Melasma é dermatose pigmentar crônica multifatorial, que afeta exclusivamente áreas fotoexpostas (com predomínio das lesões na face), mais prevalente em mulheres durante o menacme. Predisposição genética, exposição à radiação ultravioleta (RUV) e estímulos hormonais são seus principais desencadeantes. Entretanto, outros elementos como a exposição à poluição ambiental, ao calor, privação de sono e condições crônicas, como a depressão, podem agravar o estresse oxidativo sistêmico, contribuindo potencialmente para a gênese e progressão do melasma.1
Estresse oxidativo sistêmico é proeminente nos pacientes com melasma. Paralelamente, a administração de antioxidantes orais, como o picnogenol, potencializa o efeito clareador do tratamento tópico.2
A exposição crônica à RUV, especialmente do tipo A, induz estresse oxidativo tanto celular quanto sistêmico, contribuindo para a melanogênese sustentada observada no melasma.1 Há correlação negativa entre a gravidade clínica do melasma e níveis plasmáticos de glutationa (GSH), além de níveis aumentados de componentes do sistema enzimático de defesa antioxidante intracelular, como a superóxido dismutase (SOD) e a GSH‐peroxidase.3 Ademais, indivíduos com melasma apresentam concentrações plasmáticas mais elevadas de malondialdeído, um subproduto da peroxidação lipídica que é marcador de lesão celular.4
No contexto dos mecanismos da defesa antioxidante, além do sistema enzimático (como SOD e GSH‐peroxidase), destacam‐se a importância dos antioxidantes não enzimáticos, obtidos pela dieta. Esses incluem compostos presentes em alimentos ricos em betacaroteno, vitaminas C e E, ácido elágico, bioflavonoides, catequinas, isoflavonas, licopeno, ácidos graxos ômega‐3, polifenóis, resveratrol, selênio, zinco e cisteína.
Até o momento, nenhum estudo avaliou, sistematicamente, aspectos dietéticos em indivíduos com melasma. Para preencher essa lacuna, conduzimos um estudo transversal objetivando investigar padrões alimentares, com foco específico na ingestão de alimentos ricos em antioxidantes, em mulheres com melasma facial em comparação com aquelas sem a dermatose.
Após aprovação no Comitê de Ética institucional (CAAE 26390419.7.0000.5515), foram incluídas 194 mulheres adultas em idade fértil (de 18 a 49 anos), divididas em dois grupos: 97 com melasma facial (diagnosticado por dermatologista) e 97 controles. O período de recrutamento das participantes foi de setembro/2023 a janeiro/2024. O emparelhamento ocorreu por idade; foram excluídas mulheres com dermatoses faciais concomitantes. A amostragem foi consecutiva, entre pacientes atendidas no Hospital Regional de Presidente Prudente, e realizada após tomada de consentimento informado.
O principal desfecho do estudo foi o Questionário de Frequência Alimentar (QFA) adaptado, aplicado às participantes para avaliar o consumo semanal de 41 tipos de alimentos (Material Suplementar). Os dados obtidos foram convertidos para gramas e, a partir disso, calculados os valores de energia, macronutrientes e micronutrientes, utilizando o software Nutritional Data System for Research (NDSR). Os padrões alimentares foram analisados com base em seus componentes, extraídos por meio do método PLS (Partial Least Squares), utilizando dados escalonados pelos desvios‐padrão.5 Todas as avaliações do consumo alimentar foram processadas e analisadas por nutricionista (TCF).
Além disso, foram coletados dados demográficos, aderência à fotoproteção, tabagismo e suplementação oral de antioxidantes. Os nutrientes foram comparados entre os grupos pelo teste (exato) de Mann‐Whitney; a significância foi estabelecida em p ≤ 0,01. O tamanho da amostra foi calculado para detectar diferença mínima de 20% da ingesta de algum nutriente entre os grupos, com alfa de 0,01 e beta de 0,1.
Não houve diferenças entre os grupos quanto à idade, fototipos, idade da menarca, tabagismo, número de filhos, aderência ao filtro solar, uso de contraceptivos ou de suplementação antioxidantes orais (tabela 1).
Principais dados demográficos das mulheres com melasma e controles
| Variáveis | Melasma | Controle | p‐valora |
|---|---|---|---|
| n | 97 | 97 | – |
| Idade (anos) – média (dp) | 38 (7) | 37 (9) | 0,162 |
| Fototipo (Fitzpatrick) – n (%) | 0,035 | ||
| I–II | 37 (38) | 50 (52) | |
| III | 44 (45) | 39 (40) | |
| IV–V | 16 (17) | 8 (8) | |
| Familiar com melasma – n (%) | 58 (60) | 20 (21) | <0,001 |
| Uso regular de filtro solar – n (%) | 73 (75) | 63 (65) | 0,158 |
| Idade da menarca (anos) – média (dp) | 12 (1) | 12 (1) | 0,916 |
| Tempo de melasma (anos) – mediana (p25–p75) | 8 (5–15) | – | – |
| Número de filhos – mediana (p25–p75) | 1 (0–2) | 1 (0–2) | 0,243 |
| Usa contraceptivo oral – n (%) | 33 (34) | 39 (40) | 0,458 |
| Tabagismo atual – n (%) | 9 (9) | 2 (2) | 0,058 |
| Uso de antioxidante oral – n (%) | 18 (19) | 10 (10) | 0,152 |
A dieta em ambos os grupos foi monótona, e os alimentos mais consumidos semanalmente pelos dois grupos foram: leite, queijo, laranja, tomate, café e carne branca. Não foram evidenciados pacientes celíacos ou vegetarianos na amostra. A extração de três componentes PLS em função dos padrões alimentares formados pelos 41 alimentos pesquisados explicou a variância de apenas 20% dos grupos, sem implicar em separação adequada entre o grupo melasma e controles (fig. 1). Além disso, não foram observadas diferenças entre os dois grupos em relação ao consumo de macro e micronutrientes, incluindo antioxidantes alimentares (tabela 2).
Dados nutricionais das dietas dos participantes, referidos em uma semana (n=194)
| Nutrientes | Melasma | Controle | p‐valora | ||||
|---|---|---|---|---|---|---|---|
| Mediana | p25 | p75 | Mediana | p25 | p75 | ||
| Energia (kcal) | 18.164 | 12.396 | 25.836 | 21.110 | 13.309 | 29.083 | 0,208 |
| Proteína (g) | 920 | 635 | 1.418 | 1.204 | 715 | 1.878 | 0,023 |
| Carboidrato (g) | 2.392 | 1.292 | 3.618 | 2.332 | 1.365 | 3.224 | 0,608 |
| Lipídio (g) | 441 | 328 | 666 | 598 | 335 | 952 | 0,021 |
| Lipídio saturados (g) | 163 | 71 | 311 | 223 | 86 | 407 | 0,053 |
| Lipídio monoinsaturado (g) | 116 | 61 | 168 | 173 | 81 | 282 | 0,024 |
| Lipídio poli‐insaturado (g) | 53 | 32 | 100 | 61 | 33 | 124 | 0,258 |
| Colesterol (mg) | 2.427 | 1.564 | 4.815 | 3.240 | 1.799 | 7.157 | 0,063 |
| Fibra (g) | 438 | 235 | 745 | 384 | 251 | 735 | 0,924 |
| Sódio (mg) | 13.817 | 7.736 | 30.341 | 19.383 | 11.864 | 33.522 | 0,039 |
| Cálcio (mg) | 13.744 | 7.575 | 20.338 | 14.368 | 8.832 | 23.694 | 0,205 |
| Ferro (mg) | 107 | 63 | 207 | 133 | 75 | 217 | 0,213 |
| Zinco (mg) | 95 | 63 | 140 | 124 | 70 | 156 | 0,055 |
| Vitamina A (mcg) | 11.617 | 5.259 | 23.800 | 10.542 | 4.818 | 24.518 | 0,967 |
| Vitamina B1 (mg) | 20 | 11 | 28 | 21 | 13 | 34 | 0,273 |
| Vitamina C (mg) | 4.586 | 1.895 | 9.793 | 3.678 | 1.523 | 7.917 | 0,220 |
| Vitamina E (mg) | 82 | 45 | 166 | 105 | 45 | 182 | 0,467 |
| Vitamina B6 (mg) | 29 | 20 | 46 | 34 | 21 | 44 | 0,419 |
| Vitamina D (mg) | 23 | 9 | 65 | 34 | 9 | 98 | 0,103 |
| Potássio (mg) | 52.573 | 32.826 | 77.674 | 55.828 | 35.776 | 78.289 | 0,675 |
| Magnésio (mg) | 4.774 | 2.987 | 7.318 | 5.491 | 3.142 | 7.981 | 0,257 |
| Selênio (mg) | 878 | 508 | 1.570 | 1.044 | 568 | 2.234 | 0,086 |
| Folato (mg) | 4.388 | 2.099 | 6.665 | 3.899 | 2.323 | 6.163 | 0,627 |
Apesar do microambiente oxidativo na derme superior, as causas do desequilíbrio oxidativo sistêmico em pacientes com melasma não são compreendidas, e os resultados deste estudo não demonstraram diferenças no consumo dietético de antioxidantes nesses pacientes.
Os hábitos alimentares da população urbana brasileira são desequilibrados, caracterizados por baixa variabilidade de alimentos, alta ingestão calórica de carboidratos como arroz e massas, consumo de alimentos ultraprocessados, mas com baixa ingestão de fibras e micronutrientes.6 Os participantes do estudo não apresentaram hábitos alimentares que diferiam da população urbana brasileira.
A pesquisa sobre padrões alimentares e sua associação com desfechos em saúde é importante, mas tem sido pouco explorada, de maneira sistemática, na literatura dermatológica. É ainda importante destacar que a compreensão dos componentes nutricionais de uma dieta influencia não somente o aspecto da nutrição do organismo, mas a composição do microbioma intestinal, efeitos de xenobióticos e todo um controle epigenético que certos alimentos exercem.7
Não há estudos robustos na literatura que tenham investigado o incremento do consumo de alimentos ricos em antioxidantes em outras dermatoses. Especificamente na rosácea, estudos com suplementação de zinco apresentaram resultados conflitantes e limitações metodológicas, não havendo evidência suficiente para recomendar seu uso clínico. Uma revisão da literatura sobre suplementações dietéticas evidenciou que, em pacientes com vitiligo, apenas a reposição de vitamina D por via oral é recomendada em casos de deficiência comprovada, embora ainda não haja consenso sobre a dose ideal para promover repigmentação. O uso de Polypodium leucatomos também é indicado, desde que associado à fototerapia, apresentando evidências de aumento na repigmentação, especialmente em áreas expostas. Já a suplementação com vitamina C e B12, vitamina E, misturas antioxidantes e Ginkgo biloba apresenta ainda evidência insuficiente para recomendação rotineira.8
Um estudo chinês, que envolveu 150 casos e 150 controles, identificou a ingesta alcoólica como fator de risco (odds ratio=20,5), e consumo de refrigerantes como protetor (odds ratio=0,04) para o desenvolvimento do melasma; entretanto, esses fatores não foram adequadamente investigados do ponto de vista fisiopatológico.9 Apesar de ser uma demanda habitual dos pacientes, ainda não há associações validadas entre aspectos dietéticos e desencadeamento do melasma. Neste estudo, também não foram identificadas diferenças em termos de padrão dietético quando comparadas mulheres com melasma e o grupo controle.
Até o momento, as evidências sugerem a suplementação oral de antioxidantes orais (como picnogenol) como coadjuvantes ao tratamento.10 No contexto da ingestão alimentar específica, hipotetiza‐se que a soja possa exacerbar o melasma em virtude de sua ação “estrogênio‐like”; no entanto, não há dados sobre quantidade crítica para tal desfecho.11
Investigações relacionadas a padrões alimentares apresentam limitações ligadas à memória do participante, à memória alimentar e à monotonia da dieta de populações urbanas. Entretanto, a homogeneidade da amostra, como a dessas participantes que foram oriundas de um único centro, fortalece a validade interna quando se explora fatores ligados unicamente à dieta. A falta de associação observacional não significa que intervenções dietéticas sejam ineficazes, mas demandam desenhos diferentes de estudo para sua comprovação. Por fim, estudos que explorem o microbioma intestinal podem sugerir intervenções dietéticas no melasma.
Em conclusão, nem os padrões alimentares nem o consumo de antioxidantes provenientes da dieta são associados ao desenvolvimento de melasma em mulheres brasileiras.
Aprovação pelo Comitê de ÉticaEste projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Oeste Paulista CAAE: 26390419.7.0000.5515 (Unoeste).
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresAna Cláudia Cavalcante Espósito: Concepção e planejamento do estudo; análise e interpretação dos dados; redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.
Carla Rakoski Ribas: Concepção e planejamento do estudo; análise e interpretação dos dados; redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.
Gracielli Ferreira Barbosa: Concepção e planejamento do estudo; análise e interpretação dos dados; redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.
Julia Dias Bendini: Concepção e planejamento do estudo; análise e interpretação dos dados; redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.
Rita Gisele Biffi Medeiros: Concepção e planejamento do estudo; análise e interpretação dos dados; redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.
Carolina Nunhez da Silva: Concepção e planejamento do estudo; análise e interpretação dos dados; redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.
Tatiana Cristina Figueira: Análise e interpretação dos dados; redação do artigo; obtenção dos dados; aprovação da versão final do manuscrito.
Hélio Amante Miot: Concepção e planejamento do estudo; análise e interpretação dos dados; análise estatística; redação do artigo; revisão crítica de literatura; revisão crítica do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.
Disponibilidade de dados de pesquisaTodo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.
Conflito de interessesNenhum.
Luciana P. Fernandes Abbade
Como citar este artigo: Espósito ACC, Ribas CR, Barbosa GF, Bendini JD, Medeiros RGB, da Silva CN, et al. Dietary antioxidant intake in women with facial melasma: a case‐control study. An Bras Dermatol. 2025;100:501218.
Trabalho realizado no Hospital Regional de Presidente Prudente Doutor Domingos Leonardo Cerávolo, Presidente Prudente, SP, Brasil.




