Journal Information
Vol. 97. Issue 2.
Pages 260-262 (1 March 2022)
Visits
10754
Vol. 97. Issue 2.
Pages 260-262 (1 March 2022)
Carta ‐ Investigação
Open Access
Subtipos incomuns da alopecia frontal fibrosante: análise retrospectiva das características clínicas e prognósticas
Visits
10754
Vanessa Barreto Rochaa,
Corresponding author
vanessabarreto.vbr@gmail.com

Autor para correspondência.
, Carla Jorge Machadob, Leticia Arsie Continc
a Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
b Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
c Clínica de Dermatologia, Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
This item has received

Under a Creative Commons license
Article information
Full Text
Bibliography
Download PDF
Statistics
Figures (1)
Tables (1)
Tabela 1. Comparação de características selecionadas de três subtipos não usuais de AFF
Full Text
Prezado Editor,

A alopecia frontal fibrosante (AFF) é um tipo de alopecia linfocítica cicatricial progressiva descrita por Kossard em 1994,1 que se tornou epidêmica nos últimos anos.2 A AFF afeta principalmente as áreas frontal e temporal de implantação dos cabelos. Três padrões típicos foram descritos até o momento: linear (ou tipo I), tipo II ou difuso (zigue‐zague), e tipo III ou pseudofranja. Cada padrão tem uma evolução diferente; o melhor prognóstico é visto no padrão pseudofranja.3

A literatura cita alguns padrões atípicos de AFF: padrão em placas,4 padrão masculino e o ofiásico,5,6 e seu prognóstico não é descrito. O padrão em placas é caracterizado por áreas de alopecia cicatricial que afetam a região temporal, em geral de maneira bilateral e simétrica. Em sua evolução, há perda dos pelos velos na borda frontal, levando a um aspecto irregular da orla capilar.4 O padrão masculino é caracterizado por alopecia progressiva, respeitando um padrão de recesso frontal semelhante à alopecia androgenética masculina.5 No padrão ofiásico, toda a orla do couro cabeludo é afetada, e a região frontal é acometida de forma reta ou em zigue‐zague (tipos previamente classificados como I e II). Há também acometimento da região occipital.6,7

Em um estudo retrospectivo de uma série de 97 pacientes portadores de AFF atendidos na Clínica de Tricologia da Dermatologia do HSPM‐SP, no período de 2011 a 2019, identificamos 27 (27,8%) pacientes com padrão atípico: 12 (12,4%) com padrão masculino, 7 (7,2%) com padrão em placas e 8 (8,2%) com padrão ofiásico (fig. 1). O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HSPM‐SP (n° 27274919.0.0000.5442).

Figura 1.

(A e B), Padrão masculino da AFF. (C e D), Padrão em placas. (E e F), Padrão ofíasico.

(0.26MB).

Os pacientes foram avaliados clinicamente e por fotografia, tricoscopia e medida da linha de implantação dos cabelos. Os critérios diagnósticos incluíram alopecia progressiva, simétrica e cicatricial com ausência de pelos velos. Biópsia foi realizada para a confirmação do diagnóstico. A estabilização da doença foi definida por nenhuma progressão fotográfica da alopecia, teste de tração de anágenos negativo, ausência de prurido, dor ou sensação de queimação.

A tabela 1 resume os dados demográficos, a apresentação clínica e as comorbidades de 27 pacientes com padrões incomuns de AFF. Para análise estatística, o nível de significância foi de 5% (p <0,05).

Tabela 1.

Comparação de características selecionadas de três subtipos não usuais de AFF

Padrão atípico de AFF  Padrão masculino  Padrão em placas  Padrão ofiásico  Valor pTotal 
  n=12 (100,0%)  n=7 (100,0%)  n=8 (100,0%)  Masculino ×em placas  Masculino × ofiásico  Em placas × ofiásico  Geral  n=27 (100%) 
Idade: média (DP)  65,3 (7,3)  60,7 (8,9)a  64,4 (14,4)  0,260  0,831  0,508  0,693  63,9 (10,0)b 
Fototipo de Fitzpatrick II–IIIc: n (%)  6 (50,0)  4 (57,1)  1 (12,5)  0,764  0,085  0,067  0,133  11 (40,7) 
Progressão aproximada (cm/ano): média (DP)  1,02 (1,07)d  0,67 (0,51)e  2,25 (1,22)f  0,581  0,026i  0,038i  0,026i  1,31 (1,18)g 
Estabilidade: n (%)  8 (66,7)  4 (57,1)  1 (12,5)  0,678  0,017i  0,067  0,054  13 (48,1) 
Duração da doença até a estabilização (meses): média (DP)  27,0 (16,0)h  18,8 (6,7)h  36 (0)h  0,503  –  –  0,474  25,2 (13,6)h 
Evolução da doença (anos): média (DP)  6,7 (5,3)  7,5 (6,4)a  6,7 (3,4)a  0,564  0,931  0,640  0,944  6,9 (5,0) 
Pápulas faciais: n (%)  4 (33,3)  0 (0,0)  2 (25,0)  0,086  0,690  0,155  0,284  6 (22,2) 
Lichen plano pigmentoso: n (%)  3 (25,0)  0 (0,0)  3 (37,5)  0,149  0,550  0,070  0,240  6 (22,2) 
Alopecia de supercílios: n (%)  11 (91,7)  0 (0,0)  7 (87,5)  <0,001i  0,761  <0,001i  <0,001i  18 (66,7) 
Comorbidades: n (%)
Hipertensão arterial sistêmica  6 (50,0)  6 (85,7)  6 (75,0)  0,120  0,264  0,605  0,281  18 (66,7) 
Diabetes mellitus  2 (16,7)  3 (42,9)  3 (37,5)  0,211  0,292  0,833  0,346  8 (29,6) 
Dislipidemia  4 (33,3)  2 (28,6)  2 (25,0)  0,830  0,690  0,876  0,935  8 (29,6) 
Hipotireoidismo  3 (25,0)  2 (28,6)  1 (12,5)  0,865  0,494  0,438  0,661  7 (25,9) 

Comparações 2 × 2 de variáveis contínuas feitas pelo teste t de Student para amostras independentes; comparações 3 × 2 de variável contínua pela tabela de análise de variância (ANOVA); as comparações percentuais usaram o teste exato de Fisher.

DP, desvio‐padrão.

a

n = 6.

b

n = 26.

c

Em comparação com o fototipo IV‐VI de Fitzpatrick.

d

n = 11.

e

n = 5.

f

n = 7.

g

n = 15.

h

Apenas para pacientes que relataram estabilidade; Stata 12,0/Se para Mac foi usado.

i

p <0,05; a progressão aproximada para aqueles sem acompanhamento completo foi estimada como uma proporção direta da progressão presumida de um ano.

Encontramos 26 mulheres (24 pós‐menopausa), idade média de 63,9 anos (35 a 84 anos; desvio‐padrão DP – 10). Os fototipos variaram de II a VI na escala de Fitzpatrick (seis II, seis III, dois IV, nove V, cinco VI), sem diferença geral entre os padrões (p=0,133). A duração média da doença foi de 6,9 anos. Seis pacientes apresentavam pápulas faciais (quatro de padrão masculino e dois de padrão ofiásico), seis pacientes apresentavam líquen plano pigmentoso (três de padrão masculino e três de padrão ofiásico; 83,3% de fototipos V e VI) e dois pacientes apresentavam ambas as lesões (um de padrão masculino e um de padrão ofiásico), sem diferença estatística (p=0,284 e 0,240, respectivamente).

Treze pacientes foram considerados estáveis, 14 com doença ativa e em dois houve perda de seguimento (excluídos); o padrão ofiásico foi o menos estável (p=0,054).

O tempo médio de acompanhamento dos pacientes foi de 42,8 meses (6 a 96 meses, DP=26,6).

Comparando a progressão da doença, o padrão ofiásico mostrou a progressão mais agressiva (2,25 cm/ano, DP=1,22; p=0,026) sem diferença estatística entre o padrão masculino (1,02 cm/ano, DP=1,07) e o padrão em placas (0,67 cm/ano, DP=0,51; p=0,581). Achados semelhantes foram observados em relação à estabilidade da doença (p=0,054 para maior progressão do padrão ofiásico).

Em relação à perda dos supercílios, o padrão em placas não evidenciou pacientes com essa alopecia (p <0,001) e não houve diferença estatística entre o padrão masculino e o ofiásico (p=0,761), com 11 (91,7%) e sete pacientes (87,5%) apresentando madarose, respectivamente.

As principais comorbidades encontradas foram hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia e hipotireoidismo, frequentes, como esperado, nessa faixa etária, sem diferenças estatísticas entre os grupos.

Os dados demográficos, etnia, duração da doença e idade média de início da doença em nosso estudo foram alinhados com outros raros relatos de padrões atípicos de AFF.4,6 No entanto, a proporção de cada padrão atípico varia amplamente entre os estudos. Kanti et al., em uma série de 490 pacientes com AFF, encontraram 32% com o padrão ofiásico (chamaram de padrão “band‐like”).8 Rossi et al. descreveram esse padrão em 6,1% de seus pacientes com AFF. Esses autores também encontraram 12,2% com padrão masculino e 2,0% com padrão em placas (chamaram de padrão cocar).6 Recentemente, Goldman et al. descreveram um caso de AFF com um padrão simétrico (alopecia em forma de “ípsilon”), que mimetizava a alopecia por tração com alopecia simétrica na área temporal.9

Em nossa série, o padrão em placas, que seria a forma localizada da doença, parece ter o melhor prognóstico e a evolução mais lenta. Esses pacientes não apresentavam manifestações como pápulas faciais e líquen plano pigmentoso, mas sem diferença estatística dos outros padrões.

O padrão em ofíase teve pior prognóstico, e o padrão masculino foi intermediário. Em ambos os tipos havia presença de pápulas faciais, líquen plano pigmentoso e alopecia de supercílios, lembrando casos de doença mais agressiva.

O pequeno número de pacientes, em razão da menor incidência de casos atípicos, é uma limitação deste trabalho.

O estudo dessas apresentações incomuns pode ajudar a melhorar o diagnóstico e a compreender o prognóstico de AFF.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Vanessa B Rocha: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Carla Jorge Machado: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica do manuscrito.

Leticia A. Contin: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
S. Kossard, alopecia. Postmenopausal frontal fibrosing.
Scarring alopecia in a pattern distribution.
Arch Dermatol., 130 (1994), pp. 770-774
[2]
P. Mirmirani, A. Tosti, L. Goldberg, D. Whiting, B. Sotoodian.
Frontal Fibrosing Alopecia: An Emerging Epidemic.
Skin Appendage Disord., 5 (2019), pp. 90-93
[3]
O.M. Moreno-Arrones, D. Saceda-Corralo, P. Fonda-Pascual, A.R. Rodrigues-Barata, D. Buendía-Castaño, A. Alegre-Sánchez, et al.
Frontal fibrosing alopecia: clinical and prognostic classification.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 31 (2017), pp. 1739-1745
[4]
L.A. Contin, Y.L.A. Ledá, K.C. Caldeira Nassif, M.V.S. Restrepo.
Patchy Frontal Fibrosing Alopecia: Description of an Incomplete Clinical Presentation.
Skin Appendage Disord., 3 (2017), pp. 190-192
[5]
L. Tremezaygues, T. Vogt, C.S. Muller.
[Frontal fibrosing alopecia with androgenetic pattern. A diagnostic challenge – a therapeutic problem].
Hautarzt., 63 (2012), pp. 411-414
[6]
A. Rossi, S. Grassi, M.C. Fortuna, V. Garelli, G. Pranteda, G. Caro, et al.
Unusual patterns of presentation of frontal fibrosing alopecia: A clinical and trichoscopic analysis of 98 patients.
J Am Acad Dermatol., 77 (2017), pp. 172-174
[7]
D.F. Melo, T.M. Barreto, G.B.A. Faro, C.J. Machado, A. Donati.
Occipital hairline involvement in frontal fibrosing alopecia: frequency, clinical presentation and trichoscopy findings in a series of twenty patients.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 34 (2020), pp. 405-407
[8]
V. Kanti, A. Constantinou, P. Reygagne, A. Vogt, J. Kottner, U. Blume-Peytavi.
Frontal fibrosing alopecia: demographic and clinical characteristics of 490 cases.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 33 (2019), pp. 1976-1983
[9]
C. Goldman, A. Diaz, M. Miteva.
A Novel Atypical Presentation of Frontal Fibrosing Alopecia Involving the Frontoparietal Scalp.
Skin Appendage Disord., 6 (2020), pp. 250-253

Como citar este artigo: Rocha VB, Machado CJ, Contin LA. Uncommon subtypes of frontal fibrosing alopecia: retrospective analysis of clinical characteristics and prognosis. An Bras Dermatol. 2022;97:260–2.

Trabalho realizado no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

Copyright © 2021. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Download PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia
Article options
Tools
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.