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Vol. 99. Núm. 5.
Páginas 791-792 (1 setembro 2024)
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Vol. 99. Núm. 5.
Páginas 791-792 (1 setembro 2024)
Cartas ‐ Terapia
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Uso de rituximabe em dose baixa no tratamento do pênfigo
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Sandra M.B. Durãesa, Nathália R. Santosb, Clarissa N. Batznera,
Autor para correspondência
clarissa.nbatzner@gmail.com

Autor para correspondência.
, Fernando G.M. Cerqueirab
a Departamento de Clínica Médica, Hospital Universitário Antônio Pedro, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil
b Departamento de Clínica Médica, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil
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Tabela 1. Características dos pacientes
Tabela 2. Desfechos do tratamento com Rituximabe em dosas baixas.
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Prezado Editor,

O pênfigo é uma doença imunobolhosa rara, crônica e recidivante mediada por anticorpos antidesmogleína, que está associado à morbidade e mortalidade significantes.1 O tratamento de primeira linha atualmente recomendado inclui altas doses de corticosteroides sistêmicos combinados com medicamento poupador de corticosteroides, geralmente azatioprina ou micofenolato mofetil, mas também metotrexato, cloroquina ou sulfona.1 Como a imunossupressão em longo prazo é necessária para o controle adequado da doença, essa terapia está associada a efeitos adversos e complicações graves.1,2

O rituximabe (RTX) é anticorpo monoclonal quimérico anti‐CD20 que induz a depleção de linfócitos B in vivo.1 Esse medicamento é liberado pela Agência Reguladora Brasileira para uso em linfoma não Hodgkin, artrite reumatoide, leucemia linfoide crônica, poliangiite granulomatosa e poliangiite microscópica. No entanto, ele tem sido utilizado no tratamento de pênfigo refratário, embora a experiência de seu uso como medicamento poupador de corticosteroide de primeira linha seja limitada.2

Estudos recentes relataram que o RTX é eficaz no pênfigo vulgar (PV) e no pênfigo foliáceo (PF) refratário como protocolo de baixa dose. Um único ciclo de duas infusões de 500mg de RTX com intervalo de duas semanas levou à remissão completa da doença na maioria dos casos.3,4 Isso representa menos da metade da dose utilizada para doenças reumatológicas e também menor custo da terapia.4 Os pacientes que recidivaram foram tratados com ciclos adicionais de RTX em baixas doses, resultando no controle subsequente da doença.3,4

Apresentamos cinco pacientes com pênfigo: três com PV e dois com PF. Todos foram tratados inicialmente com terapia de primeira linha, mas por apresentarem quadro refratário ou evolução agressiva, foram submetidos ao protocolo com RTX associado ou não à terapia adjuvante. As características dos pacientes, comorbidades e terapia anterior estão descritas na tabela 1. Esse regime de baixa dose consistiu em quatro infusões de RTX 500mg, administradas mensalmente. No entanto, o Paciente 2 interrompeu o ciclo após a segunda dose por questões burocráticas e, como a remissão não foi alcançada, foi proposto novo ciclo no ano seguinte. A remissão da doença significa redução acentuada da gravidade de seus sinais e sintomas, ou seu desaparecimento temporário. O Paciente 5 desenvolveu infecção pulmonar após a segunda dose, interrompendo o tratamento. Todos os pacientes estão em seguimento até o momento. O tempo desde a primeira infusão, intervalo de remissão, recidiva e efeitos adversos estão detalhados na tabela 2.

Tabela 1.

Características dos pacientes

Paciente  Gênero  Idade  Comorbidade  Diagnóstico  Tempo de evolução (meses)  Terapia anterior 
Masculino  63  Dislipidemia  PV  84  CS, AZA 
Feminino  64  Hipertensão, diabetes, dislipidemia, hipotireoidismo  PF  29  CS, CQ, AZA 
Feminino  25  –  PF  37  CS, DDS, AZA 
Masculino  46  –  PV  12  CS, MMF, AZA 
Masculino  49  Tuberculose pulmonar anterior  PV  CS, AZA 

PV, pênfigo vulgar; PF, pênfigo foliáceo; CS, corticosteroides sistêmicos; AZA, azatioprina; CQ, cloroquina; DDS, diamino‐difenil‐sulfona; MMF, micofenolato mofetil.

Tabela 2.

Desfechos do tratamento com Rituximabe em dosas baixas.

Paciente  Data da 1ª infusão  Final do protocolo  Alcance da remissão (doses/semanas)  Doses recebidas/semanas no protocolo  Tempo livre de doença (meses)  Recorrência (meses)  Efeitos adversos  Medicamentos mantidos 
Dezembro/2012  Agosto/2013  4/4  2/36  117  38  –  Corticosteroides tópicos 
Maio/2014  Agosto/2014  3/66  3/17  99  42  –  Corticosteroides tópicos 
Janeiro/2017  Abril/2017  4/4  4/15  69  –  –  – 
Novembro/2017  Fevereiro/2018  4/5  4/16  58  –  –  – 
Fevereiro/2018  Fevereiro/2018  2/8  2/5  57  –  Pneumonia  – 

Como pode ser observado nessas tabelas, os pacientes alcançaram remissão da doença muito rapidamente após o término do ciclo de RTX. Apenas um paciente apresentou efeito adverso – infecção pulmonar de pequeno grau, que foi tratada. Também foi possível observar a baixa incidência de recorrência e o tempo prolongado de remissão. O Paciente 2, que inicialmente recebeu apenas duas doses de RTX, entrou em remissão quatro semanas após a primeira infusão e permaneceu sem novas lesões por cinco meses. Quatorze meses após a primeira dose, esse paciente recebeu outro ciclo de RTX, após o qual obteve remissão que durou 42 meses. Atualmente apresenta poucas lesões, tratadas apenas com medicamentos tópicos. O Paciente 1 apresentou recidiva discreta da doença após 38 meses, e foi tratado apenas com corticoide tópico.

Como o pênfigo é uma doença rara e o RTX é uma terapia cara, existem poucas séries de casos que demonstrem eficácia e poucos efeitos adversos, e ainda não há evidências sobre a dose ideal e os protocolos de manutenção. Dois estudos sobre RTX em dose baixa no pênfigo utilizaram duas infusões de 500mg com duas semanas de intervalo. O primeiro relatou 15 pacientes com seis recidivas, e o segundo acompanhou nove pacientes com três recidivas que necessitaram de retratamento.3,4 Em um estudo recente, oito pacientes receberam duas infusões de 200mg de RTX com 14 dias de intervalo, o que pode ser considerado dose ultrabaixa de RTX.5

Contudo, algumas observações sugerem que a introdução precoce do RTX é ainda mais benéfica. Um estudo multicêntrico prospectivo com 90 pacientes demonstrou que o RTX associado a baixas doses de corticosteroides como tratamento de primeira linha no pênfigo foi eficaz em alcançar a remissão de maneira mais rápida e duradoura do que em pacientes que iniciaram o tratamento apenas com medicação padrão.2 No entanto, esses resultados não puderam ser observados na presente série de casos, tanto pelo pequeno tamanho da amostra quanto porque o protocolo não pôde ser seguido em todos os cinco pacientes. Na pequena presente série de casos, o RTX utilizado como terapia em baixas doses para pênfigo, associado ou não a corticosteroides sistêmicos e outros agentes imunossupressores, garantiu remissão rápida e duradoura, poupando os pacientes dos riscos potenciais de efeitos adversos do tratamento de primeira linha. Mais estudos são necessários para determinar a melhor dose, a associação com terapia adjuvante, os riscos e custos desse tratamento, que já se mostrou vantajoso para pacientes com pênfigo.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Sandra M. B. Durães: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em condução propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão da literatura e aprovação da versão final do manuscrito.

Nathália R. Santos: Concepção e planejamento do estudo; análise dos dados; elaboração e redação do manuscrito; interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão da literatura e aprovação da versão final do manuscrito.

Clarissa N. Batzner: Concepção e planejamento do estudo; análise dos dados; elaboração e redação do manuscrito; interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão da literatura e aprovação da versão final do manuscrito.

Fernando G. M. Cerqueira: Concepção e planejamento do estudo; análise dos dados; elaboração e redação do manuscrito; interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa e revisão da literatura.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
J.E. Frampton.
Rituximab: a review in pemphigus vulgaris.
Am J Clin Dermatol, 21 (2020), pp. 149-156
[2]
P. Joly, M. Maho-Vaillant, C. Prost-Squarcioni, V. Hebert, E. Houivet, S. Calbo, et al.
First‐line rituximab combined with short‐term prednisone versus prednisone alone for the treatment of pemphigus (Ritux 3): a prospective, multicentre, parallel‐group, open‐label randomised trial.
Lancet., 389 (2017), pp. 2031-2040
[3]
J. Zhang, X. Huang, Z. Zhang, P. Zhao, W. Chen, Y. Liang, et al.
Clinical observation of different doses of rituximab for the treatment of severe pemphigus: a single‐center prospective cohort study.
J Am Acad Dermatol., 88 (2023), pp. 500-502
[4]
N. Singh, S. Handa, R. Mahajan, N. Sachdeva, D. De.
Comparison of the efficacy and cost‐effectiveness of an immunologically targeted low‐dose rituximab protocol with the conventional rheumatoid arthritis protocol in severe pemphigus.
Clin Exp Dermatol., 47 (2022), pp. 1508-1516
[5]
K. Simpson, Z.M. Low, T. Yap, J.S. Kern, L. Scardamaglia.
Ultralow‐dose rituximab in pemphigus: a single‐centre experience.
Br J Dermatol, 186 (2022), pp. 581-583

Como citar este artigo: Durães SM, Santos NR, Batzner CN, Cerqueira FG. Use of low‐dose rituximab to treat pemphigus. An Bras Dermatol. 2024;99:791–2.

Trabalho realizado no Hospital Universitário Antônio Pedro, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil

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