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Vol. 98. Núm. 5.
Páginas 710-712 (1 setembro 2023)
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Cartas ‐ Caso clínico
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Nevo acneiforme hipopigmentado segmentar com mutação no gene FGFR2
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Yongyi Xiea,b, Baoyi Liua,b, Zhouwei Wua,b,
Autor para correspondência
zhouwei.wu@shgh.cn

Autor para correspondência.
a Departamento de Dermatologia, Shanghai General Hospital, Xangai, China
b Departamento de Dermatologia, Shanghai Jiao Tong University School of Medicine, Xangai, China
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Tabela 1. Principais características dos casos publicados de nevo acneiforme segmentar com hipopigmentação
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Prezado Editor,

O nevo acneiforme segmentar associado a mutações no gene do receptor 2 do fator de crescimento de fibroblastos (FGFR2, do inglês fibroblast growth factor receptor2) foi relatado pela primeira vez por Munro e Wilkie.1 Raros casos semelhantes foram publicados com nomenclaturas diferentes, tornando esse tema confuso. Aqui, os autores relatam um novo caso com mutação missense no gene FGFR2 e resumem as características dessa condição específica.

Paciente chinês, 13 anos de idade, sexo masculino, apresentava mancha hipopigmentada segmentar no abdome esquerdo e na região dorsal, seguindo a linha de Blaschko, desde o nascimento. Aos 10 anos de idade, desenvolveram‐se comedões, pápulas vermelhas dispersas, pústulas e nódulos sobre a mancha hipopigmentada (fig. 1A‐B). A dermatoscopia identificou óstios foliculares dilatados com tampões de queratina, pelos terminais pouco pigmentados, com padrão de crescimento enrolado anormal e hipomelanose no centro do folículo (fig. 1C). Durante a primeira infância, o paciente apresentou pequeno atraso no desenvolvimento intelectual e déficit de atenção, mas nenhuma evidência sólida de deficiência intelectual foi encontrada quando ele foi examinado. O estado geral de saúde do paciente era normal, assim como os achados de ressonância magnética, radiografia do esqueleto e exames laboratoriais de rotina. A história familiar era normal.

Figura 1.

(A) Nevo acneiforme sobre mancha hipopigmentada, seguindo a linha de Blaschko. (B) Comedões em detalhe, pápulas e nódulos inflamatórios. (C) Tampão folicular, pelos enrolados e hipomelanose no centro do folículo na dermatoscopia (aumento original de 10×). (D) Infundíbulo folicular dilatado e obstruído e infiltrado linfo‐histiocitário perifolicular (Hematoxilina & eosina, 100×). (E) Sequência de DNA do gene FGFR2 do nevo acneiforme e pele contralateral não afetada do paciente é mostrada. A mutação somática em heterozigose é indicada pela seta

(0.77MB).

Sangue venoso foi coletado do paciente e de seus pais, e biopsias da pele lesional e normal do paciente foram realizadas. A histopatologia mostrou infundíbulos foliculares dilatados e obstruídos e infiltrado linfo‐histiocitário perifolicular (fig. 1D). O sequenciamento Sanger do gene FGFR2 (NM_022970) detectou a mutação heterozigótica c.758C>G no éxon 7 na pele afetada (fig. 1E), que não estava presente na pele não afetada nem nos linfócitos do paciente e de seus pais. A alteração da sequência representa mutação somática em mosaico levando a alteração do aminoácido Pro253Arg (CCT253CGT).

Poucos casos semelhantes foram relatados sob nomes diferentes (tabela 1). Um paciente com mutação em mosaico do gene FGFR2 (p.Ser252Trp) apresentou sintomas clínicos semelhantes.2 Kiritsi et al.3 relataram um caso grave com múltiplos segmentos envolvidos. Ma et al.4 descreveram caso semelhante, mas não confirmado por investigação genética. Além disso, alguns casos documentados de nevo comedônico com hipopigmentação podem, na verdade, ser a mesma doença.5

Tabela 1.

Principais características dos casos publicados de nevo acneiforme segmentar com hipopigmentação

Referência  Idade no início  Idade no diagnóstico  Sexo  Distribuição das lesões  Morfologia das lesões  Mutação 
12  14  Masculino  Segmentar única (braço esquerdo)  Principalmente comedões com pápulas inflamatórias dispersas  Mutação no FGFR2 (p.Ser252Trp) 
10  15  Masculino  Segmentar múltipla (tórax anterior, tronco, ombro e braço direitos)  Múltiplos comedões, pápulas e pústulas inflamatórias com hipopigmentação  Mutação no FGFR2 (p.Ser252Trp) 
12  Masculino  Segmentar múltipla (lado esquerdo e direito do tórax, tronco, ombros, braços e hemi‐face direita)  Múltiplos comedões, pápulas, pústulas, e nódulos inflamatórios, cicatrizes com hipopigmentação  Mutação no FGFR2 (p.Pro253Arg) 
Presente estudo  13  Masculino  Segmentar única (abdome esquerdo e dorso)  Múltiplos comedões e pápulas, pústulas e nódulos inflamatórios, com hipopigmentação  Mutação no FGFR2 (p.Pro253Arg) 
25  Masculino  Segmentar única (tórax e dorso direitos)  Principalmente comedões com pápulas inflamatórias dispersas e hipopigmentação  ND 

As lesões acneiformes são a principal característica dessa lesão. A mutação no FGFR2 em queratinócitos pode induzir a hiperqueratinização do ducto pilossebáceo e resposta inflamatória.2 A mutação p.Pro253Arg está localizada na região de ligação altamente conservada do FGFR2 e leva à ativação do FGFR2 dependente de ligante in vivo em virtude de uma alteração conformacional que aumenta a afinidade de ligação ao ligante.3 Lesões acneiformes extensas, despigmentação do cabelo, pele e olhos foram descritos na síndrome de Apert, na qual dois terços dos pacientes exibem mutação germinativa do FGFR2.6 As lesões acneiformes responderam ao tratamento com isotretinoína 20mg/dia, como na síndrome de Apert.3,6

A presença de hipopigmentação de início precoce é outra característica persistente relatada em quase todos os casos publicados, exceto no primeiro caso, em que não foi mencionado se houve alteração da pigmentação. Ela pode ser causada pela falha na transferência dos melanossomas dos melanócitos para os queratinócitos ou por hipopigmentação pós‐inflamatória elevada mediada por IL‐1α.2

Com base nos dados clínicos e moleculares desses casos publicados, os autores propõem aqui que nevo acneiforme hipopigmentado segmentar com mutação do FGRF2 pode ser uma descrição mais abrangente para essa condição específica. Além disso, sugerem que qualquer nevo comedônico atípico com hipopigmentação e/ou lesão inflamatória deve levar à consideração desse tipo de lesão e deve‐se ter em mente que o mosaicismo pós‐zigótico para uma doença genética como a síndrome de Apert também pode afetar as gônadas, resultando em risco de transmissão à descendência.6

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Yongyi Xie: Contribuição com a obtenção e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito; revisão do manuscrito.

Baoyi Liu: Contribuição com a obtenção e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito; revisão do manuscrito.

Zhouwei Wu: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao paciente e sua família. Agradecem também ao Dr. Ming Li, do hospital Xinhua, da Shanghai Jiao Tong University, pela consulta especializada.

Referências
[1]
C.S. Munro, A.O. Wilkie.
Epidermal mosaicism producing localised acne: somatic mutation in FGFR2.
Lancet., 352 (1998), pp. 704-705
[2]
B.C. Melnik, F. Vakilzadeh, C. Aslanidis, G. Schmitz.
Unilateral segmental acneiform naevus: a model disorder towards understanding fibroblast growth factor receptor 2 function in acne?.
Br J Dermatol., 158 (2008), pp. 1397-1399
[3]
D. Kiritsi, A.I. Lorente, R. Happle, J.B. Wittel, C. Has.
Blaschko line acne on pre‐existent hypomelanosis reflecting a mosaic FGFR2 mutation.
Br J Dermatol., 172 (2015), pp. 1125-1127
[4]
H. Ma, Q. Xu, G. Zhu, X. Su, S. Yin, C. Lu, et al.
Unilateral keratosis pilaris occurring on linear hypopigmentation patches: a new variant of keratosis pilaris in an Asian?.
J Dermatol., 42 (2015), pp. 437-438
[5]
D. Torchia, L.A. Schachner, J. Izakovic.
Segmental acne versus mosaic conditions with acne lesions.
Dermatology., 224 (2012), pp. 10-14
[6]
E.M.B. Steglich, R.B. Steglich, M.M. Melo, H.L. Almeida Jr..
Extensive acne in Apert syndrome.
Int J Dermatol., 55 (2016), pp. e596-e598

Como citar este artigo: Xie Y, Liu B, Wu Z. Segmental hypopigmented acneiform nevus with FGFR2 gene mutation. An Bras Dermatol. 2023;98:710–2.

Trabalho realizado no Shanghai General Hospital, Xangai, China.

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