Dermatite atópica (DA) e psoríase são dermatoses inflamatórias crônicas, consideradas fenótipos extremos do mecanismo imune modulado por células T.1 O dupilumabe inibe a sinalização da interleucina (IL) 4 e da IL‐13, citocinas que medeiam a inflamação e a disfunção da barreira cutânea na DA, via Th2. Não há interferência direta na via Th1.2

Relatamos manifestação rara de psoríase alopecia‐símile associada a lesões cutâneas após início de dupilumabe.

Homem, 22 anos de idade, diagnóstico de DA desde a infância e diversos tratamentos prévios (corticoterapia tópica, sistêmica, azatioprina e metotrexato) suspensos por falha terapêutica. Ciclosporina com redução do SCORAD (Severity Scoring of Atopic Dermatitis) de 58 para 18, porém com redução da dose por aumento das transaminases hepáticas (três vezes o valor de referência). Nesse contexto, iniciou‐se dupilumabe na dose de bula, via subcutânea. Após cinco meses, o paciente apresentou placa de alopecia eritemato‐descamativa pruriginosa na região do vértice com 5cm de diâmetro (fig. 1), com eritema e descamação folicular e interfolicular, sugerindo padrão de eczema à dermatoscopia. Placas eritemato‐descamativas no punho esquerdo e pododáctilos, onicodistrofia no hálux direito e pittings ungueais em quirodáctilos (fig. 2). Exame micológico direto e cultura da placa de alopecia negativos. Histopatológico, dermatite psoriasiforme com paraceratose confluente, espongiose e exocitose de linfócitos e hemácias extravasadas. PAS e Grocott negativas. Pelo provável diagnóstico de psoríase, iniciou‐se dipropionato de betametasona e calcipotriol tópicos. Depois de um mês, o paciente retornou com áreas de repilação à dermatoscopia e melhora das lesões cutâneas. Cerca de nove meses depois (SCORAD=10,6), apresentou repilação completa e regressão das lesões (fig. 3).

Figura 1.

Placa de alopecia eritemato‐descamativa na região do vértice craniano de aproximadamente 5cm no maior diâmetro. Dermatoscopia demonstrou eritema e descamação folicular e interfolicular, sugerindo padrão de eczema.

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Figura 2.

Placas eritemato‐descamativas nos pododáctilos e onicodistrofia no hálux direito.

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Figura 3.

Após 10 meses do início do quadro, repilação completa e remissão das lesões eritemato‐descamtivas nos pododáctilos e onicodistrofia em resolução no hálux direito.

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A DA e a psoríase são dermatoses mediadas por células T.1 Citocinas Th2, como IL‐4, IL‐13, IL‐22 e IL‐31, estão implicadas na patogênese da DA.3 Citocinas Th1, como IL‐17 e IL‐23, estão implicadas na psoríase.1

Dupilumabe, anticorpo monoclonal totalmente humano, bloqueia a subunidade α do receptor da IL‐4, que leva ao bloqueio da sinalização das citocinas Th2 (IL‐4 e IL‐13). Há a hipótese de que o antagonismo da via Th2 com dupilumabe levaria à ativação oposta da via Th1. Por outro lado, pacientes com psoríase ou outra doença mediada por Th1 poderiam desenvolver DA após o tratamento com imunobiológicos.2

Há relatos de alopecia areata associada ao uso de dupilumabe, bem como resolução ou melhora significativa do quadro preexistente após o início do dupilumabe.4 No caso descrito, houve aparecimento de placa de alopecia eritemato‐descamativa, com descamação interfolicular e perifolicular à dermatoscopia, sugestivos de psoríase, eczema ou tinea capitis.

Psoríase eritrodérmica, em placas, acral e no couro cabeludo já foram descritas, mas não há descrição de alopecia psoriásica em placa (areata‐like) associada ao início de dupilumabe.1,4 A alopecia raramente está relacionada diretamente à psoríase, e sua forma mais comum é o eflúvio telógeno. Na maioria dos casos, há repilação, raramente evoluindo para a forma cicatricial.5

Há relatos de psoríase como efeito adverso do dupilumabe, mas esse não foi inserida como evento adverso nos ensaios clínicos.1,4 Este caso descreve manifestação inédita associada ao uso do dupilumabe, importante para o entendimento e o manejo desse fármaco.