Publicações sobre dermatoscopia vertical ex vivo de lesões cutâneas são esporádicas e apresentadas apenas como relatos de caso.
ObjetivosEste estudo define, descreve e determina a importância das estruturas visíveis à dermatoscopia vertical ex vivo no diagnóstico de lesões cutâneas pigmentadas benignas e sua distinção entre si e em relação a outras lesões cutâneas.
MétodosO estudo prospectivo e descritivo foi realizado em dois centros universitários. Imagens digitais de lesões cutâneas completamente excisadas, fixadas em formalina antes do processamento posterior, foram avaliadas dermatoscopicamente. Para a análise da dermatoscopia horizontal ex vivo, foi utilizada a análise de padrões, enquanto para o corte vertical, foi feita a descrição das estruturas visíveis.
ResultadosA amostra da pesquisa foi composta por 80 lesões cutâneas pigmentadas benignas obtidas de 73 pacientes. O diagnóstico histopatológico das lesões avaliadas incluiu 59 nevos, 17 ceratoses seborreicas, três angiomas e um acantoma de células claras. A ceratose seborreica mostrou a apresentação mais variável na dermatoscopia vertical ex vivo. Ao analisar o corte vertical das lesões cutâneas avaliadas, observou‐se a importância da dermatoscopia vertical ex vivo no diagnóstico e/ou diferenciação de nevo azul, ceratose seborreica e angioma de outras lesões cutâneas.
Limitações do estudoPequeno número de lesões analisadas e inclusão apenas de pacientes caucasianos.
ConclusõesA dermatoscopia vertical ex vivo pode contribuir para a distinção entre diferentes lesões cutâneas benignas pigmentadas, bem como para sua diferenciação de outras lesões cutâneas. Além disso, o corte vertical possibilita avaliação mais precisa de características lesionais adicionais e descritivas.
O diagnóstico de lesões cutâneas envolve principalmente exame clínico (inspeção e/ou palpação), que tem sido suficiente na maioria dos casos. No entanto, em virtude das mudanças globais (migração populacional, mudanças nas condições climáticas, surgimento de novos vírus), muitas lesões cutâneas deixaram de ser típicas e facilmente reconhecíveis. A aplicação da dermatoscopia como método complementar propicia o diagnóstico mais preciso, visualizando critérios morfológicos adicionais (pigmentares e/ou vasculares).1–3
A dermatoscopia foi projetada principalmente para o diagnóstico e a diferenciação de lesões cutâneas pigmentadas. No entanto, com o tempo, o espectro de indicações para o uso da dermatoscopia expandiu‐se para incluir alterações não pigmentadas, principalmente malignas. Posteriormente, a aplicação da dermatoscopia foi estendida a doenças inflamatórias, parasitárias, capilares e ungueais e à capilaroscopia, de modo que, atualmente, a dermatoscopia é parte indispensável do exame clínico.1–5
O desenvolvimento posterior da dermatoscopia visou à sua aplicação por médicos de outras especialidades, não apenas dermatologistas. Diversos artigos apresentam a dermatoscopia ex vivo, que é um novo tipo de aplicação da dermatoscopia in vivo padrão, em tecido recém‐excisado ou tecido fixado em formalina.6–9 Apesar dos aspectos negativos da dermatoscopia ex vivo (baixa qualidade de imagem, perda de estruturas vasculares, alterações significantes de cor), artigos publicados mostram a utilidade de sua aplicação como método auxiliar disponível ao patologista (direcionando o corte do tecido indicando o campo de interesse para o corte vertical).5,8–11
Alguns artigos publicados descrevem a dermatoscopia ex vivo vertical, que envolve a aplicação da dermatoscopia em corte vertical de tecido excisado, fresco ou fixado.12 A visão plana vertical pode ser útil para cirurgiões que praticam cirurgia micrográfica de Mohs para mapear margens positivas.13 Em virtude da possibilidade de fácil compartilhamento de fotos de margens positivas marcadas com o cirurgião, sugere‐se sua possível aplicação em casos em que o laboratório de Mohs não esteja incluído na área cirúrgica.13
Recentemente, foram publicados resultados da análise de lesões cutâneas malignas por dermatoscopia vertical ex vivo, fornecendo informações diagnósticas que podem ser valiosas na prática clínica.14 O presente estudo relata a segunda parte da investigação, descrevendo os resultados da dermatoscopia vertical ex vivo em lesões cutâneas pigmentadas benignas.
Materiais e métodosApós a aprovação do Comitê de Ética institucional, foi realizado estudo prospectivo e descritivo na área de dermatoscopia vertical ex vivo. A pesquisa incluiu a análise de lesões benignas pigmentadas coletadas durante o estudo.
A parte experimental da pesquisa foi realizada em dois centros universitários: o Serviço de Diagnóstico Anatomopatológico, University Clinical Center Kragujevac, da Faculdade de Ciências Médicas de Kragujevac, e o Instituto de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Belgrado. A pesquisa incluiu pacientes cujas lesões foram completamente excisadas cirurgicamente e enviadas para verificação histopatológica no período de 1° de setembro a 31 de dezembro de 2019. O estudo foi adiado em virtude da situação epidemiológica causada pela epidemia de COVID‐19 e continuou de 1° de janeiro a 1° de abril de 2022.
Os critérios de inclusão e exclusão de pacientes são apresentados na tabela 1. As características demográficas dos pacientes e os dados clínicos foram coletados por meio da revisão dos encaminhamentos histopatológicos e dos prontuários ambulatoriais dos pacientes.
Critérios para inclusão e exclusão de pacientes no estudo
| Inclusão | Exclusão |
|---|---|
| Lesão cutânea completamente removida cirurgicamente | Má qualidade das imagens dermatoscópicas |
| Boa qualidade das fotografias dermatoscópicas | Relatório histopatológico descritivo |
| Diagnóstico histopatológico claro | Pigmentação clinicamente avaliada de lesões benignas<50% |
| Pigmentação clinicamente avaliada de lesões benignas ≥ 50% |
A pesquisa foi realizada em material tecidual obtido após a remoção cirúrgica das lesões cutâneas, fixado em formalina antes do processamento posterior, de acordo com o protocolo. Primeiramente, foram obtidas imagens clínicas do tecido excisado. Em seguida, a superfície de contato do dermatoscópio foi coberta com uma fina película transparente, presa com elástico para evitar contaminação cruzada.15 Após a fotografia dermatoscópica do aspecto horizontal da lesão cutânea, foi realizado o corte vertical do tecido, que também foi fotografado de acordo com o mesmo protocolo descrito anteriormente.
Uma câmera de celular previamente conectada a um dermatoscópio portátil (Dermlite 3DLN, Califórnia, EUA) foi utilizada para imagens clínicas e dermatoscópicas digitais. Fotografias dermatoscópicas de cortes verticais do tecido foram tiradas em diferentes ampliações com uma câmera de celular. Todas as fotos digitais foram transferidas eletronicamente e salvas em computador para posterior avaliação. Para a análise dermatoscópica da dermatoscopia horizontal ex vivo, foi aplicada a análise de padrões, que determinou a existência de estruturas dermatoscópicas específicas para o tipo de lesão.16 A análise de fotografias dermatoscópicas ex vivo do tecido em corte vertical permitiu a descrição das estruturas visíveis disponíveis.
Além das características demográficas dos pacientes (idade, sexo), também foram avaliadas variáveis independentes das lesões excisadas, isto é, localização e diâmetro da lesão incluída, e expressão das estruturas dermatoscópicas em fotografias digitais dos aspectos horizontais e verticais do tecido cutâneo excisado.
Os dados obtidos foram inseridos em banco de dados Excel (Microsoft Office 2016) para posterior processamento estatístico.
Análise estatísticaUm pacote de software comercial (versão 22.0, SPSS Inc., Chicago, IL) foi utilizado para o processamento estatístico dos resultados obtidos. O achado histopatológico foi o padrão‐ouro do estudo. Os métodos estatísticos descritivos utilizados na análise dos resultados obtidos foram:
- •
Números absolutos e relativos, n (%).
- •
Medidas de tendência central (média aritmética – X, mediana – Med).
- •
Medidas de variabilidade (desvio padrão – DP, intervalo de variação).
A amostra da pesquisa foi composta por 80 lesões cutâneas benignas pigmentadas obtidas de 73 pacientes, com predominância do sexo feminino (n=47, 64,4%) em relação ao masculino (n=26, 35,6%). A idade dos pacientes variou de 7 a 83 anos (X 44, Med 43,5). O tamanho das lesões variou de 1mm a 25mm (X 7mm, Med 6mm). O tronco foi a localização de 50% (40/80) das lesões, enquanto 28,7% (23/80) das lesões localizavam‐se nas extremidades e 21,3% (17/80) na região da cabeça e pescoço. Quase todos os pacientes incluídos apresentavam uma lesão (67/73, 91,8%); cinco pacientes apresentavam duas lesões (5/73, 6,8%), enquanto apenas um paciente apresentava três lesões (1/73, 1,4%).
O diagnóstico histopatológico das lesões pigmentadas benignas da pele é apresentado na tabela 2.
Diagnóstico histopatológico de lesões cutâneas benignas pigmentadas
| Nevo | n=59 |
|---|---|
| Intradérmico comum | 32 |
| Epidérmico‐dérmico comum (composto) | 19 |
| Displásico | 6 |
| Nevo de Reed | 1 |
| Nevo azul | 1 |
| Ceratose seborreica | n=17 |
|---|---|
| Acantótica | 7 |
| Irritada | 6 |
| Hiperceratótica | 4 |
| Angioma | 3 |
|---|---|
| Acantoma de células claras | 1 |
| Total | n = 80 |
Entre as lesões incluídas, as mais comuns foram os nevos melanocíticos (59/80, 73,75%) e, entre eles, os nevos intradérmicos (32/59, 54,2%).
Nevo intradérmicoOs nevos intradérmicos apresentaram clinicamente características clássicas em 12/32 (37,5%), na forma de pápulas com elevação variável, lisas em 11/32 (34,4%) ou com superfície papilomatosa em 9/32 (28,1%). Os nevos intradérmicos clássicos, na forma de pápulas pigmentadas, macias, hemisféricas e com presença de número variável de pelos terminais, apresentaram pigmentação marrom/azulada na dermatoscopia horizontal ex vivo, com distribuição homogênea (fig. 1A), em padrão de paralelepípedo (fig. 1B) ou em forma de rede/pseudo‐rede.
Nevo intradérmico. Dermatoscopia ex vivo horizontal. (A) Apresentação como pigmentação homogênea azul‐escura. (B) Apresentação global em paralelepípedo. Dermatoscopia ex vivo vertical. (C) Pigmentação na forma de fina linha marrom que se estende acima do corpo esbranquiçado com borda inferior indistinta. (D) Pigmentação em toda a espessura do nevo.
No corte vertical, em mais da metade dos nevos intradérmicos clássicos (7/12; 58,3%) a pigmentação apresentou‐se na forma de uma linha que acompanhava a elevação do nevo (fig. 1C). Um número menor de nevos intradérmicos clássicos (5/12; 41,7%) no corte vertical apresentou pigmentação variável de marrom e marrom‐azulada em toda a espessura do nevo, com vascularização mais desenvolvida (fig. 1D).
Onze nevos intradérmicos (34,4%) apresentaram‐se clinicamente como pápulas pigmentadas com elevação variável. À dermatoscopia ex vivo horizontal, sua apresentação foi na forma de pigmentação marrom‐escura homogênea (fig. 2A) e pigmentação azul‐índigo. No corte vertical, esses nevos apresentaram pigmentação como linhas contínuas de espessura e comprimento variáveis (fig. 2B).
Nevo intradérmico. Dermatoscopia ex vivo horizontal. (A) Padrão global homogêneo. (C) Padrão global em forma de paralelepípedo. Dermatoscopia ex vivo vertical. (B) Pigmentação escura em forma de linha ligeiramente curva, sem limites claros do corpo do nevo. (D) Tumor em forma de cogumelo, pigmentação do terço superior em forma de faixa de superfície ondulada com corpo esbranquiçado vascularizado.
Nevos intradérmicos papilomatosos foram ligeiramente menos frequentes (9/32; 28,1%). À dermatoscopia ex vivo horizontal, predominou padrão global em formato de paralelepípedo (fig. 2C). Em corte vertical, apresentaram‐se em forma de cogumelo, com papilas mais escuras e base esbranquiçada, intercalada por vasos sanguíneos curtos e lineares (fig. 2D).
Nevo epidérmico‐dérmico (composto)Havia quase duas vezes menos nevos epidérmico‐dérmicos do que nevos intradérmicos, 19/59 (32,2%). Clinicamente, apresentaram‐se na forma de máculas e pápulas, com superfícies predominantemente lisas e, menos frequentemente, papilomatosas. A apresentação global à dermatoscopia ex vivo horizontal foi altamente variável – padrão global globular, homogêneo, reticular ou paralelo (fig. 3A‐B). No entanto, apesar da apresentação clínica e dermatoscópica horizontal variável, em corte vertical, a estrutura foi semelhante, na forma de uma linha recolorida de acordo com a profundidade da melanina (fig. 3C‐D).
Nevo displásicoOs nevos displásicos confirmados histologicamente totalizaram 6/59 (10,2%). Clinicamente, os nevos displásicos apresentaram‐se como máculas ou pápulas pigmentadas com critérios ABCD positivos. A displasticidade também foi confirmada pela dermatoscopia horizontal ex vivo, pela presença geral de irregularidade na estrutura e coloração, com a presença de vários critérios para o diagnóstico de melanoma (fig. 4A‐B). Aqui, assim como no nevo epidérmico‐dérmico, apesar da apresentação clínica e dermatoscópica horizontal muito diferente, no corte vertical a apresentação dermatoscópica foi bastante semelhante (fig. 4C‐D).
Nevo azul e nevo de ReedUm nevo azul e um nevo de Reed (1/59, 1,7%) foram incluídos na amostra da pesquisa. A apresentação clínica e horizontal ex vivo do nevo azul foi típica para esse nevo (fig. 5A). No corte vertical, observou‐se a profundidade real de sua disseminação (fig. 5B).
Nevo azul (A‐B) e nevo de Reed (C‐D). Dermatoscopia ex vivo horizontal. (A) Apresentação global homogênea azul. (C) Padrão global homogêneo, formato assimétrico, bordas irregulares e véu azul‐esbranquiçado na parte central. Dermatoscopia ex vivo vertical. (B) Pigmentação escura, homogênea e profunda visível, com margem inferior irregular. (D) Pigmentação escura superficial e linear.
O nevo de Reed apresentou‐se clinicamente como mácula pigmentada escura, de formato assimétrico. Na dermatoscopia ex vivo horizontal, apresentou padrão global homogêneo (fig. 5C). No corte vertical, apresentou‐se de maneira semelhante a um nevo displásico (fig. 5D).
Ceratose seborreicaUm quinto das lesões benignas analisadas consistia em ceratoses seborreicas (17/80; 21,25%): tipo acantótico 7/17 (41,2%), irritado 6/17 (35,3%) e hiperceratótico 4/7 (23,5%). Clinicamente, as ceratoses seborreicas acantóticas apresentaram‐se como pápulas pigmentadas e ceratóticas. A maioria das ceratoses seborreicas do tipo acantótica apresentou características clássicas de ceratose seborreica na dermatoscopia ex vivo horizontal e vertical (fig. 6A‐B).
Ceratose seborreica, tipo acantótica (A‐B) e irritada (C‐D). Dermatoscopia ex vivo horizontal. (A) Cistos semelhantes a milia, delimitação nítida, fundo pigmentar homogêneo. (C) Hiperceratose pronunciada e superfície papilomatosa. Dermatoscopia ex vivo vertical. (B) Epiderme espessada, cistos semelhantes a milia, pigmentação escura preenchendo a epiderme. (D) Ausência de cistos semelhantes a milia, epiderme marrom, espessada e ondulada.
As ceratoses seborreicas irritadas não tinham apresentação clínica específica. Além disso, as características clássicas da ceratose seborreica manifestaram‐se com menor frequência em ambos os planos da dermatoscopia ex vivo no tipo irritado (fig. 6C‐D).
A ceratose seborreica hiperceratótica apresentou‐se clinicamente como pápula/placa pigmentada e hiperceratótica. Na dermatoscopia ex vivo horizontal, demonstrou‐se padrão global de paralelepípedo, sem características dermatoscópicas clássicas visíveis de ceratose seborreica. A apresentação no corte vertical foi mais uniforme, com epiderme hiperceratótica e derme inalterada.
AngiomaDe um total de 80 lesões benignas, os angiomas representaram 3/80 (3,75%). A apresentação clínica foi na forma de pápulas hemisféricas/planas azuladas. No corte horizontal, a coloração azul padrão do angioma é visível, com ausência de lacunas específicas (fig. 7A‐B). A pigmentação mais escura predominou no corte vertical em comparação ao plano horizontal, mostrando a verdadeira profundidade de sua disseminação (fig. 7C‐D).
Angioma. Dermatoscopia ex vivo horizontal. (A) Apresentação típica como pigmentação azul‐escura homogênea. (B) Apresentação atípica como pigmentação azul‐clara assimétrica e homogênea. Dermatoscopia ex vivo vertical. (C) Pigmentação índigo‐negra homogênea e profunda, de formato irregular. (D) Lacunas típicas e fundo índigo‐escuro homogêneo e profundo.
Um em cada três angiomas apresentou achado inespecífico na dermatoscopia ex vivo horizontal (fig. 7B), onde nevo azul diferencialmente atípico ou melanoma não podem ser descartados. No entanto, o corte vertical revela estruturas que indicam claramente o diagnóstico de angioma (fig. 7D).
Acantoma de células clarasApenas 1/80 (1,25%) acantoma de células claras foi incluído neste estudo. A apresentação clínica foi na forma de pápula azulada. A apresentação na dermatoscopia ex vivo horizontal e vertical foi inespecífica.
Diagnóstico e diferenciação de lesões pigmentadas benignas por dermatoscopia vertical ex vivoDurante pesquisas posteriores, foi estabelecida a possibilidade de diagnóstico e diferenciação de lesões pigmentadas benignas por dermatoscopia vertical ex vivo. Nas figuras 7B e 8E‐B, observam‐se lesões pigmentadas com achados inespecíficos na dermatoscopia horizontal ex vivo. No entanto, estruturas visíveis no corte vertical indicam claramente o diagnóstico de angioma e ceratose seborreica, respectivamente (figs. 7D e fig. 8C‐D).
Ceratose seborreica irritada. Dermatoscopia ex vivo horizontal. (A) Campos esbranquiçados, véu branco‐azulado, assimetria de cor e forma. (B) Pigmentação marrom‐azulada inespecífica. Dermatoscopia ex vivo vertical. (C‐D) Envolvimento epidérmico, cistos notáveis semelhantes a milia, margens claras e regulares.
Nas figuras 9A‐C, observam‐se ceratose seborreica e nevo displásico, que, em corte horizontal, atendem aos critérios para o diagnóstico de melanoma. No corte vertical de ambas as lesões, nota‐se apresentação semelhante, com a presença de pequenas ilhas pigmentadas abaixo da margem inferior do nevo displásico, o que indica pigmentação mais profunda que a epidérmica, em contraste com a margem inferior da ceratose seborreica, que limita claramente a pigmentação epidérmica (fig. 9B‐D).
(A‐B) Ceratose seborreica, tipo acantótica. (C‐D) Nevo displásico. Dermatoscopia ex vivo horizontal. (A‐C) Numerosos pseudópodes ao longo da periferia do tumor com pigmentação azul‐índigo intercalada com estruturas esbranquiçadas. Dermatoscopia ex vivo vertical. (B) Lesão confinada à epiderme, pigmentação em forma de linha com margem inferior regular e presença de cisto semelhante a milium (seta). (D) Pigmentação linear homogênea, escura e superficial, com pequenas ilhas de pigmentação projetando‐se da margem inferior.
Além disso, a possibilidade de diferenciação entre lesões benignas e malignas foi investigada por meio de dermatoscopia vertical ex vivo. A figura 10A‐B mostra achado semelhante, inconclusivo, tanto para ceratose seborreica quanto para carcinoma espinocelular (CEC) na dermatoscopia horizontal ex vivo. Nesse caso, o corte vertical mostrou o envolvimento das camadas da pele e a profundidade da extensão tumoral (fig. 10C‐D).
(A‐C) Ceratose seborreica, tipo hiperceratótica. (B‐D) Carcinoma espinocelular invasivo. Dermatoscopia ex vivo horizontal. (A‐B) Visibilidade de estruturas esbranquiçadas, crostas e escamas amareladas. Dermatoscopia ex vivo vertical. (B) Envolvimento apenas da epiderme, na forma de hiperceratose esbranquiçada de superfície irregular, com derme normal. (D) Hiperceratose da epiderme, sob a qual há corpo tumoral esbranquiçado infiltrando a derme e a gordura subcutânea.
Apesar de diversos artigos científicos confirmarem a utilidade da dermatoscopia na prática diária, pouco foi publicado sobre dermatoscopia horizontal ex vivo, enquanto as publicações sobre dermatoscopia ex vivo no plano vertical incluem apenas relatos de casos esporádicos.17,18 Artigos publicados sobre dermatoscopia horizontal ex vivo demonstram utilidade para patologistas,10,19 enquanto para dermatologistas e outros clínicos envolvidos em dermatoscopia, a aplicação da dermatoscopia horizontal ex vivo não fornece nenhuma informação diagnóstica adicional significante em comparação com a dermatoscopia padrão in vivo. Além disso, certa quantidade de informação diagnóstica é perdida pela interrupção da vascularização no corte do tecido, o que justifica sua não aplicação na prática clínica diária.11
A dermatoscopia vertical ex vivo tem sido a menos pesquisada, motivo pelo qual o principal objetivo deste estudo foi definir e descrever as estruturas que podem ser vistas no corte vertical do tecido e, em seguida, determinar a possibilidade da existência de características adicionais que possam ser significantes no diagnóstico e/ou diferenciação de lesões cutâneas pigmentadas e benignas.
Diagnóstico e diferenciação de lesões cutâneas pigmentadas benignasNevo melanocíticoO diagnóstico clínico e dermatoscópico do nevo é geralmente fácil e não requer dermatoscopia ex vivo. No entanto, os autores estavam interessados em saber se, em casos raros de diagnóstico incerto, a dermatoscopia vertical ex vivo pode contribuir para um diagnóstico e/ou diferenciação mais precisos de lesões cutâneas pigmentadas benignas. Este estudo incluiu a análise de nevos epidérmico‐dérmicos, intradérmicos, displásicos e um nevo azul e um nevo de Reed cada.
No corte vertical do nevo foram observadas diferentes formas de pigmentação. Os nevos papilomatosos intradérmicos apresentaram forma única de pigmentação, que no plano vertical apresentava o formato de um cogumelo, constituído por um corpo esbranquiçado vascularizado, onde a pigmentação cobria toda a papila. Em todos os outros nevos avaliados, no corte vertical, foram observadas duas formas básicas de pigmentação: pigmentação superficial, cujas diferentes formas (plana, arqueada, hemisférica) acompanham a elevação do nevo na forma de uma linha de espessura, comprimento e tonalidade de cor variáveis, e pigmentação em toda a espessura do nevo.
As pigmentações manifestaram com mais frequência diferentes tons da cor natural da melanina, ou seja, a cor marrom. As cores visíveis na dermatoscopia vertical ex vivo foram correlacionadas com a localização da melanina, ou seja, tons mais escuros de marrom e preto indicaram a localização epidérmica da melanina, enquanto cinza e azul indicaram a localização dérmica do pigmento. No entanto, o nevo azul demonstrou ser uma exceção a essa regra, quando se trata da dermatoscopia vertical. A coloração azul visível clinicamente, tanto na dermatoscopia padrão in vivo quanto na dermatoscopia horizontal ex vivo, em corte vertical, varia de marrom‐escuro a preto em toda a espessura do nevo (fig. 7C‐D). Além do nevo azul, um nevo intradérmico apresentou desvio das regras de localização de cor e pigmento na dermatoscopia vertical. A pigmentação azul visível no plano horizontal, no corte vertical, apresentou‐se como pigmentação marrom linear superficial (fig. 1C).
Análises posteriores revelaram a possibilidade de diferenciação de um nevo azul em casos em que, clinicamente e por dermatoscopia horizontal, observam‐se diferentes tons de azul, como foi o caso do nevo intradérmico (fig. 1A) e do nevo de Reed (fig. 5C). Ambos os nevos mencionados, na dermatoscopia vertical ex vivo, mostraram apresentação diferente em comparação ao nevo azul. Pigmentação superficial, mais escura e linear foi observada no nevo intradérmico e no nevo de Reed (fig.1C e 5D), enquanto no nevo azul, a disseminação da pigmentação escura tornou possível ver a verdadeira profundidade de sua disseminação, o que contribui significantemente para sua diferenciação (fig. 5B) em comparação com os outros dois nevos.
Ao revisar a literatura, não foram encontrados relatos de dermatoscopia vertical ex vivo de nevos melanocíticos; portanto, não foi possível comparar os achados. No entanto, foi encontrado um relato de dermatoscopia vertical ex vivo de um melanoma acral. Maia et al. mostraram a dermatoscopia vertical ex vivo de melanoma acral em que a melanina, localizada dentro de cristas intermediárias, era claramente visível, reafirmando o padrão paralelo de cristas e o diagnóstico de melanoma acral.12 Embora o presente estudo não tenha incluído melanoma acral, mas um nevo, foram comparados os achados com o objetivo de estabelecer possibilidades de diferenciação da natureza biológica das proliferações melanocíticas acrais. Em regiões acrais, determinar a localização da melanina é de vital importância na diferenciação de malignidades acrais de proliferações benignas. Em casos de pigmentação mais intensa, é mais difícil determinar se o pigmento está em um sulco ou em uma crista; por isso, em alguns casos, recorre‐se à cobertura das lesões com tinta de caneta, que permanece nos sulcos após a limpeza com álcool, o que facilita a distinção entre cristas e sulcos.20
A dermatoscopia ex vivo horizontal do nevo acral incluído no estudo (fig. 3b‐d) não pôde excluir melanoma acral em virtude da presença de vários critérios para melanoma (presença de múltiplas cores, interrupção do padrão de sulcos paralelos na parte central e em locais periféricos, assimetria geral de cores e estruturas). Na dermatoscopia ex vivo vertical, foi possível observar claramente linhas paralelas, marrons e estreitas, dentro da epiderme espessada, com um espaço mais amplo e claro entre elas, indicando pigmentação em sulco, e não em crista como no melanoma, tornando possível, assim, sua diferenciação. Certamente, esse achado deve ser confirmado por pesquisas futuras que incluam apenas proliferações melanocíticas plantares.
Ceratose seborreicaAs ceratoses seborreicas geralmente não apresentam problemas diagnósticos na prática clínica diária. No entanto, em situações raras, especialmente quando pigmentadas e irritadas, as ceratoses seborreicas requerem diagnósticos adicionais. Este estudo incluiu a análise de ceratoses seborreicas acantóticas, hiperceratóticas e irritadas.
As ceratoses seborreicas acantóticas tinham, em sua maioria, apresentação clássica na dermatoscopia horizontal ex vivo, com as manifestações também observadas na dermatoscopia in vivo padrão (aberturas semelhantes a comedões, cistos semelhantes a milia, limitação clara).4,13 No corte vertical, o tecido tumoral limitou‐se à epiderme, com o reconhecimento das mesmas características típicas da ceratose seborreica, mas as ceratoses seborreicas hiperceratóticas e irritadas apresentaram com menor frequência suas características típicas, tanto no plano horizontal quanto no vertical. Das características dermatoscópicas da ceratose seborreica, os cistos semelhantes a milia apresentaram‐se de maneira idêntica tanto no corte vertical quanto na dermatoscopia horizontal.
Análises posteriores incluíram a possibilidade de diagnóstico e diferenciação de ceratoses seborreicas em casos pouco claros, com contribuição variável da dermatoscopia vertical ex vivo. No caso de achados inconclusivos da dermatoscopia horizontal em ceratoses seborreicas irritadas, com um corte vertical, foram encontradas características que indicavam o diagnóstico de ceratoses seborreicas (envolvimento apenas da epiderme, clara limitação da ilha pigmentada, formato e bordas regulares, presença de características típicas). Entretanto, no caso de ceratoses seborreicas acantóticas, em que o diagnóstico diferencial da dermatoscopia horizontal ex vivo incluía nevo/melanoma displásico, o achado do corte vertical sugeriu também lesão melanocítica (nevo intradérmico displásico, melanoma in situ) e não ceratose seborreica (fig. 9B).
No entanto, a dermatoscopia vertical ex vivo em certos casos de lesões hiperceratóticas pode contribuir para a diferenciação entre ceratoses seborreicas e CEC invasivo. Na figura10, observa‐se apresentação semelhante de ceratoses seborreicas e CEC invasivo na dermatoscopia horizontal ex vivo. No entanto, no corte vertical, a hiperceratose epidérmica sem alterações na derme diferenciou claramente a ceratose seborreica do CEC invasivo, no qual, além da hiperceratose epidérmica, também observa‐se envolvimento profundo da derme e do tecido subcutâneo por tecido tumoral.
Acredita‐se que, em casos de diagnóstico incerto, especialmente casos que incluam malignidade cutânea no diagnóstico diferencial, vale a pena dedicar um pouco mais de tempo para o corte vertical e análise. Se forem encontradas características típicas de ceratose seborreica, a dermatoscopia vertical ex vivo pode auxiliar no diagnóstico e, se estiverem ausentes, pode‐se observar a profundidade da infiltração para diferenciar entre proliferações benignas e malignas. Certamente, também há um cenário em que nenhuma informação adicional significante será recebida.
AngiomaAngiomas típicos são facilmente diagnosticados por exame clínico, enquanto a dermatoscopia padrão aumenta a certeza do diagnóstico. No entanto, em casos raros, os angiomas podem ser atípicos, exigindo diagnósticos adicionais. Dois dos três angiomas avaliados na dermatoscopia horizontal ex vivo apresentaram pigmentação azulada típica intercalada com linhas curtas mais claras. Os angiomas típicos, no corte vertical, apresentaram pigmentação marrom‐escura homogênea, profunda, em vez da cor azul esperada, visível na dermatoscopia horizontal.
Das características dermatoscópicas do angioma, as lacunas são apresentadas de forma idêntica tanto no corte vertical quanto na dermatoscopia horizontal.
Quando se trata de angiomas, não é recomendada a dermatoscopia vertical ex vivo como análise de rotina. Entretanto, um angioma no presente estudo não apresentou o achado dermatoscópico típico de angioma no plano horizontal e, dada a pigmentação azulada parcial de formato assimétrico, o diagnóstico diferencial incluiu nevo azul atípico, possivelmente melanoma. A análise do plano vertical revelou lacunas, facilmente visíveis, características dermatoscópicas típicas de angioma2, na forma de glóbulos escuros, ovais e claramente delimitados. Nesse caso, a dermatoscopia vertical ex vivo contribuiu para o diagnóstico de angioma e sua diferenciação de lesões melanocíticas atípicas.
Acantoma de células clarasEste estudo incluiu apenas um acantoma de células claras, que também é raramente diagnosticado na prática clínica diária. Em virtude da morfologia clínica variável, seu diagnóstico é principalmente histológico. Apresenta‐se mais frequentemente como pápula vermelha nas extremidades inferiores, enquanto a pigmentação é raramente observada.21 A imagem dermatoscópica do acantoma de células claras é dominada pelo padrão vascular, no qual os vasos sanguíneos apresentam‐se na forma de pontos/glóbulos com um arranjo linear ou serpentino característico, que lembra um colar de pérolas sobre fundo avermelhado claro.21
O achado da dermatoscopia horizontal ex vivo do acantoma analisado foi atípico, inconclusivo, na forma de pigmentação azulada homogênea, que indicava nevo azulado atípico ou angioma no diagnóstico diferencial. No corte vertical, o acantoma apresentou‐se com pigmentação marrom levemente arqueada, com vascularização aumentada na parte central do tecido tumoral esbranquiçado.
Embora a dermatoscopia em ambos os planos não tenha contribuído para o diagnóstico do acantoma de células claras, em casos de diagnóstico incerto, a recomendação dos autores é realizar análise adicional do corte vertical, pois pode contribuir para estreitar o diagnóstico diferencial. Nesse caso, pode‐se descartar nevo azul e angioma pela análise dermatoscópica do corte vertical, que mostra pigmentação profunda em contraste com a pigmentação superficial observada no acantoma de células claras. Deve‐se notar que a distribuição de vasos sanguíneos puntiformes como colar de pérolas não é patognomônica para acantoma de células claras, mas pode ser observada, entre outras, na ceratose seborreica pigmentada.22 Nesse caso, o exame vertical pode confirmar ou excluir ceratose seborreica em virtude da presença ou ausência de características dermatoscópicas da mesma.
Como esperados, pela raridade da revisão bibliográfica, não foi encontrada descrição de dermatoscopia vertical ex vivo de acantoma de células claras.
ConclusõesA dermatoscopia vertical ex vivo fornece visão instantânea das características descritivas significantes das lesões cutâneas. Utilizando essa técnica, foi estabelecida a possibilidade de diagnóstico e/ou diferenciação de nevo azul, ceratose seborreica e angioma de outras lesões cutâneas pigmentadas, bem como a distinção entre ceratose seborreica hiperceratótica e CEC invasivo.
Deve‐se ressaltar que a resolução da dermatoscopia vertical ex vivo não é suficiente para avaliar alterações em nível celular ou detectar infiltrados tumorais estreitos.
ORCID IDDimitrije Brasanac: 0000‐0001‐8476‐4857
Danijela Milošev: 0000‐0003‐2205‐300X
Ana Ravić Nikolić: 0000‐0002‐9402‐0832
Slobodanka Mitrović: 0000‐0003‐2497‐0557
Suporte financeiroEste trabalho recebeu suporte financeiro da Faculdade de Ciências Médicas. University of Kragujevac, Kragujevac, Sérvia (Projeto Júnior n° 10/21).
Contribuição dos autoresMirjana Popadić: Concepção e planejamento do estudo; obtenção de dados ou análise e interpretação dos dados; análise estatística; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; revisão crítica da literatura.
Dimitrije Brasanac: Obtenção de dados ou análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.
Danijela Milošev: Obtenção de dados ou análise e interpretação dos dados.
Ana Ravić Nikolić: Revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.
Slobodanka Mitrović: Obtenção de dados ou análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.
Disponibilidade de dados de pesquisaTodo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflitos de interesse. O financiador não teve qualquer papel no desenho do estudo, na obtenção, análise ou interpretação dos dados, na elaboração e redação do manuscrito ou na decisão de publicar os resultados.
EditorLuciana P. Fernandes Abbade.
Este trabalho foi financiado pela Faculdade de Ciências Médicas, University of Kragujevac, Kragujevac, Sérvia (Projeto Júnior n° 10/21).
O artigo faz parte da tese de doutorado da Faculdade de Ciências Médicas de Kragujevac, intitulada “Dermatoscopia ex vivo de lesões cutâneas pigmentadas”, que será apresentada por Mirjana Popadić.
Como citar este artigo: Popadić M, Brasanac D, Milošev D, Ravić Nikolić A, Mitrović S. Vertical ex vivo dermoscopy in diagnosing and differentiating skin lesions. An Bras Dermatol. 2025;100:501209.
Trabalho realizado no Instituto de Patologia, Faculdade de Medicina, Belgrado, Sérvia e Departamento de Patologia, Faculdade de Ciências Médicas, University Clinical Centre Kragujevac, Sérvia.













