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Vol. 99. Núm. 6.
Páginas 931-936 (1 novembro 2024)
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Cartas ‐ Investigação
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Nevos melanocíticos e melanomas da mucosa oral: descrição detalhada de série de casos
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Izadora Fernanda Veiga de Jesus Costaa, Deyla Duarte Carneiro Vilelaa, Bruno Cunha Piresb, Jener Gonçalves de Fariasc, Valéria Souza Freitasb, Jean Nunes dos Santosa,d,
Autor para correspondência
jeanpatol@gmail.com
jeannunes@ufba.br

Autor para correspondência.
a Programa de Pós‐Graduação em Odontologia e Saúde, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brasil
b Centro de Anatomia Patológica Pires, Feira de Santana, BA, Brasil
c Departamento de Saúde, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, BA, Brasil
d Laboratório de Patologia Oral e Maxilofacial, Salvador, BA, Brasil
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Tabela 1. Dados clínicos dos 17 casos selecionados
Tabela 2. Características histopatológicas dos casos selecionados de nevos melanocíticos
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Prezado Editor,

Os nevos melanocíticos orais são lesões assintomáticas que podem ser pigmentadas ou não.1,2 Os melanomas orais são neoplasias malignas extremamente raras3 e também podem ser pigmentados e não pigmentados (amelanóticos),4 fato que torna seu diagnóstico clínico desafiador. O presente relato descreve uma série de casos de nevos melanocíticos e melanomas localizados na cavidade oral. Eles foram diagnosticados na histopatologia entre 4.030 biopsias orais realizadas no período de 2002 e 2021. O nevo melanocítico mais frequente foi o nevo azul (46,67%, n=7), seguido por nevo melanocítico composto (26,67%, n=4) e nevo melanocítico intramucoso (26,67%, n=4). Dois homens adultos tiveram diagnóstico de melanoma oral. Os dados clínicos são apresentados na tabela 1, e a tabela 2 mostra as características histopatológicas dos casos selecionados. As características histopatológicas dos nevos e melanomas estão representadas nas figuras 1 e 2. Entre as lesões névicas pigmentadas, houve predileção pelo sexo feminino (80%), acometimento do palato (60%) e do nevo azul como diagnóstico.1,2 Apenas dois nevos melanocíticos intramucosos estavam localizados no palato. Os nevos melanocíticos orais são diagnosticados, em média, na terceira e quarta décadas de vida.1 Segundo alguns autores,1 os nevos azuis são identificados em pacientes idosos, enquanto os nevos compostos ocorrem em pacientes mais jovens, como observado no presente estudo. Em geral, as lesões identificadas apresentavam coloração escura ou preta e o tamanho médio era cerca de 4mm. É importante observar que duas das lesões identificadas não apresentavam coloração escura, conforme relatado por Buchner et al.;2 ambas foram diagnosticadas como nevo melanocítico intramucoso. Nenhum caso de nevo melanocítico juncional foi identificado no presente estudo. Todos os nevos apresentaram simetria,5,6 característica importante para defini‐los como neoplasias benignas.5 Na histopatologia, o revestimento epitelial dos nevos apresentava hiperparaceratose/hiperceratose, que foram observadas em um caso de nevo melanocítico composto e um caso de nevo melanocítico intramucoso, respectivamente. Superfícies papilomatosas/verrucosas acompanhadas de hiperceratose e acantose são características comuns em nevos melanocíticos cutâneos.5 Hiperplasia pseudoepiteliomatosa foi observada em apenas dois casos. A melanina foi encontrada especialmente na camada basal do revestimento epitelial dos nevos. Esse é um achado comum, pois a maioria das lesões era preta, exceto dois casos localizados no palato duro e lábio inferior, que eram cobertos por mucosa não pigmentada. Células dendríticas foram observadas apenas em dois nevos melanocíticos, embora a presença de melanócitos dendríticos não seja surpreendente na mucosa oral. O padrão celular dos nevos melanocíticos foi variável, com as células frequentemente dispostas em ninhos ou tecas, provavelmente correspondendo a casos de nevos não azuis. Porém, as células não estavam dispostas em um único padrão, com identificação de mais de um tipo na mesma lesão, achado que pode ser atribuído ao processo de maturação.6 A morfologia das células névicas varia dependendo da sua localização, e essa variação tem sido associada ao seu estágio de maturação.6,7 Frequentemente, foi difícil identificar todos os tipos de células (células do tipo A, tipo B, tipo C) de maneira específica e clara no mesmo caso; entretanto, dois casos de nevo melanocítico intramucoso exibiram todos esses elementos celulares. Em 53,33% (n=8) dos casos, as células apresentavam formato fusiforme e estavam dispostas em paralelo à superfície, achados típicos de nevo azul. Neurotização foi encontrada em dois casos de nevo melanocítico intramucoso e em um caso de nevo composto. Pseudoinclusões e células gigantes foram identificadas em nevos intramucosos, como descrito anteriormente.7 Melanófagos também indicam maturação e foram encontrados em nove dos casos selecionados. Todos os casos foram tratados por excisão cirúrgica e nenhum sinal de recorrência foi detectado.2 No entanto, em três casos as lesões não foram removidas completamente. Nenhum dos casos de nevo melanocítico apresentou alterações histopatológicas ou suspeita de malignidade como assimetria. Uma característica importante para definir nevos melanocíticos como neoplasias benignas é sua simetria.5 O melanoma é o principal diagnóstico diferencial dessas lesões, embora também deva ser incluída a pigmentação de origem exógena e endógena. Foram identificados apenas dois casos de melanoma invasivo em pacientes do sexo masculino na quinta e sexta décadas de vida, demonstrando que essa neoplasia é muito rara na boca, particularmente o melanoma amelanótico.8 Avaliação imuno‐histoquímica com S100 e Melan‐A foi importante para a confirmação diagnóstica e o diagnóstico diferencial. A ausência do pigmento melanina dificulta o diagnóstico de melanoma amelanótico. O plasmocitoma extraósseo foi o principal diagnóstico diferencial no caso 16 (melanoma amelanótico), enquanto a pigmentação no caso 17 sugeriu ser um melanoma, embora as neoplasias neurais possam apresentar pigmentação e também sejam incluídas no diagnóstico diferencial. É importante ressaltar que, no caso 16, o paciente relatou ser HIV positivo. Sabe‐se que o melanoma tem prognóstico desfavorável e pode haver associação com a condição imunológica do indivíduo. Estudos anteriores mostraram o desenvolvimento de melanoma em receptores de transplante, pacientes com linfoma não Hodgkin e pacientes HIV positivos.9 Pacientes infectados pelo HIV apresentam alterações imunológicas que podem contribuir para o desenvolvimento de outras lesões malignas, incluindo o aumento da produção de citocinas Th2.10 Entretanto, mais estudos são necessários para elucidar a existência da relação entre imunossupressão e risco aumentado de desenvolvimento do melanoma. O presente estudo mostrou que nevos melanocíticos e melanomas invasivos da cavidade oral são neoplasias raras. Nenhum dos nevos melanocíticos apresentou alterações que pudessem indicar malignidade. Portanto, ambos os tipos de lesões devem ser incluídos no diagnóstico diferencial de lesões pigmentadas e não pigmentadas da cavidade oral.

Tabela 1.

Dados clínicos dos 17 casos selecionados

Caso  Gênero  Idade (anos)  Diagnóstico  Tamanho (mm)  Hipóteses clínicas  Local afetado  Aparência  Cor  Excisão 
Feminino  50  Nevo azul  Nevo/mácula melanótica  Palato duro  –  Escura  Completa 
Feminino  41  Nevo azul  –  Nevo/mácula melanótica  Palato duro  Mácula  Preta  Completa 
Feminino  34  Nevo azul  –  Tatuagem por amálgama  Palato duro  –  Escura  Completa 
Feminino  29  Nevo azul  Nevo azul/melanoma  Palato duro  Mácula  Preta  Completa 
Feminino  19  Nevo melanocítico composto  –  –  Mucosa da região bucinadora  –  Escura  Completa 
Feminino  29  Nevo melanocítico intramucoso  –  Fibroma traumático  Palato duro  Nódulo  Não pigmentado  Completa 
Masculino  40  Nevo melanocítico intramucoso  10  –  Palato duro  Mancha  Preta  Incompleta 
Feminino  43  Nevo melanocítico intramucoso  Mácula melanótica  Mucosa do lábio inferior  Mancha  Preta  Completa 
Feminino  31  Nevo azul  Nevo/mácula melanótica  Palato duro  –  –  Completa 
10  Feminino  30  Nevo azul  –  Mácula melanótica  Palato duro  Mácula  –  Incompleta 
11  Feminino  14  Nevo melanocítico composto  –  –  Mucosa da região bucinadora  –  Preta  Incompleta 
12  Masculino  74  Nevo azul  Mácula melanótica/nevo  Palato duro  Mácula  Preta  Completa 
13  Feminino  –  Nevo melanocítico intramucoso  Hiperplasia fibrosa focal  Lábio inferior  Nódulo  Cor semelhante à mucosa normal  – 
14  Masculino  51  Nevo melanocítico composto  –  –  Gengiva  –  –  – 
15  Feminino  25  Nevo melanocítico composto  –  –  Lábio superior  –  –  – 
16  Masculino  54  Melanoma  30  Granuloma piogênico  Gengiva e mucosa alveolar  Nódulo  Avermelhado/acinzentado  Incompleta 
17  Masculino  44  Melanoma  50  Sarcoma de Kaposi  Mucosa do palato  Nódulo  Preto  ‐ 
Tabela 2.

Características histopatológicas dos casos selecionados de nevos melanocíticos

Característica  Nevo azul  Nevo melanocítico intramucoso  Nevo melanocítico composto 
Revestimento epitelial       
Hiperceratose 
Hiperparaceratose 
Acantose 
Adelgaçamento 
Células dendríticas 
Superfície papilomatosa/verrucosa 
Presença de melanina 
Hiperplasia pseudoepiteliomatosa 
Mitoses       
Lâmina própria superior 
Lâmina própria inferior 
Padrão celular       
Ninhos 
Cordões 
Difuso 
Outros 
Citoplasma       
Poligonal 
Epitelioide 
Fusiforme 
Citoplasma claro 
Citoplasma pálido 
Citoplasma levemente eosinofílico 
Citoplasma com melanina 
Pleomorfismo 
Hipercromasia 
Núcleo       
Arredondado a oval, com nucléolo proeminente (células névicas tipo A) 
Núcleos pequenos e densos, semelhantes a linfócitos (células névicas tipo B) 
Núcleo arredondado, oval ou alongado 
Pseudoinclusão 
Tecido conjuntivo/lâmina própria       
Maturação 
Fibrose 
Neurotização (células tipo C) 
Degeneração mucinosa 
Células gigantes 
Infiltração adiposa 
Aspecto angiomatoso 
Herniação 
Estrutura semelhante a corpúsculo de Meissner 
Melanófagos (incontinência pigmentar) 
Balonização 
Células dendríticas e fusiformes paralelas à superfície 
Células dendríticas e fusiformes paralelas à superfície, ao redor de nervos e vasos sanguíneos 
Células névicas ao redor de nervos e vasos sanguíneos 
Simetria 
Figura 1.

Nevos intramucosos e azuis. (A) Edema nodular coberto por mucosa íntegra na região esquerda do palato correspondendo a nevo melanocítico intramucoso. (B) Ninhos de células névicas pigmentadas separadas do revestimento epitelial por membrana basal evidente. Observar células poligonais e epitelioides na região subepitelial e as células profundas semelhantes a linfócitos (Hematoxilina & eosina, barra de escala: 50μ). C, Nevo azul mostrando células fusiformes anguladas, profundamente assentadas com neurotização, tipo C (Hematoxilina & eosina, barra de escala: 50μ). D, Nevo azul composto por células fusiformes e dendríticas contendo pigmento melanina acastanhado (Hematoxilina & eosina, barra de escala: 50μ).

(1MB).
Figura 2.

Melanoma bucal. (A) Proliferação difusa de células plasmocitoides e epitelioides contendo núcleos hipercromáticos e ausência de pigmento melanina (barra de escala: 50μ). Observar a imunocoloração com Melan‐A (detalhe). (B) Detalhe da imagem anterior mostrando nucléolos e mitoses evidentes, mas não proeminentes (barra de escala: 20μ). (C) Proliferação difusa de células epitelioides e fusiformes permeadas por pigmento melanina marrom‐escuro (barra de escala: 50μ). (D) Área mostrando pigmento conglomerado assumindo a forma de células epitelioides e fusiformes (barra de escala: 20μ).

(1.33MB).
Suporte financeiro

Este estudo recebeu suporte financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado da Bahia (FAPESB).

Contribuição dos autores

Izadora Fernanda Veiga De Jesus Costa: Concepção e planejamento do estudo; coleta de dados, ou análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Jean Nunes dos Santos: Concepção e planejamento do estudo; coleta de dados, ou análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Deyla Duarte Carneiro Vilela: Elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Bruno Cunha Pires: Elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Jener Gonçalves de Farias: Elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Valéria Souza Freitas: Elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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Como citar este artigo: Costa IFVJ, Vilela DDC, Pires BC, Farias JG, Freitas VS, Santos JN. Melanocytic nevi and melanomas of the oral mucosa: detailed description of a case series. An Bras Dermatol. 2024;99:931–6.

Trabalho realizado no Laboratório de Patologia Oral e Maxilofacial, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brasil.

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Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
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