positivo em 20% das células tumorais.
(A) Na histopatologia, em pequeno aumento, a neoplasia consiste em células redondas ao redor de espaços vasculares (Hematoxilina & eosina, 40×). (B) Em maior aumento as células glômicas são atípicas com núcleos pleomórficos e nucléolos proeminentes. Numerosas mitoses estão presentes (Hematoxilina & eosina, 200×). (C) As células tumorais são positivas para actina (Actina anti‐músculo liso, 100×).
A maioria dos TG é neoplasia benigna que se desenvolve na derme ou no tecido subcutâneo de regiões distais das extremidades;5 80% estão localizados nas extremidades superiores, e são especialmente comuns na região subungueal.6 A maioria se apresenta como nódulos dolorosos, solitários e de crescimento lento.1 TGM são ocorrência rara, caracterizadas na histopatologia por atipia nuclear, necrose e alto índice mitótico.1,7 Gould et al. subclassificaram os TGM em três categorias com base em suas características histopatológicas: TG localmente infiltrativos, que são idênticos aos TG, exceto por seu crescimento infiltrativo; GS resultantes de TG benignos, que surgem em TG preexistentes e exibem pleomorfismo nuclear e mitoses; e GS de novo, que são tumores com alto índice mitótico, mas sem semelhança histopatológica com TG benigno.8 A maioria dos GS surge de um TG preexistente, em ampla faixa etária de 20 a 80 anos, sem predileção por gênero, predominantemente nos membros superiores e inferiores.1,2,8 Na histopatologia, o GS é composto de células uniformes, redondas ou ovais, com citoplasma eosinofílico, numerosos espaços vasculares e pleomorfismo celular associado a mitoses frequentes, características ausentes no TG benigno.1 Em estudos imuno‐histoquímicos, as células glômicas malignas exibem positividade para vimentina, actina de músculo liso e actina específica do músculo.1,3,7 Em contraste, esses tumores são negativos para marcadores como desmina, citoqueratina, CD34 e proteína S100.7 Os TGM exibem comportamento localmente invasivo, tendência à recorrência após a excisão e geralmente não metastatizam.1,5,8 O potencial metastático correlaciona‐se com localização profunda, tamanho superior a 2cm, presença de mitoses atípicas ou a combinação de atipia nuclear e atividade mitótica de grau moderado a elevado.1–3 A excisão local ampla com margens cirúrgicas negativas é o tratamento primário. Como metástases são raras, existe pouca literatura sobre o tratamento de doença recorrente e metastática.1
Em conclusão, o GS apresenta riscos de metástases, particularmente em tumores profundos, grandes e com presença de mitoses atípicas. A excisão cirúrgica ampla é crucial para prevenir a recorrência.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresNelson Lobos: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.
María José Pereira: Revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.
Macarena Stevenson: Revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.
Dan Hartmann: Revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.
Valentina Darlic: Revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.
Alex Castro: Revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.