Causou enorme vazio na Dermatologia brasileira a perda recente de um de seus expoentes, o Professor Bernardo Gontijo, que nos deixou após travar dura batalha de três anos contra a enfermidade de que foi acometido.

O dom de ensinar foi despertado precocemente em Bernardo. Ainda muito jovem, enquanto cursava a graduação em Medicina, lecionou as disciplinas de língua inglesa e biologia. Já naquela época revelava a apurada habilidade didática e a extrema generosidade em transmitir seus conhecimentos. Graduou‐se em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, em 1975, tendo completado a residência médica em Dermatologia em 1978, no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, em São Paulo. Retornou à UFMG, onde concluiu Mestrado em Dermatologia (1980) e Doutorado em Infectologia e Medicina Tropical (1997). Atuou como professor de Dermatologia no Departamento de Clínica Médica daquela universidade desde 1978, inicialmente como Professor Colaborador, tornando‐se Professor Assistente em 1981. Passou por todos os níveis da carreira de magistério até chegar a Professor Titular em 2018. Completou, portanto, 44 anos de inestimável dedicação à instituição.

Como médico e docente no Hospital das Clínicas da UFMG, foi responsável pela formação de mais de uma centena de dermatologistas no Programa de Residência Médica do hospital, onde exerceu a função de preceptor no Serviço de Dermatologia, que coordenou por mais de dez anos. Suas principais áreas de atuação incluíam o ensino médico, a dermatologia clínica, a dermatologia pediátrica e a terapêutica dermatológica, abrangendo sobretudo a dermatite atópica, a psoríase, os hemangiomas e as malformações vasculares cutâneas.

Orientou inúmeros alunos do Programa de Pós‐Graduação da Faculdade de Medicina da UFMG e participou de bancas de conclusão de trabalhos de Mestrado e Doutorado nas áreas de alergia dermatológica, dermatologia pediátrica, dermatologia tropical e dermatoses pigmentadas, tanto na UFMG quanto em outras universidades do país.

Teve participação intensa em centenas de congressos, reuniões científicas e jornadas de dermatologia no Brasil e no exterior, com conferências, palestras e apresentações de casos clínicos. Colaborou na organização de inúmeros eventos científicos, tendo presidido o Congresso Brasileiro de Dermatologia em 1999 e a Reunião Anual dos Dermatologistas Latino‐Americanos em 2016. Publicou mais de 100 trabalhos em revistas nacionais e estrangeiras e mais de 40 capítulos de livros no Brasil e no exterior.

Participou ativamente de entidades de classe e sociedades médicas, como Associação Médica de Minas Gerais, Associação Médica Brasileira, Sociedade Mineira de Pediatria, Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, mas especialmente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), onde ocupou diversos cargos de diretoria, tendo presidido tanto a nacional quanto a regional Minas Gerais. Foi ainda membro de várias comissões da SBD, em especial as de Ensino e de Título de Especialista.

Certamente, sua mais relevante contribuição para a SBD, da qual se orgulhava com todo o direito, foi para o periódico científico da entidade, os Anais Brasileiros de Dermatologia, em que atuou como revisor, membro do corpo editorial, editor‐chefe (2004‐2008) e editor‐associado (2016‐2020). Como editor‐chefe, liderou intenso trabalho de qualificação do periódico, que culminou com sua indexação no MEDLINE/PubMed,1 em 2009; como editor associado, empenhou desmedidos esforços de aprimoramento, que resultaram em considerável crescimento do seu fator de impacto, atingiu a marca de 2,113 em 2021.2

No exterior, foi membro ativo de várias sociedades da especialidade, como a American Dermatological Association, a American Academy of Dermatology e a Society for Pediatric Dermatology. Desde 2018, compunha o Editorial Board do Journal of the American Academy of Dermatology.

Além das atividades acadêmicas e profissionais, Bernardo desfrutava a vida com intensidade. Adorava viajar, pescar e caçar, tendo empreendido muitas aventuras em várias regiões do estado de Minas, do Brasil e do exterior, ao longo de sua trajetória. Era uma pessoa com vasta cultura geral e que prezava a boa leitura, em especial dos autores mineiros, como Guimarães Rosa e Pedro Nava. Também apreciava a boa comida e, entre familiares e amigos, se dedicava à gastronomia, talento certamente herdado da família, sobretudo materna.

Bernardo deixa Flávia e um casal de filhos, Mariana e João Renato. Seu netinho, Francisco, chegou pouco depois de sua partida. Também para a família, deixou um legado de dermatologia, representado pelo filho João Renato e pela esposa Flávia – legado que herdou de seu saudoso pai, o querido Professor João Gontijo.