Compartilhar
Informação da revista
Vol. 98. Núm. 6.
Páginas 853-855 (1 novembro 2023)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
4150
Vol. 98. Núm. 6.
Páginas 853-855 (1 novembro 2023)
Cartas ‐ Caso clínico
Acesso de texto completo
Alopecia frontal fibrosante coexistindo com vitiligo: existe uma associação real?
Visitas
4150
Jéssica Pauli Damke
Autor para correspondência
jpdamke@gmail.com

Autor para correspondência.
, Bruna Ossanai Schoenardie, Rochelle Figini Maciel, Juliano Peruzzo
Serviço de Dermatologia, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil
Este item recebeu
Informação do artigo
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (2)
Texto Completo
Prezado Editor,

A coexistência de vitiligo e alopecia frontal fibrosante (AFF) já foi relatada;1,2 entretanto, ainda é incerto se existe associação real entre ambas afecções.

Uma paciente de 58 anos foi encaminhada para tratamento de vitiligo, que apresentava havia seis anos. Ao exame, foi notada rarefação capilar na região frontal do couro cabeludo, na mesma topografia das manchas acrômicas de vitiligo (fig. 1A). A histopatologia de biópsia do couro cabeludo mostrou dermatite de interface restrita ao infundíbulo do folículo piloso com numerosas células apoptóticas e fibrose perifolicular incipiente, o que confirmou o diagnóstico de AFF. Ambas se manifestaram após a menopausa. No seguimento, foi observada rarefação dos pelos dos supercílios concomitantemente com placa crescente de vitiligo (fig. 1B).

Figura 1.

Achados clínicos da paciente 1. (A) Rarefação capilar na região frontal do couro cabeludo, coexistindo com máculas acrômicas de vitiligo. (B) Rarefação das sobrancelhas em mácula crescente de vitiligo

(0.38MB).

Outra paciente de 75 anos, com diagnóstico de vitiligo desde os 40 anos, apresentou despigmentação completa da pele. Ela também apresentava alopecia frontal com aspecto atrófico do couro cabeludo, sinal de pseudo‐franja e perda quase completa dos pelos dos supercílios (fig. 2).

Figura 2.

Achados clínicos da paciente 2. (A‐B) Despigmentação completa da pele, acompanhada de alopecia frontal com aspecto atrófico do couro cabeludo, sinal de pseudo‐franja e perda quase completa dos pelos dos supercílios

(0.37MB).

A AFF é alopecia cicatricial linfocítica crônica, que afeta caracteristicamente a linha frontotemporal dos cabelos e frequentemente também as sobrancelhas. É observada predominantemente em mulheres na pós‐menopausa, e é mais comum em pacientes caucasianas. Alguns autores consideram a AFF uma possível variante clínica do líquen plano (LP),3 em virtude da semelhança dos achados histopatológicos. Como a AFF progride muito lentamente, muitas vezes é difícil definir seu início com precisão.4

O vitiligo é doença autoimune caracterizada pela perda seletiva de melanócitos, que causa despigmentação cutânea. Caracteriza‐se clinicamente por máculas acrômicas ou hipocrômicas. Fatores genéticos e ambientais estão envolvidos em seu desenvolvimento.5 A associação entre ambas afecções já foi descrita.1,2 Mais recentemente, em uma coorte de 20 pacientes diagnosticados com AFF, dois deles também apresentavam vitiligo.1

O vitiligo foi associado ao LP, o que pode ser explicado pelo achado de infiltrado inflamatório citotóxico de linfócitos CD8+ nas duas doenças.1 A associação entre AFF e vitiligo pode estar no fato de que a AFF pode ser uma variante do LP pilar.3 Sabe‐se que os melanócitos e queratinócitos formam unidades funcionais. Então, postulou‐se que, como os queratinócitos na bainha externa do folículo piloso são contínuos com os queratinócitos epidérmicos, eles provavelmente expressam as mesmas moléculas de adesão às quais os linfócitos se ligam,2 levando ao ataque linfocitário às unidades melanócitos‐queratinócitos e explicando a fisiopatologia de ambas as doenças. Além disso, sabe‐se que tanto o vitiligo quanto o LP apresentam o fenômeno de Köbner, o que pode explicar a presença de ambas na mesma topografia.1

O aparecimento concomitante de placa de vitiligo e AFF no supercílio da primeira paciente reforça a possibilidade de que pode haver associação entre elas. Além disso, a segunda paciente, que apresentava caso mais extenso de vitiligo, também teve caso mais avançado de AFF, o que pode fortalecer a hipótese de que suas fisiopatogenias possam estar ligadas. Entretanto, mais estudos são necessários para elucidar os mecanismos exatos pelos quais essas duas condições estão relacionadas.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Jéssica Pauli Damke: concepção e planejamento do estudo; obtenção de dados, ou análise e interpretação dos dados; redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Bruna Ossanai Schoenardie: concepção e planejamento do estudo; obtenção de dados ou análise e interpretação dos dados; redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Rochelle Figini Maciel: concepção e planejamento do estudo; obtenção de dados ou análise e interpretação dos dados; redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Juliano Peruzzo: concepção e planejamento do estudo; obtenção de dados ou análise e interpretação dos dados; redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
A.C. Katoulis, K. Diamanti, D. Sgouros, A.I. Liakou, A. Alevizou, E. Bozi, et al.
Frontal fibrosing alopecia and vitiligo: coexistence or true association?.
Skin Appendage Disord., 2 (2017), pp. 152-155
[2]
M. Miteva, C. Aber, F. Torres, A. Tosti.
Frontal fibrosing alopecia occurring on scalp vitiligo: report of four cases.
Br J Dermatol., 165 (2011), pp. 445-447
[3]
E. Poblet, F. Jiménez, A. Pascual, E. Piqué.
Frontal fibrosing alopecia versus lichen planopilaris: a clinicopathological study.
Int J Dermatol., 45 (2006), pp. 375-380
[4]
A. Lis-Święty, L. Brzezińska-Wcisło.
Frontal fibrosing alopecia: a disease that remains enigmatic.
Postepy Dermatol Alergol., 37 (2020), pp. 482-489
[5]
C. Bergqvist, K. Ezzedine.
Vitiligo: a focus on pathogenesis and its therapeutic implications.
J Dermatol., 48 (2021), pp. 252-270

Como citar este artigo: Damke JP, Schoenardie BO, Maciel RF, Peruzzo J. Frontal fibrosing alopecia coexisting with vitiligo: is there a true association? An Bras Dermatol. 2023;98:853–5.

Trabalho realizado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.

Baixar PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.