Journal Information
Vol. 98. Issue 6.
Pages 841-843 (1 November 2023)
Visits
3950
Vol. 98. Issue 6.
Pages 841-843 (1 November 2023)
Cartas ‐ Caso clínico
Full text access
Granuloma anular elastolítico de células gigantes: apresentação incomum em áreas não fotoexpostas
Visits
3950
Claudia Suáreza, Gonzalo Heviaa,b, Catalina Silva‐Hirschberga,b,
Corresponding author
casilvah@udd.cl

Autor para correspondência.
, Alex Castroc
a Departamento de Dermatologia, Hospital Padre Hurtado, Santiago, Chile
b Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina, Clínica Alemana, Universidad del Desarrollo, Santiago, Chile
c Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina, Clínica Alemana, Universidad del Desarrollo, Santiago, Chile
This item has received
Article information
Full Text
Bibliography
Download PDF
Statistics
Figures (3)
Show moreShow less
Full Text
Prezado Editor,

Um homem de 76 anos com diagnóstico prévio de diabetes mellitus tipo 2 e hipertensão veio ao Departamento de Dermatologia com histórico de 20 anos de lesões pruriginosas progressivas. Ele havia sido tratado com antifúngicos tópicos e corticosteroides, sem resposta.

O exame físico revelou placas anulares múltiplas, grandes e bem circunscritas no tronco, região dorsal e braços. As lesões mostravam cicatriz central circundada por zona inflamatória vermelha e borda eritematosa palpável na periferia das placas. Também foi observada hiperpigmentação pós‐inflamatória (fig. 1A e B). A dermatoscopia na periferia das lesões mostrou zonas alaranjadas sem estrutura, sobre fundo eritematoso, com algumas áreas esbranquiçadas e vasos finos na superfície (fig. 1C).

Figura 1.

Placas anulares no tronco e nos braços. (A) Vista anterior. (B) Vista posterior. (C) Dermatoscopia mostrando zonas alaranjadas sem estrutura sobre fundo eritematoso (aumento de 20×)

(0.2MB).

Foi realizada biopsia cutânea da borda da lesão; a análise histopatológica com a coloração Hematoxilina & eosina mostrou múltiplos focos de células gigantes multinucleadas e histiócitos, e áreas de degeneração do colágeno na derme (fig. 2A e B). Não foi observado nenhum aumento na mucina intersticial (fig. 3A). A coloração pelo método de Verhoeff‐Van Gieson mostrou elastoclasia e ausência de fibras elásticas nos focos de infiltrado histiocitário (fig. 3B e C). Diante da apresentação clínica do aspecto histopatológico, foi diagnosticado granuloma anular elastolítico de células gigantes (GAECG).

Figura 2.

(A) Histopatologia (Hematoxilina & eosina, 100×); infiltrado perivascular e intersticial com linfócitos e numerosos histiócitos. Áreas de degeneração do colágeno circundadas por múltiplos histiócitos e células gigantes multinucleadas. (B) Coloração de Hematoxilina & eosina (200×); degeneração do colágeno na derme

(0.38MB).
Figura 3.

(A) Coloração azul de Alcian (100×); ausência de mucina. (B) Coloração de Verhoeff‐Van Gieson para fibras elásticas (200×); elastofagocitose e elastoclasia na borda ativa de uma placa. (C) Coloração de Verhoeff‐Van Gieson para fibras elásticas (200×); ausência de fibras elásticas na região central da mesma placa

(0.5MB).

O GAECG é doença granulomatosa cutânea rara de etiologia desconhecida. Foi descrito pela primeira vez por O’Brien em 1975 como variante do granuloma anular localizado em áreas fotoexpostas.1 Entretanto, atualmente é considerada entidade distinta em virtude de seus achados histopatológicos característicos: granulomas sem paliçada na derme superficial, células gigantes multinucleadas abundantes, elastofagocitose acentuada e ausência de mucina e necrobiose.2

Foi proposto que fatores como radiação ultravioleta, calor e dano vascular poderiam gerar elastólise e alteração antigênica das fibras elásticas, desencadeando uma resposta imune celular e consequente reação granulomatosa.1,3 O GAECG tem sido associado a diabetes mellitus, hiperlipidemia, hipertensão, oclusão vascular, artrite e neoplasias malignas hematológicas e de órgãos sólidos.4

Clinicamente, é caracterizado por pápulas ou placas anulares em áreas fotoexpostas, de crescimento lento com bordas eritematosas e centro levemente hipopigmentado ou atrófico.1 Formas papulares, reticulares e variantes que envolvem áreas não expostas – como no presente caso – foram descritas.3 Dermatoscopicamente, áreas amarelo‐alaranjadas sem estrutura e descamação na periferia foram relatadas, com vasos reticulares homogêneos no centro da lesão.5

O paciente do presente caso foi investigado para outras associações; não foram encontradas comorbidades, e a triagem de câncer apropriada para a idade foi negativa. Como o paciente trabalhou em mineração subterrânea por mais de 30 anos, foi aventada a hipótese de que a distribuição incomum de suas lesões poderia ser explicada pelo calor, e não pela exposição à luz solar.

O diagnóstico diferencial inclui outras doenças granulomatosas e anulares, como tinea corporis, hanseníase, tuberculose, sarcoidose, granuloma anular e necrobiose lipoídica.6 A análise histopatológica é fundamental para obter‐se o diagnóstico correto. Culturas micológicas e micobacterianas também podem ser necessárias para excluir doenças infecciosas.

O presente relato apresenta um caso de GAECG em área não exposta ao sol, que foi diagnosticado e tratado de maneira errônea por décadas. O GAECG é doença rara que deve ser incluída no diagnóstico diferencial de placas anulares, nos quais a histopatologia é fundamental para excluir outras doenças autoimunes e infecciosas.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Claudia Suárez: Aprovação da versão final do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.

Gonzalo Hevia: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.

Catalina Silva‐Hirschberg: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.

Alex Castro: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
M. Burlando, A. Herzum, E. Cozzani, M. Paudice, A. Parodi.
Can methotrexate be a successful treatment for unresponsive generalized annular elastolytic giant cell granuloma?.
Case report and review of the literature. Dermatol Ther., 34 (2021), pp. e14705
[2]
M. Pons Benavent, S. Porcar Saura, Visual Dermatology:.
annular elastolytic giant cell granuloma.
J Cutan Med Surg., 26 (2022), pp. 98
[3]
G.M. Jeha, K.O. Luckett, L. Kole.
Actinic granuloma responding to doxycycline.
JAAD Case Rep., 14 (2020), pp. 1132-1134
[4]
B. Tas, A. Caglar, B. Ozdemir.
Treatment with doxycycline of generalized annular elastolytic giant cell granuloma associated with borrelia burgdorferi infection.
West Indian Med J., 64 (2015), pp. 447-451
[5]
E. Errichetti, P. Cataldi, G. Stinco.
Dermoscopy in annular elastolytic giant cell granuloma.
J Dermatol., 46 (2019), pp. e66-e67
[6]
D. Diep, A. Calame, P.R. Cohen.
Tinea corporis masquerading as a diffuse gyrate erythema: case report and a review of annular lesions mimicking a dermatophyte skin infection.
Cureus., 12 (2020), pp. e8935

Como citar este artigo: Suárez C, Hevia G, Silva‐Hirschberg C, Castro A. Annular elastolytic giant cell granuloma: an unusual presentation in non‐sun‐exposed areas. An Bras Dermatol. 2023;98:841–3.

Trabalho realizado no Hospital Padre Hurtado, Santiago, Chile.

Copyright © 2023. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia
Article options
Tools
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.