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Vol. 94. Núm. 6.
Páginas 762-763 (Novembro - Dezembro 2019)
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Vol. 94. Núm. 6.
Páginas 762-763 (Novembro - Dezembro 2019)
Caso clínico
Open Access
Reativação simultânea por vírus varicela zoster e herpes simplex em idoso imunocompetente
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Miguel Costa‐Silvaa,
, Joana Sobrinho‐Simõesb, Filomena Azevedoa, Carmen Lisboaa,c
a Departamento de Dermatologia e Venereologia, Centro Hospitalar Universitário de São João, EPE, Porto, Portugal
b Departamento de Patologia Clínica, Centro Hospitalar Universitário de São João, EPE, Porto, Portugal
c Departamento de Microbiologia, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal
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Prezado Editor,

As infecções cutâneas pelo vírus herpes simplex (VHS) e pelo vírus varicela zoster (VVZ), ambos pertencentes à subfamília alfa dos herpes vírus, são relativamente comuns.1 Após a infecção primária, tanto o VHS quanto o VVZ permanecem latentes no tecido nervoso durante a vida e podem reativar.2 Foi demonstrado que o VVZ e o VHS podem permanecer latentes no mesmo gânglio nervoso.2 No entanto, a reativação simultânea do VHS e do VVZ é rara. Giehl et al. relataram que 20 (1,2%) de 1.718 pacientes com infecção por herpes vírus tinham infecção simultânea por VVZ e VHS.1

Um homem de 78 anos apresentou‐se à nossa clínica de dermatologia com múltiplas lesões vesiculares dolorosas localizadas no antebraço esquerdo e na mão esquerda (dermátomos C6-8) e região lombar esquerda (dermátomo T12), com quatro dias de evolução (figs. 1 e 2). Antes de nossa observação, o paciente havia sido tratado com valerato de betametasona tópico por três dias. O paciente não tinha antecedentes pessoais de relevo além de varicela na infância. Investigações laboratoriais revelaram um nível elevado de proteína C‐reativa de 1,2mg/dL, sugeriram uma leve reação inflamatória. Outros exames de sangue, inclusive níveis de imunoglobulina, vírus da hepatite B, vírus da hepatite C, vírus da imunodeficiência humana e sorologia para sífilis foram normais ou negativos. As IgG específicas para VHS‐1 e VVZ foram positivas, enquanto as IgM para VHS e VVZ foram negativas. O teste de reação da polimerase em cadeia em tempo real (PCR) detectou DNA de VVZ e VHS‐1 nas lesões do antebraço esquerdo e da mão esquerda e apenas DNA VVZ nas lesões lombares. Um curso de sete dias de valaciclovir 1000 MG 8/8h resultou em resolução completa das lesões.

Figura 1.

Lesões vesiculares múltiplas acometem o antebraço esquerdo e a mão esquerda.

Figura 2.

Lesões vesiculares múltiplas acometem a região lombar esquerda.

O VHS e o VVZ são vírus de DNA que compartilham alguns atributos biológicos, mas, ao mesmo tempo, diferem significativamente e essas diferenças podem explicar o motivo pelo qual a reativação simultânea é rara.1,3 Em pacientes imunocompetentes, a VHS é reativada várias vezes durante a vida, mas a reativação do VVZ geralmente ocorre apenas uma única vez.3,4 A probabilidade de reativação de VVZ aumenta com a idade, enquanto as recorrências de VHS diminuem com o avançar da idade, provavelmente devido à maturação da resposta imune.1,3 O VHS e o VVZ também diferem em sua capacidade relativa de reativar em resposta a estímulos que perturbam a função neuronal.3,4 O VHS parece ser reativado por fatores predisponentes, como exposição à luz UV, trauma, febre e estresse.3,4 Embora relatos descrevam indução de zoster após trauma e radiação, o VVZ não se reativa consistentemente em resposta a estímulos reconhecíveis.3,4

A reativação concomitante de VVZ e VHS é possível em pacientes imunocompetentes e imunodeprimidos, embora seja mais comum nesse último grupo.1 Pode ocorrer em diferentes locais do corpo ou no mesmo local, e parece ser mais comum naqueles com ≥ 50 anos.1 O herpes simplex pode preceder, apresentar‐se simultaneamente ou após as lesões cutâneas de zoster.1 O tratamento clínico deve ser iniciado como no protocolo zoster.2

Relatamos um caso de reativação simultânea de VVZ e VHS em um homem idoso imunocompetente sem história clínica de herpes simples, mas com evidência sorológica de infeção passada. A combinação de alta sensibilidade e especificidade, baixo risco de contaminação e velocidade tornou a tecnologia de PCR em tempo real um excelente método de teste para diagnosticar muitas doenças infecciosas.5 O sistema fechado de amplificação e detecção usado com PCR em tempo real praticamente elimina o risco de contaminação.5 Além disso, o gene alvo para a detecção de VHS e VVZ é diferente, elimina a possibilidade de reação cruzada.5 Em nosso caso, os resultados por PCR em tempo real foram fortemente positivos e, após a repetição, confirmaram o resultado. O teste de PCR tornou possível a detecção e identificação do DNA viral e esse conhecimento pode contribuir para o entendimento da fisiopatologia dessas infeções latentes.

A infeção simultânea com VVZ e VHS foi suspeitada devido à apresentação clínica atípica em nosso paciente. Os dermatologistas devem estar atentos para essa possibilidade, a fim de garantir o diagnóstico correto e o tratamento adequado.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Miguel Costa‐Silva: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Joana Sobrinho‐Simões: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.

Filomena Azevedo: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.

Carmen Lisboa: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Referências
[1]
K.A. Giehl, E. Müller-Sander, M. Rottenkolber, K. Degitz, M. Volkenandt, C. Berking.
Identification and characterization of 20 immunocompetent patients with simultaneous varicella zoster and herpes simplex virus infection.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 22 (2008), pp. 722-728
[2]
D. Theil, T. Derfuss, M. Strupp, D.H. Gilden, V. Arbusow, T. Brandt.
Cranial nerve palsies: herpes simplex virus type 1 and varizella‐zoster virus latency.
Ann Neurol., 51 (2002), pp. 273-274
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H.H. Park, M.H. Lee.
Concurrent reactivation of varicella zoster virus and herpes simplex virus in an immunocompetent child.
J Korean Med Sci., 19 (2004), pp. 598-600
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C. Bergqvist, Y. Abi Aad, D. Nassar, S. El Zein, S.S. Kanj.
Disseminated herpes simplex virus and varicella zoster virus co‐infection in a patient with idiopathic thrombocytopenic purpura.
J Infect Public Health., (2018),
[5]
M.J. Espy, J.R. Uhl, L.M. Sloan, S.P. Buckwalter, M.F. Jones, E.A. Vetter, et al.
Real‐time PCR in clinical microbiology: applications for routine laboratory testing.
Clin Microbiol Rev., 19 (2006), pp. 165-256

Como citar este artigo: Costa‐Silva M, Sobrinho‐Simões J, Azevedo F, Lisboa C. Concurrent reactivation of varicella zoster virus and herpes simplex virus in an immunocompetent elderly male. An Bras Dermatol. 2019;94:762–3.

Trabalho realizado no Centro Hospitalar Universitário de São João, EPE, Porto, Portugal.

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