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Vol. 94. Núm. 5.
Páginas 603-607 (1 setembro 2019)
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Vol. 94. Núm. 5.
Páginas 603-607 (1 setembro 2019)
Dermatologia tropical/Infectoparasitária
Open Access
Tendência da taxa de detecção de casos novos de hanseníase no Brasil, 1990 a 2016
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Carlos Dornels Freire de Souzaa,
Autor para correspondência
carlos.freire@arapiraca.ufal.br

Autor para correspondência.
, Franklin Gerônimo Bispo Santosa, Thiago Cavalcanti Lealb, João Paulo Silva de Paivab
a Departamento de Medicina da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Campus Arapiraca, Arapiraca, Alagoas
b Acadêmico de Medicina, Universidade Federal de Alagoas, Arapiraca, Alagoas
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Estatísticas
Figuras (2)
Tabelas (1)
Tabela 1. Tendência da taxa de detecção de casos novos de hanseníase/100 mil habitantes no Brasil, 1990–2016
Resumo

Objetivou‐se descrever a tendência da detecção da hanseníase no Brasil no período de 1990 a 2016. Foi utilizado o modelo de regressão segmentada. Observou‐se tendência de redução significativa da detecção no país (Average Annual Percent Change=1,8%) e regiões Sul (Average Annual Percent Change=3,5) e Sudeste (Average Annual Percent Change=4,5). O Nordeste (Average Annual Percent Change=0,2), o Centro‐Oeste (Average Annual Percent Change=1,5) e o Norte (Average Annual Percent Change=2,6) apresentaram tendência estacionária (p>0,05). Onze estados apresentaram tendência decrescente. Alagoas (Average Annual Percent Change=2,1) e Rio Grande do Norte (Average Annual Percent Change=1,4) apresentaram crescimento significativo (p<0,001). O padrão heterogêneo da tendência entre as regiões e os estados mostra que são necessários esforços para a eliminação da doença.

Palavras‐chave:
Epidemiologia
Hanseníase
Mycobacterium leprae
Texto Completo

A hanseníase é uma doença tropical negligenciada, que se configura como um problema de saúde pública em muitos países em desenvolvimento. O Brasil ocupa uma posição indesejável no cenário global; ele é um dos 13 países que concentraram 94% de todos os casos novos registrados no mundo em 2014.1 Somente em 2016, foram notificados 25.218 novos pacientes, expressando uma taxa de detecção de 12,23/100 mil habitantes.2

A taxa de detecção de hanseníase reflete a magnitude da doença no território. Sua relevância é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um instrumento que possibilita o monitoramento sistemático da eficiência dos programas de controle, bem como o cumprimento das metas estabelecidas. Nesse sentido, o estudo da tendência das taxas de detecção está em consonância com o primeiro pilar da iniciativa global que visa fortalecer o controle, a coordenação e a parceria com o governo.1,2

Desse modo, este trabalho objetivou descrever o comportamento temporal das taxas de detecção de casos novos de hanseníase na população geral no Brasil, regiões e estados no período de 1990 a 2016.

Foram analisadas as taxas de detecção de casos novos de hanseníase na população geral: nacional, regionais e estaduais. Para a análise, adotou‐se um modelo de regressão segmentada (joinpoint regression).3,4 Calculou‐se a variação percentual anual (Annual Percent Change – APC) e a variação média do período (Average Annual Percent Change – AAPC) com intervalo de confiança de 95% (95% IC) e significância de 5%. A tendência foi classificada em crescente, estacionária ou decrescente. Além disso, foi calculada a taxa média do período estudado (razão entre a soma das taxas anuais e total de anos da série temporal).

Observou‐se tendência estatisticamente significativa de redução da taxa de detecção a nível nacional (AAPC=1,8%; p<0,001), decrescendo de 19,96 para 12,23 casos novos/100 mil habitantes (fig. 1). A diminuição tem sido observada não apenas no Brasil, mas também em todo o mundo, fruto do empenho da OMS, materializado em estratégias e ações voltadas para o controle da doença, com destaque para a poliquimioterapia, recomendada pela OMS no início da década de 1980 e implantada no Brasil em 1991.1,5 Embora os avanços sejam uma realidade, a taxa média de detecção do período analisado (1990–2016) foi de 22,13/100 mil habitantes, classificando o país como de endemicidade muito alta (fig. 2 e tabela 1).

Figura 1.

Tendência da taxa de detecção de casos novos de hanseníase na população geral/100 mil habitantes. Brasil, 1990–2016. AAPC, average annual percent change (variação percentual anual média); APC, annual percent change (variação percentual anual).

(0.54MB).
Figura 2.

Padrão espacial das taxas de detecção de casos novos de hanseníase na população geral no Brasil entre 1990 e 2016.

(0.36MB).
Tabela 1.

Tendência da taxa de detecção de casos novos de hanseníase/100 mil habitantes no Brasil, 1990–2016

Brasil, regiões, estados  Taxa/100 mil habitantesAAPC  95% IC  Tendência 
  1990  2016  Média       
Brasil  19,96  12,23  22,13  1,8a  2,3 a1,4  Decrescente 
Norte  56,81  28,70  58,92  2,6  4,6 a 0,5  Estacionária 
Rondônia  53,38  26,63  75,71  2,0a  3,9 a 0,0  Decrescente 
Acre  87,63  14,20  54,30  6,7a  7,9 a5,5  Decrescente 
Amazonas  76,33  11,20  40,11  6,9a  7,8 a5,9  Decrescente 
Roraima  49,52  16,34  54,19  4,7a  7,8 a1,4  Decrescente 
Pará  45,48  30,43  61,92  1,3  4,8 a 2,4  Estacionária 
Amapá  33,43  11,50  31,57  3,7  11,6 a 4,8  Estacionária 
Tocantins  72,06  88,13  85,05  0,5  3,4 a 4,6  Estacionária 
Nordeste  19,60  19,30  28,40  0,2  0,3 a 0,7  Estacionária 
Maranhão  44,29  47,43  67,15  0,4  0,5 a 1,2  Estacionária 
Piauí  32,18  27,64  45,78  0,6  1,6 a 0,5  Estacionária 
Ceará  24,10  18,94  28,42  0,9a  1,5a a0,2  Decrescente 
Rio Grande do Norte  4,40  5,70  8,23  1,4a  0,1 a 2,7  Crescente 
Paraíba  9,56  9,63  17,99  0,6  1,7 a 2,8  Estacionária 
Pernambuco  26,20  19,72  33,56  0,2  1,5 a 1,0  Estacionária 
Alagoas  5,89  8,13  10,62  2,1a  0,1 a 4,2  Crescente 
Sergipe  11,46  13,73  22,48  1,0  1,6 a 3,6  Estacionária 
Bahia  9,92  13,60  16,46  1,7  0,6 a 4,1  Estacionária 
Centro‐Oeste  49,79  30,02  55,22  1,5  3,0 a 0,9  Estacionária 
Mato Grosso do Sul  28,37  15,21  27,70  0,3  2,3 a 3,0  Estacionária 
Mato grosso  101,65  80,62  113,33  0,5  3,0 a 2,0  Estacionária 
Goiás  44,34  21,69  54,07  2,3  5,3 a 0,7  Estacionária 
Distrito Federal  21,80  5,91  13,96  5,1a  5,8 a4,3  Decrescente 
Sudeste  14,47  4,17  11,50  4,5a  5,1 a4,0  Decrescente 
Minas Gerais  12,42  5,34  13,00  4,3a  5,1 a3,4  Decrescente 
Espírito santo  36,40  10,97  33,54  0,6  9,5 a 11,8  Estacionária 
Rio de Janeiro  21,88  4,333  17,99  6,3a  9,5 a3,0  Decrescente 
São Paulo  10,67  3,95  6,63  4,8a  5,4 a4,1  Decrescente 
Sul  7,25  2,84  6,49  3,5a  5,7 a1,2  Decrescente 
Paraná  3,43  5,20  12,95  3,6a  6,4 a0,8  Decrescente 
Santa Catarina  6,63  2,13  3,90  4,1a  7,3 a0,7  Decrescente 
Rio Grande do Sul  1,82  0,92  1,77  2,3a  3,2 a1,5  Decrescente 

AAPC, average annual percent change (variação percentual anual). Média, taxa média do período 1990–2016.

a

Significância estatística.

Na análise regional, o Norte apresentou a maior taxa média (58,92/100 mil), seguido do Centro‐Oeste (55,22/100 mil). Paralelamente, o Sul apresentou a menor taxa (6,49/100 mil). No último ano da série, nas regiões Norte, Nordeste e Centro‐Oeste, a endemia foi classificada como muito alta. Além disso, Sudeste e Sul registraram endemicidade média. Na análise pelo joinpoint, tendências de redução foram observadas no Sul (AAPC=3,5%; p<0,001) e no Sudeste (AAPC=4,5%; p<0,001) (figs. 1 e 2) (tabela 1).

Considerando os estados brasileiros, a maior taxa média foi observada no Tocantins (85,05/100 mil), elevando‐se de 72,06/100 mil em 1990 para 88,13/100 mil em 2016. Em outros sete estados, as taxas em 2016 foram maiores do que as observadas no início da série temporal: Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia e Paraná. Paralelamente, no último ano de série, juntamente com o Tocantins, a condição de hiperendemia foi registrada no Mato Grosso (80,62/100 mil) e no Maranhão (47,43/100 mil) (fig. 2 e tabela 1).

Verificaram‐se tendências de redução em 11 estados e no Distrito Federal: quatro na região Norte, um no Nordeste, três no Sudeste, três no Sul e o DF no Centro‐Oeste. O Amazonas foi o que apresentou a maior redução (AAPC=6,9%; p<0,001), decrescendo de 76,33/100 mil em 1990 para 11,12/100 mil em 2016, mantendo uma taxa média de 40,11/100 mil (fig. 2 e tabela 1).

Alagoas e Rio Grande do Norte apresentaram tendências estatisticamente significativas de crescimento. Em Alagoas, a taxa passou de 5,89/100 mil em 1990 para 8,13/100 mil em 2016 (AAPC=2,1%; p<0,001) e no Rio Grande do Norte elevou‐se de 4,40/100 mil em 1990 para 5,7/100 mil em 2016 (AAPC=1,4%; p<0,001). Vale salientar que nesses dois estados a hanseníase já atingiu o patamar de eliminação (prevalência<1 caso/10 mil habitantes) (fig. 2 e tabela 1). Esse achado indica que a cadeia de transmissão nesses estados encontra‐se ativa, sugerindo problemas operacionais e apontando para uma prevalência oculta.

As assimetrias observadas na detecção da doença no Brasil sinalizam para a complexidade do problema. Recentemente, pesquisadores têm alertado para a elevada prevalência oculta da doença e subdiagnóstico no país.6,7 As tendências de crescimento observadas em Alagoas e Rio Grande do Norte e o padrão estacionário em 13 unidades federativas e nas regiões Norte, Nordeste e Centro‐Oeste sinalizam a necessidade de intervenções nessas áreas, objetivando a interrupção da cadeia de transmissão.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Carlos Dornels freire de Souza: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Franklin Gerônimo Bispo Santos: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Thiago Cavalcanti Leal: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

João Paulo Silva de Paiva: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
Organização Mundial da Saúde.
Estratégia global para hanseníase 2016–2020: Aceleração rumo a um mundo sem hanseníase.
OMS, (2016),
[2]
Portalarquivos.saude.gov.br [Internet]. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Indicadores epidemiológicos e operacionais de hanseníase. Brasil, 2001–2016 [Atualizado 09 junho 2017; Acessado 15 junho 2018]. Disponível em:<http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/julho/10/Indicadores‐epidemiol--gicos‐e‐operacionais‐de‐hansen--ase.%20Brasil,%202001‐.pdf>.
[3]
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[4]
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Factors Contributing to the Delay in Diagnosis and Continued Transmission of Leprosy in Brazil – An Explorative, Quantitative Questionnaire Based Study.
PLoS Negl Trop Dis., 10 (2016), pp. e0004542

Como citar este artigo: Souza CD, Santos FG, Leal TC, Paiva JP. Trend of leprosy detection rate in Brazil, 1990 to 2016. An Bras Dermatol. 2019;94:603–7.

Trabalho realizado na Universidade Federal de Alagoas, Arapiraca, Alagoas, Brasil.

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