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Vol. 97. Núm. 4.
Páginas 528-531 (1 julho 2022)
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Vol. 97. Núm. 4.
Páginas 528-531 (1 julho 2022)
Carta ‐ Investigação
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O uso da internet para obtenção de informações dermatológicas em pacientes da rede pública: estudo transversal
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Bianca Latance da Cruz, Arthur Cesar dos Santos Minato, Ioana Bittencourt Mourão, Dayane Neres Pereira, Miguel Huckembeck de Oliveira, Juliano Vilaverde Schmitt
Autor para correspondência
juliano.schmitt@unesp.br

Autor para correspondência.
Departamento de Infectologia, Dermatologia, Diagnóstico por Imagem e Radioterapia, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
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Prezado Editor,

Por ser um meio rico e acessível, a internet pode oferecer conhecimento também na área da saúde, na tentativa de os usuários compreenderem um eventual acometimento patológico e seus desfechos.1 Estudos prévios mostram que mulheres, jovens, universitários e indivíduos com maior renda têm maior propensão a buscar informações de saúde na internet.2 Contudo, existem poucos estudos acerca da influência de pesquisas sobre doenças dermatológicas. Assim, haja vista o perfil brasileiro de uso intensivo da internet, inclusive para pesquisas sobre saúde, faz‐se necessário estudar a maneira como as pessoas utilizam essa ferramenta no cotidiano.1,3

Este estudo objetivou avaliar a prevalência do acesso à internet para obter informações sobre saúde da pele entre pacientes dermatológicos, seu perfil demográfico e de buscas e associações destas com o uso da internet, bem como as interações dos resultados com o atendimento dermatológico.

Trata‐se de um estudo transversal, descritivo e exploratório, realizado com pacientes de hospital público do interior do estado de São Paulo, entrevistados entre julho e setembro de 2019. Os participantes foram recrutados por conveniência nas áreas de espera para atendimento dermatológico ambulatorial agendado.

Foram incluídos pacientes maiores de 18 anos, alfabetizados e sem problemas de comunicação, déficit cognitivo ou doença psiquiátrica que impedisse a entrevista.

A coleta de dados foi realizada utilizando protocolo de investigação contendo duas partes: a primeira sobre informações demográficas dos pacientes, e a segunda questionando sobre o uso da internet em buscas relacionadas à saúde.

O estudo foi aprovado pelo comitê de ética da instituição (Parecer: 3.661.913).

As variáveis contínuas foram analisadas bivariadamente pelos testes paramétricos t de Student após normalidade das distribuições avaliadas pelo teste de Shapiro‐Wilk. As variáveis categóricas foram comparadas pelos testes de qui‐quadrado ou exato de Fisher, de acordo com o menor número de eventos de cada análise.

As variáveis indicando o tipo de informação buscada e o tipo de ferramenta utilizada foram analisadas por meio de clusters hierárquicos, ligação entre grupos, distância euclidiana, representados por dendogramas de ligação entre centroides.

O tamanho amostral mínimo foi de 130 indivíduos para uma análise exploratória com até 12 variáveis.

Dados categóricos foram representados em números absolutos e/ou percentuais, e dados não categóricos em médias e desvios‐padrão.

A associação entre buscar informações sobre saúde da pele na internet e as demais variáveis demográficas foi avaliada de forma bivariada e, subsequentemente, as variáveis significativas foram incluídas em uma regressão logística multivariada.

Foram considerados significativos valores bicaudais de p ≤ 0,05.

A tabela 1 descreve dados socioeconômicos e o uso da internet dos 148 pacientes participantes da pesquisa; nenhum paciente se recusou a participar.

Tabela 1.

Dados demográficos e socioeconômicos dos pacientes dermatológicos participantes da pesquisa sobre uso da internet para obter informações sobre a saúde da pele

Variável  n (%) 
Idade (média e DP)  44,03 (15,26) 
Sexo
Feminino  105 (70,9) 
Masculino  43 (29,1) 
Escolaridade
Fundamental incompleto  28 (18,9) 
Fundamental completo  20 (13,5) 
Médio completo ou incompleto  57 (38,5) 
Superior completo ou incompleto  43 (29,1) 
Renda
Até 1000 reais  50 (33,8) 
1000 a 3000 reais  74 (50) 
Acima de 3000 reais  24 (16,2) 
Tempo deslocamento
Menos 20 minutos  38 (25,7) 
20 a 60 minutos  44 (29,7) 
Mais de 60 minutos  66 (44,6) 
Acesso à internet em casa  131 (88,5) 
Tem smartphone  135 (91,2) 
Uso para saúde  113 (76,4) 
Uso para saúde de pele  102 (68,9) 
Onde busca informação
Em redes sociais  26 (17,6) 
Troca de mensagens  4 (2,7) 
Motores de busca  81 (54,7) 
Blogs  17 (11,5) 
Sites de notícias  2 (1,4) 
Sites de governo  3 (2) 
Momento em relação ao atendimento
Antes  49 (60,8) 
Depois  27 (45,9) 
Discute com o médico sobre as informações da internet
Nunca / raramente  75 (50,7) 
Às vezes  23 (15,5) 
Frequentemente  13 (8,8) 
Quase sempre  8 (5,4) 
Motivo
Diagnóstico  42 (28,4) 
Tratamento alternativo  40 (27) 
Efeitos colaterais  25 (16,9) 
Prevenção  17 (11,5) 
Prognóstico  24 (16,2) 
Outros  12 (8,1) 
Aparelho
Smartphone  101 (68,2) 
Desktop  17 (11,5) 
Tablet e outros  3 (2) 
Conflito com tratamento médico  34 (23) 
Influencia tratamento  28 (18,9) 
Motivou alteração  4 (2,7) 
Confiança
Muito pouco  25 (16,9) 
Pouco  36 (24,3) 
Médio  41 (27,7) 
Muito/absolutamente  6 (4,1) 
Depende da fonte  9 (6,1) 

A tabela 2 ilustra a associação de variáveis demográficas com ter obtido informações de saúde dermatológica pela internet. A obtenção dessas informações associou‐se aos jovens, mulheres, maior escolaridade e ter acesso domiciliar à internet. Porém, em análise multivariada por regressão logística, incluindo as variáveis com p ≤ 0,05, apenas a idade permaneceu significativa (p<0,01).

Tabela 2.

Características demográficas e associação com a obtenção de informações sobre saúde da pele na internet

Variável  Obteve informação, n (%)  Não obteve informação, n (%)  RP (95% IC) 
Idade (média e DP)  40,2 (13,5)  52,5 (15,6)    <0,01 
Sexo        <0,01 
Feminino  80(78,4)  25 (54,4)  Referência   
Masculino  22 (21,6)  21 (45,6)  0,47 (0,29 a 0,77)   
Escolaridade        <0,01 
Fundamental incompleto  13 (12,8)  15 (32,6)  Referência   
Fundamental completo  12 (11,8)  8 (17,4)  1,38 (0,69 a 2,76)   
Médio completo ou incompleto  40 (39,2)  16 (34,8)  1,46 (1,01 a 2,13)   
Superior completo ou incompleto  37 (36,6)  6 (13,4)  2,59 (1,29 a 5,19)   
Renda        0,81 
Até 1000 reais  35 (34,3)  15 (32,6)  Referência   
1000 a 3000 reais  49 (48)  25 (54,4)  0,93 (0,69 a 1,26)   
Acima de 3000 reais  18 (17,7)  6 (13)  1,19 (0,55 a 2,58)   
Tempo deslocamento        0,89 
Menos 20 minutos  26 (25,5)  12 (26,1)  Referência   
20 a 60 minutos  30 (29,4)  14 (30,4)  0,99 (0,65 a 1,53)   
Mais de 60 minutos  46 (45,1)  20 (43,5)  1,02 (0,74 a 1,41)   
Acesso à internet  97 (95,1)  34 (73,9)  1,29 (1,08 a 1,54)  <0,01 
Tem smartphone  96 (94,1)  39 (84,8)  1,11 (0,97 a 1,27)  0,11 

A confiabilidade das informações não se associou com idade, sexo, escolaridade ou renda; discutir os resultados com o médico correlacionou‐se diretamente com escolaridade (p=0,01 – Qui‐Quadrado de tendência) e renda (p=0,05–Qui‐Quadrado de tendência); ter conflito com a conduta médica não se associou com sexo, idade, escolaridade ou renda; a busca por tratamentos alternativos associou‐se aos jovens (36,82 [12,32]×43,33 [14,17] anos; p=0,02 – teste t de Student) e à maior escolaridade (p<0,01 – Qui‐Quadrado de tendência); e a realização de tratamentos embasados apenas em buscas virtuais associou‐se aos jovens (35,85 [13,21]×42,80 [13,72] anos; p=0,02 – teste t de Student).

A análise de cluster dos tipos de informação mostrou dois principais padrões independentes de buscas, focando diagnóstico, tratamentos e outras informações. Já a análise de portal e ferramentas mostrou padrão de predominância de uso de motores de buscas (figs. 1 e 2).

Figura 1.

Padrões de associação entre os motivos de busca.

(0.11MB).
Figura 2.

Padrões de associação entre as fontes de busca.

(0.12MB).

Identificou‐se que a maioria dos participantes fazem uso da internet para realizar pesquisas relacionadas à saúde, corroborando a hipótese do estudo. Em artigo semelhante publicado pela Universidade de Pittsburgh (2015), identificou‐se também uso da internet para obter informações relacionadas à saúde pela maioria dos participantes (74,7%). No entanto, apenas a minoria utilizava para fins dermatológicos (38,7%).4

Nota‐se, no presente estudo, que a busca de informações se deu principalmente em smartphones, o que pode estar ligado à comodidade e maior facilidade de acesso.

Apesar de a maioria dos entrevistados utilizar a internet para buscas sobre saúde, as informações obtidas não exercem grande influência para a maior parte deles. Um trabalho conduzido em 2015 pela Universidade de Granada descreveu a estabilidade do vínculo entre médico e paciente, mesmo com uso de ferramentas virtuais.5

Contudo, é importante afirmar que aproximadamente 19% dos participantes já realizaram algum tratamento baseando‐se apenas em buscas virtuais e 2,7% já abandonaram um tratamento devido à internet.

Quanto ao motivo da busca, o principal foi diagnóstico, seguido de opções de tratamento, procurados principalmente antes da consulta médica. Todavia, 45% dos entrevistados procuravam informações mesmo após o atendimento, sugerindo a persistência de dúvidas ou insatisfação com abordagem médica.

Apesar de idade, sexo, escolaridade e acesso domiciliar à internet estarem associados à procura por informações sobre saúde dermatológica, em análise bivariada, deve‐se destacar que na análise multivariada apenas a idade manteve‐se significativamente associada à busca por informações em saúde da pele, de modo que provavelmente fatores tecnológicos, socioeconômicos e culturais ligados aos mais jovens levam‐nos a buscarem mais informações sobre saúde dermatológica na internet.

Ressaltamos que este estudo foi realizado em um centro incluindo apenas pacientes da rede pública, o que pode interferir na validade dos resultados para a rede privada ou outras regiões nacionais. Todavia, os resultados foram coerentes com outras pesquisas sobre o mesmo tema.

Portanto, conclui‐se que a busca por informações sobre a saúde dermatológica na internet é frequente, especialmente entre os jovens, porém com baixa confiabilidade atribuída às informações. Assim, é fundamental a adoção de medidas educacionais junto à população sobre onde encontrar informações de boa confiabilidade.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Bianca Latance da Cruz: Levantamento dos dados; interpretação dos dados; revisão crítica do conteúdo intelectual importante; aprovação final da versão enviada.

Arthur Cesar dos Santos Minato: Levantamento dos dados; interpretação dos dados; revisão crítica do conteúdo intelectual importante; aprovação final da versão enviada.

Ioana Bittencourt Mourão: Levantamento dos dados; interpretação dos dados; revisão crítica do conteúdo intelectual importante; aprovação final da versão enviada.

Dayane Neres Pereira: Levantamento dos dados; interpretação dos dados; revisão crítica do conteúdo intelectual importante; aprovação final da versão enviada.

Miguel Huckembeck de Oliveira: Levantamento dos dados; interpretação dos dados; revisão crítica do conteúdo intelectual importante; aprovação final da versão enviada.

Juliano Vilaverde Schmitt: Concepção e o desenho do estudo; levantamento dos dados, ou análise e interpretação dos dados; revisão crítica do conteúdo intelectual importante; aprovação final da versão enviada.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
N.L. Atkinson, S.L. Saperstein, J. Pleis.
Using the internet for health‐related activities: findings from a national probability sample.
J Med Internet Res., 11 (2009), pp. e4
[2]
M. Ybarra, M. Suman.
Reasons, assessments and actions taken: sex and age differences in uses of Internet health information.
Health Educ Res., 23 (2008), pp. 512-521
[3]
F.A. Moretti, V.E. Oliveira, E.M.K. Silva.
Acesso a informações de saúde na internet: uma questão de saúde pública?.
Rev Assoc Med Bras., 58 (2012), pp. 650-658
[4]
J.A. Wolf, J.F. Moreau, T.J. Patton, D.G. Winger, L.K. Ferris.
Prevalence and impact of health‐related internet and smartphone use among dermatology patients.
Cutis., 95 (2015), pp. 323-328
[5]
J. Orgaz-Molina, M. Cotugno, M.S. Girón-Prieto, M.A. Arrabal-Polo, J.C. Ruiz-Carrascosa, A. Buendía-Eisman, et al.
A study of Internet searches for medical information in dermatology patients: The patient‐physician relationship.
Actas Dermosifiliogr., 106 (2015), pp. 493-499

Como citar este artigo: Cruz BL, Minato ACS, Mourão IB, Pereira DN, Oliveira MH, Schmitt JV. Using the internet to obtain dermatological information on patients from the public health network: a cross‐sectional study. An Bras Dermatol. 2022;97:528–31.

Trabalho realizado no Departamento de Infectologia, Dermatologia, Diagnóstico por Imagem e Radioterapia, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil.

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