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Disponível online em 5 de setembro de 2024
Tendências de detecção de neoplasias cutâneas malignas na Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer de Pele (2000‐2023)
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Aline Guimarães Granaa, Heitor de Sá Gonçalvesb, Carlos Baptista Barcauic, Carolina Talharia,
Autor para correspondência
carolinatalhari@gmail.com

Autor para correspondência.
, Hélio Amante Miotd
a Programa de Pós‐Graduação em Ciências Aplicadas à Dermatologia, Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, AM, Brasil
b Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libânia, Secretaria da Saúde, Governo do Estado do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil
c Instituto de Dermatologia Prof. Rubem David Azulay, Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
d Departamento de Infectologia, Dermatologia, Diagnóstico por Imagem e Radioterapia, Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
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Recebido 20 Março 2024. Aceite 29 Abril 2024
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Tabela 1. Principais dados referentes às campanhas do câncer de pele (2000 a 2023)
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Prezado Editor,

A Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer de Pele (CNPCP) é uma atividade que ocorre anualmente, desde 1999, visando a educação e o combate à doença, que difunde informação, promove educação em saúde, diagnóstico e tratamento de qualidade gratuitamente à população, a partir do exame presencial de milhares de indivíduos, em um único dia de verão. A CNPCP está integrada ao projeto “Dezembro Laranja”, coordenado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), e que conta com a participação de serviços credenciados e de associados de todo o Brasil.1

Segundo os boletins da SBD, desde a primeira edição a CNPCP já promoveu o exame de mais de 600 mil indivíduos e levou à suspeita diagnóstica de mais de 75 mil lesões neoplásicas malignas da pele, entre carcinomas basocelulares (CBC), espinocelulares (CEC) e melanomas. Trata‐se da maior ação mundial de rastreamento de neoplasias cutâneas malignas, superando as iniciativas da comunidade europeia.2 Além das ações associadas à educação populacional em saúde, incentivo ao autoexame e prevenção (primária e secundária), a CNPCP gera informações que podem subsidiar políticas públicas, valorização profissional, além de orientar a formação de especialistas e o dimensionamento da força de atendimento dermatológico.

Este estudo objetivou descrever os principais dados e avaliar aspectos associados à tendência da suspeita de neoplasias cutâneas malignas resultantes da CNPCP.

Foram obtidos dados dos participantes da CNPCP junto à SBD, que foram resumidos, nacionalmente, e analisados de acordo com o ano da campanha (2000 a 2023). As séries temporais foram analisadas segundo modelos autorregressivos integrados de médias móveis (ARIMA), com imputação para os dados faltantes. A correlação entre as variáveis foi estimada pelo coeficiente de correlação (r) de Pearson, que varia de −1 a +1; o sinal indica direção positiva ou negativa da correlação entre as variáveis, e o valor sugere a dimensão dessa correlação.3 Considerou‐se significante p‐valor<0,05.

A tabela 1 apresenta os principais dados resumidos das campanhas. O número de atendimentos apresentou pico, seguido de redução gradual a partir de 2006 (fig. 1). A proporção de casos suspeitos de neoplasias cutâneas malignas, entre os casos atendidos, aumentou em função dos anos (fig. 2), partindo de 7,7% (2000) para 29,3% dos atendimentos (2023).

Tabela 1.

Principais dados referentes às campanhas do câncer de pele (2000 a 2023)

Ano  Atendimentos  Sexo masculino  Brancos  Pardos  Negros  Exposição solar sem proteção  CAP prévio  CAP familiar  Suspeita de CBC  Suspeita de CEC  Suspeita de MM  Suspeita de CAP 
2000  24.500  NA  NA  NA  NA  NA  NA  NA  5,8%  0,8%  0,5%  7,7% 
2001  32.007  35,2%  57,2%  29,8%  6,4%  61,5%  5,3%  12,2%  5,8%  1,0%  0,5%  7,9% 
2002  27.758  NA  NA  NA  NA  69,0%  NA  NA  6,5%  1,5%  0,5%  8,6% 
2003  37.853  37,9%  62,7%  29,6%  6,8%  69,6%  7,1%  14,4%  6,5%  1,2%  0,6%  8,6% 
2004  33.682  40,0%  65,1%  27,3%  6,5%  69,4%  NA  NA  6,3%  1,3%  0,5%  8,4% 
2005  34.928  NA  NA  NA  6,5%  68,5%  NA  NA  7,0%  1,5%  0,7%  8,7% 
2006  41.751  NA  NA  NA  NA  67,6%  NA  NA  NA  NA  NA  9,5% 
2007  31.429  37,5%  NA  NA  NA  67,7%  8,1%  16,6%  NA  NA  0,6%  10,0% 
2009  35.019  39,2%  61,4%  30,9%  6,8%  64,5%  9,1%  17,8%  8,2%  1,9%  0,9%  11,6% 
2010  32.376  37,6%  62,9%  29,0%  7,0%  63,3%  9,2%  18,5%  8,4%  1,9%  0,9%  11,7% 
2011  31.697  39,2%  64,8%  27,9%  6,0%  61,4%  11,3%  20,3%  9,3%  2,2%  1,0%  13,2% 
2012  33.259  39,4%  63,8%  28,9%  6,0%  62,9%  11,5%  21,4%  9,9%  2,5%  1,1%  14,3% 
2013  28.895  38,1%  62,1%  30,4%  5,8%  61,0%  11,0%  22,5%  9,4%  2,2%  1,2%  13,5% 
2014  24.727  39,1%  60,7%  31,4%  6,2%  59,9%  12,0%  23,0%  10,1%  2,4%  1,1%  14,3% 
2015  24.092  40,7%  NA  58,8%  6,9%  63,0%  11,0%  22,8%  10,1%  2,6%  1,3%  14,7% 
2016  28.132  39,6%  36,3%  52,5%  7,2%  63,7%  12,5%  23,1%  10,0%  2,9%  1,4%  15,1% 
2017  26.480  39,2%  33,8%  53,9%  8,1%  63,6%  12,2%  24,2%  10,5%  2,8%  1,4%  15,5% 
2018  25.006  39,8%  36,9%  52,4%  6,7%  62,2%  14,4%  24,9%  11,0%  3,4%  1,4%  16,8% 
2019  23.227  40,6%  37,8%  55,4%  6,9%  62,9%  13,9%  24,7%  12,1%  3,7%  1,8%  18,5% 
2022  11.604  39,3%  37,3%  56,2%  6,4%  63,3%  15,2%  27,4%  15,2%  4,6%  2,3%  23,5% 
2023  15.967  45,8%  45,8%  62,8%  8,4%  73,9%  18,9%  31,3%  18,8%  6,1%  2,8%  29,3% 

NA, não disponível; CAP, câncer de pele; CBC, carcinoma basocelular; CEC, carcinoma espinocelular; MM, melanoma.

Figura 1.

Série temporal do número de atendimentos e do número de suspeitos de câncer de pele (CAP) entre os atendidos nas Campanhas Nacionais de Prevenção de Câncer de Pele (2000‐2023). Nota: Não são disponíveis os dados da campanha de 2008, e não houve atendimentos nos anos de 2020 e 2021, pelo contingenciamento da pandemia de COVID‐19.

(0.19MB).
Figura 2.

Taxas de suspeitas de câncer de pele (carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e melanoma) entre os atendidos nas Campanhas Nacionais de Prevenção de Câncer de Pele (2000‐2023). Nota: Não são disponíveis os dados da Campanha de 2008, e não houve atendimentos nos anos de 2020 e 2021, pelo contingenciamento da pandemia de COVID‐19.

(0.16MB).

O incremento médio anual linear foi 0,53% (0,47‐0,58%) na taxa de suspeitas de neoplasias malignas da pele até 2019 (p <0,01); entretanto, os valores de 2022 e 2023 incidiram acima dessa projeção. Segundo o modelo de séries temporais, a previsão nacional (95% IC) de suspeita de neoplasias cutâneas malignas para a CNPCP de 2024 é de 32,7% (30,4‐35,1%) dos atendimentos (R2=0,96).

Quando avaliadas as correlações entre as taxas de suspeitas de neoplasias malignas da pele e as demais covariáveis, a proporção de atendimento de homens, de pardos, de indivíduos com histórico pessoal de câncer de pele e de atendimentos de pessoas com histórico familiar de câncer de pele foram correlacionados positivamente ao desfecho (p <0,01), enquanto a proporção de indivíduos que não aderem à fotoproteção não se correlacionou à taxa de suspeita de neoplasias cutâneas malignas nessa série temporal (fig. 3).

Figura 3.

Mapa térmico com os coeficientes de correlação de Pearson referentes às covariáveis do estudo. Masc, sexo masculino; Sol EXP, exposição solar desprotegido; PrevCAP, histórico pessoal de câncer de pele; FamCAP, histórico familiar de câncer de pele; SuspCBC, suspeita de carcinoma basocelular; SuspCEC, suspeita de carcinoma espinocelular; SuspMM, suspeita de melanoma; SuspCAP, suspeita de câncer de pele.

(0.36MB).

Individualmente, as taxas de suspeição das neoplasias malignas da pele (CBC, CEC e melanoma) aumentaram proporcionalmente, no período, e apresentaram alta correlação (r >0,8) entre si (fig. 3). A previsão de suspeitas dessas neoplasias para a CNPCP de 2024 é 20,1% (16,1‐24,7%) para CBC, 6,2% (5,0‐7,4%) para CEC e 3,1% (2,0‐4,0%) para melanoma.

A crescente taxa de suspeita de neoplasias malignas da pele na CNPCP pode refletir vários aspectos, como efeito da conscientização dos participantes de risco (efetiva educação em saúde), envelhecimento da população, aumento da incidência de câncer de pele, incremento da irradiação solar e até a busca abreviada pela resolutividade diante da demora para o agendamento das consultas dermatológicas no sistema público de saúde.4–6 O aprimoramento da coleta de dados, nas próximas campanhas, seria importante e poderia, eventualmente, explorar as causas subjacentes a esse fenômeno.

O conhecimento sobre câncer de pele e a aderência a estratégias de fotoproteção tem o potencial de reduzir a incidência e a morbimortalidade do câncer de pele, com potencial redução de custos para o sistema de saúde. Além das diferentes morfologias dos cânceres de pele, a diversidade étnica, climática e de padrões de exposição solar que caracterizam a realidade da população brasileira impõe desafios na elaboração de estratégias únicas de educação. Mesmo entre populações instruídas, em regiões de maior risco, como universitários do Rio Grande do Sul, há baixa aderência à fotoproteção diária, alta frequência de queimaduras solares e conhecimento ainda insuficiente sobre fotoeducação.7

As mudanças climáticas, como a redução da cobertura de nuvens, bem como depleção da camada de ozônio e aumento da atividade solar, são cofatores conhecidamente associados à maior irradiação ultravioleta na superfície do planeta, o que é fundamental na carcinogênese cutânea.8,9 Na comunidade albina do Malawi, ondas de calor causadas pelas alterações climáticas foram associadas ao risco de câncer de pele, que causa 90% de todas as mortes nesses indivíduos. No país, a expectativa de vida é de 65 anos; no entanto, na comunidade albina, é inferior a 30 anos.10

A CNPCP tem efeito importante na identificação precoce de neoplasias cutâneas malignas em indivíduos de risco. Em um serviço público terciário, no interior de São Paulo, os CBC identificados na CNPCP apresentaram menor diâmetro que os encaminhados via sistema de saúde, efeito que foi mais notável em homens.11 Entretanto, a dificuldade dos serviços públicos em assumir a resolutividade cirúrgica dos casos identificados na campanha é um desafio institucional para suas adesões à campanha.

As limitações do presente estudo baseiam‐se na qualidade da informação preenchida pelos dermatologistas, na falta de informações ligadas à faixa etária dos atendimentos, ausência de dados detalhados referentes à campanha de 2008, na falta da confirmação diagnóstica dos casos suspeitos, na amostragem apenas de grandes centros urbanos onde ocorrem as campanhas e na ausência do evento nos anos da pandemia de COVID‐19 (2020 e 2021). Apesar de a CNPCP ocorrer em âmbito nacional, o Brasil apresenta variações geoclimáticas e étnicas, bem como políticas de saúde bastante regionalizadas. Dessa maneira, os resultados das campanhas podem apresentar particularidades regionais que não foram alvo deste estudo.

Em conclusão, houve aumento gradual na taxa de suspeita diagnóstica de neoplasias cutâneas, na CNPCP, no período estudado. As ações do “Dezembro Laranja”, entre elas a CNPCP, são importantes na promoção de saúde pública em Dermatologia.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Aline Guimarães Grana: Concepção e planejamento do estudo; análise e interpretação dos dados; análise estatística; redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Heitor de Sá Gonçalves: Redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Carlos Baptista Barcaui: Redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Carolina Talhari: Concepção e planejamento do estudo; análise e interpretação dos dados; análise estatística; redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.

Hélio Amante Miot: Concepção e planejamento do estudo; Análise e interpretação dos dados; análise estatística; Redação do artigo; Revisão crítica de literatura; Revisão crítica do manuscrito; Aprovação da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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Como citar este artigo: Grana AG, Gonçalves HS, Barcaui CB, Talhari C, Miot HA. Trends on detecting malignant skin neoplasms during the National Campaigns of Skin Cancer Prevention (2000‐2023). An Bras Dermatol. 2024;99. https://doi.org/10.1016/j.abd.2024.04.002

Trabalho realizado no Programa de Pós‐Graduação em Ciências Aplicadas à Dermatologia, Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, AM, Brasil.

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