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Vol. 96. Núm. 3.
Páginas 365-366 (1 maio 2021)
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Vol. 96. Núm. 3.
Páginas 365-366 (1 maio 2021)
Carta ‐ Investigação
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Taxas de letalidade e hospitalizações por doenças dermatológicas no Brasil no contexto da pandemia de COVID‐19
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Vanessa Barreto Rochaa,
Autor para correspondência
vanessabarreto.vbr@gmail.com

Autor para correspondência.
, Claudia Cristina de Aguiar Pereirab, Leticia Arsie Continc, Carla Jorge Machadod
a Hospital das Clínicas, Belo Horizonte, MG, Brasil
b Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
c Hospital do Servidor Público Municipal, Clínica de Dermatologia, São Paulo, SP, Brasil
d Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
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Tabelas (1)
Tabela 1. Taxas de hospitalização e mortalidade por doenças dermatológicas no Brasil em março e abril (2015 a 2019) em comparação com os mesmos meses de 2020, no contexto da pandemia de COVID‐19
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Prezado Editor,

A Dermatologia é uma especialidade eminentemente ambulatorial. As hospitalizações são incomuns; no entanto, podem trazer impactos importantes sobre a morbimortalidade. Existem poucos estudos sobre as taxas de hospitalização e mortalidade por doenças dermatológicas, principalmente no Brasil.1,2

Em meio à pandemia por COVID‐19, várias especialidades médicas relataram que os pacientes vêm adiando suas consultas de rotina e de acompanhamento. Esse comportamento tem levado os pacientes a procurarem atendimento apenas quando atingem estado grave.3–6

Até o momento, não há relatos publicados sobre como a pandemia mudou esse cenário na Dermatologia no Brasil. O objetivo deste estudo ecológico foi investigar hospitalizações e óbitos por doenças dermatológicas no período pandêmico da COVID‐19, comparando os achados de letalidade com aqueles relacionados ao período de cinco anos que antecedeu a pandemia. A hipótese é que a letalidade por doenças dermatológicas tenha aumentado em 2020 em relação a 2015‐2019 no Brasil.

Os dados oficiais de morbidade hospitalar são disponibilizados pelo Departamento de Tecnologia da Informação do Sistema Único de Saúde (DATASUS – www.datasus.saude.gov.br), por meio do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), o qual descreve as internações de todos os hospitais públicos, que representa mais de 75% do total de internações (públicas e privadas) no Brasil.

A tabela 1 resume internações e óbitos por doenças dermatológicas entre março e agosto (seis meses) de 2015 a 2019 e nos mesmos meses de 2020. A partir desses dados foi possível obter as taxas de letalidade hospitalar, bem como os riscos relativos de letalidade em 2020 (comparados a 2019).

Tabela 1.

Taxas de hospitalização e mortalidade por doenças dermatológicas no Brasil em março e abril (2015 a 2019) em comparação com os mesmos meses de 2020, no contexto da pandemia de COVID‐19

Códigos e descrições CID‐10  Hospitalizações em março a agosto (A)Mortes em março a agosto (B)Letalidade(B)×100/(A)Risco relativo(IC 95%)  Valor de p para o risco relativo 
  2015 a 2019 (média)  2020  2015 a 2019(média)  2020  2015 a 2019(média)  2020     
C43‐C44; D22‐D23 Neoplasias cutâneas  28.865  21.926  485  508  1,68  2,32  1,38 (1,22;1,56)  <0,001 
--C43‐C44 Melanoma e outras neoplasias malignas da pele  24.293  19.929  484  506  1,99  2,54  1,27 (1,13;1,44)  <0,001 
--D22‐D23 Neoplasia benigna da pele  4.572  1.997  0,02  0,10  4,58 (0,42;50,5)  0,172 
L00‐L99 Doenças da pele e tecido subcutâneo  131.325  90.182  2.004  1.947  1,53  2,16  1,42 (1,33;1,51)  <0,001 
--L00‐L08 Infecções da pele e tecido subcutâneo  46.725  35.034  506  514  1,08  1,47  1,36 (1,19;1,53)  <0,001 
--L00‐L09 Outras doenças da pele e tecido subcutâneo  84.601  55.148  1.498  1.433  1,77  2,60  1,47 (1,37;1,58)  <0,001 
Total  160.191  112.108  2.489  2.455  1,55  2,19  1,41 (1,33;1,49)  <0,001 

Nota: Os valores de p para riscos relativos associados às taxas de letalidade foram obtidos com base na distribuição Qui‐Quadrado (software Stata/SE versão 12.0 para Mac, comando csi).

Houve aumento em todas as taxas de letalidade dermatológica em relação à média de março e abril dos anos de 2015 a 2019, exceto para neoplasia benigna da pele (p=0,214). Exceção feita a essa doença, para todas as demais a hipótese do presente estudo foi confirmada. Ademais, riscos relativos de letalidade hospitalar dermatológica variaram de 1,27 a 1,47 (p <0,001), indicando letalidades entre 27% a 47% superiores nos primeiros seis meses de 2020 comparados aos mesmos seis meses de 2015 a 2019.

Como limitações do estudo, há a falta de estratificação das doenças dermatológicas nos dados, em decorrência da maneira como as doenças são tabuladas no DATASUS, com muitos CIDs genéricos. Há, ainda, a possibilidade de problemas de registro de CID e de grande número de casos indeterminados entre os registros.

A Dermatologia apresenta doenças de alta morbimortalidade, como pênfigos, farmacodermias, doenças autoimunes, algumas infecções e cânceres. Elas não podem ser negligenciadas, mesmo durante a emergência da COVID‐19. Somente o estudo sistemático individualizado de óbitos por doenças dermatológicas durante a pandemia de COVID‐19 pode corroborar a hipótese levantada no presente estudo. Entretanto, os resultados refletem a importância da assistência especializada, hospitalar, no cuidado de dermatoses graves. Assim, é importante que os pacientes de maior gravidade sejam acompanhados, mesmo a distância.

Como em outras especialidades, um efeito colateral da crise de saúde pública causada pela COVID‐19 é o atraso no diagnóstico de doenças, muitas vezes decorrente do medo de contrair o SARS‐CoV‐2 em ambientes de saúde. O adiamento da procura de atendimento pode piorar a saúde geral dos pacientes, levando à morte. No Brasil, um fator adicional que pode fomentar esse comportamento é o desgaste sem precedentes do sistema de saúde, devido às necessidades impostas pelo grande número de pacientes atendidos com COVID‐19.7

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Vanessa Barreto Rocha: Concepção e desenho do estudo; levantamento dos dados; análise e interpretação dos dados; redação do artigo e revisão crítica; aprovação final da versão a ser enviada.

Claudia Cristina de Aguiar Pereira: Concepção e desenho do estudo; levantamento dos dados; análise e interpretação dos dados; revisão crítica; aprovação final da versão a ser enviada.

Leticia Arsie Contin: Concepção e desenho do estudo; levantamento dos dados; análise e interpretação dos dados; revisão crítica; aprovação final da versão a ser enviada.

Carla Jorge Machado: Concepção e desenho do estudo; levantamento dos dados; análise e interpretação dos dados; revisão crítica; aprovação final da versão a ser enviada.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
L. de Paula Samorano-Lima, L.M. Quitério, J.A. Sanches, C.F. Neto.
Inpatient dermatology: profile of patients and characteristics of admissions to a tertiary dermatology inpatient unit in São Paulo.
Brazil. Int J Dermatol., 53 (2014), pp. 685-691
[2]
L.A.R. Brito, A.C.M.D. Nascimento, C. Marque, H.A. Miot.
Seasonality of the hospitalizations at a dermatologic ward (2007‐2017).
An Bras Dermatol., 93 (2018), pp. 755-758
[3]
O. De Filippo, F. D’Ascenzo, F. Angelini, P.P. Bocchino, F. Conrotto, A. Saglietto, et al.
Reduced Rate of Hospital Admissions for ACS during COVID‐19 Outbreak in Northern Italy.
N Engl J Med., 383 (2020), pp. 88-89
[4]
S.J. Lange, M.D. Ritchey, A.B. Goodman, T. Dias, E. Twentyman, J. Fuld, et al.
Potential Indirect Effects of the COVID‐19 Pandemic on Use of Emergency Departments for Acute Life‐Threatening Conditions – United States, January‐May 2020.
MMWR Morb Mortal Wkly Rep., 69 (2020),
[5]
K. Huynh.
Reduced hospital admissions for ACS – more collateral damage from COVID‐19.
Nat Rev Cardiol., 17 (2020), pp. 453
[6]
C.W. Sung, T.C. Lu, C.C. Fang, C.H. Huang, W.J. Chen, S.C. Chen, et al.
Impact of COVID‐19 pandemic on emergency department services acuity and possible collateral damage.
Resuscitation., 153 (2020), pp. 185-186
[7]
W.J. Requia, E.K. Kondo, M.D. Adams, D.R. Gold, C.J. Struchiner.
Risk of the Brazilian health care system over 5572 municipalities to exceed health care capacity due to the 2019 novel coronavirus (COVID‐19).
Sci Total Environ., 730 (2020), pp. 139-144

Como citar este artigo: Rocha VB, Pereira CCA, Contin LA, Machado CJ. Case‐fatality and hospitalization rates for dermatological diseases in Brazil in the context of the COVID‐19 pandemic. An Bras Dermatol. 2021;96:365–6.

Estudo realizado na Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

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