Compartilhar
Informação da revista
Visitas
11
Vol. 100. Núm. 6.
(Novembro - Dezembro 2025)
Cartas ‐ Caso clínico
Acesso de texto completo
Linfoma intravascular de grandes células B: apresentação com telangiectasias dendríticas generalizadas. Desafio diagnóstico
Visitas
11
Catalina Aitkena,
Autor para correspondência
caitkenb@gmail.com

Autor para correspondência.
, Alfonso Lépeza, Esteban Araos‐Baeriswyla, Mauricio Lechugab, Claudio Pintoc, Isabel Henríquezc
a Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina, Pontificia Universidad Católica de Chile, Santiago, Chile
b Serviço de Dermatologia, Hospital Dr. Sótero del Río, Puente Alto, Santiago, Chile
c Departamento de Patologia, Hospital Dr. Sótero del Río, Puente Alto, Santiago, Chile
Este item recebeu
Informação do artigo
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (3)
Mostrar maisMostrar menos
Texto Completo
Prezado Editor,

Linfoma intravascular é doença extremamente rara, com manifestações clínicas diversas e atípicas, o que torna o diagnóstico precoce desafiador e impacta o prognóstico.1

Apresenta‐se o caso de uma paciente, de 70 anos, com histórico de câncer cervical tratado com cirurgia, braquiterapia e radioterapia, que apresentava edema progressivo em ambos os membros inferiores havia dois anos, associado a múltiplas telangiectasias generalizadas (fig. 1), perda ponderal significante, episódios de febre de até 38°C e sudorese noturna. Os exames laboratoriais revelaram hemoglobina de 8,7g/dL, VCM 94 fL, leucócitos 3.240μL com predominância de neutrófilos, plaquetas 144.000μL, VHS 48mm/h, ácido úrico 6,2mg/dL, LDH 662 U/L (IR: 125‐220), FA 246 U/L (IR: 40‐150), GGT 135 U/L (IR: 9‐36), transaminases e bilirrubinas normais e vitamina B12 1.360 pg/mL, com função renal, cálcio e fósforo normais. A β2‐microglobulina estava elevada (3,74mg/L). A eletroforese de proteínas mostrou pico monoclonal na região gama, com componente monoclonal IgM kappa e cadeia leve lambda na imunofixação. A tomografia computadorizada (TC) do tórax, abdome e pelve não apresentou achados patológicos significantes. A ultrassonografia com Doppler dos membros inferiores revelou edema subcutâneo. A biopsia da medula óssea foi normal. Uma biopsia de pele foi realizada, identificando grandes células linfoides atípicas com nucléolos proeminentes dentro de pequenos vasos (fig. 2). A imuno‐histoquímica foi positiva para CD20, PAX‐5, MUM‐1 e Bcl‐2 e negativa para CD3, Bcl‐6, CD10, CD56, CD30, CD34 e citoqueratinas (fig. 3). O diagnóstico de linfoma intravascular de grandes células B (IVLBCL) foi estabelecido. A paciente iniciou o regime de quimioterapia R‐CHOP (rituximabe, ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina e prednisona). Redução acentuada nas telangiectasias cutâneas – estimada em aproximadamente 60% – foi observada após o primeiro ciclo. Metotrexato intratecal também foi administrado em virtude da presença de células mononucleares patológicas em quantidade moderada no líquido cefalorraquidiano, que posteriormente foram eliminadas. A paciente permanece em seguimento multidisciplinar pela hematologia e dermatologia, apresentando resposta clínica favorável após seis ciclos de R‐CHOP, com apenas telangiectasias residuais esparsas observadas no tórax.

Figura 1.

Imagens clínicas. Múltiplas telangiectasias do tipo dendríticas generalizadas no abdome (A) e na coxa (B).

Figura 2.

População linfoide intravascular atípica com células monomórficas, uniformemente aumentadas e com nucléolos proeminentes (Hematoxilina & eosina, 400×).

Figura 3.

Imuno‐histoquímica mostrando células hipercromáticas apresentando coloração imuno‐histoquímica positiva com o marcador de células B CD20 (400×).

O linfoma intravascular é tipo raro de linfoma não Hodgkin extranodal (< 1% dos linfomas cutâneos), caracterizado pela proliferação de linfócitos neoplásicos no lúmen de pequenos vasos, descrito em 1959 como “endoteliomatose e reticuloendoteliose”.2 A incidência de 0,09 por 1 milhão de habitantes foi relatada nos EUA entre 2000 e 2013.3 A idade média de apresentação é de 70 anos, sem diferenças entre os sexos;2,3 85% se originam de células B (IVLBCL) e 15% de células NK ou T.4 Duas variantes clínicas são descritas: a variante “asiática”, associada ao envolvimento de múltiplos órgãos e hemofagocitose, e a variante “ocidental”, associada a lesões de pele e envolvimento do sistema nervoso central (SNC).5,6 A apresentação clínica é variável, incluindo a presença de sintomas B (55%–85%) sem linfadenopatia associada, sintomas neurológicos (39%–76%) e lesões de pele (17%–39%) com placas e nódulos endurecidos eritematovioláceos que simulam paniculite, associados a edema. Sua apresentação como telangiectasias do tipo dendrítico é muito rara, com apenas 24 casos relatados.1–6

Em decorrência de seus sintomas variáveis e inespecíficos, o diagnóstico tende a ser tardio, levando a prognóstico ruim, com sobrevida mediana de 46,1% em cinco anos.3 Em casos de tratamento oportuno com R‐CHOP, a taxa de sobrevida é de 66% em 24 meses, tornando‐se uma doença potencialmente curável com quimioterapia.3,5 Se houver envolvimento do SNC, metotrexato ou citarabina são recomendados.5 Em certos casos, o transplante autólogo de células‐tronco deve ser considerado.2,5

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Catalina Aitken: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual relevante; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Alfonso Lépez: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual relevante; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Esteban Araos‐Baeriswyl: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual relevante; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Mauricio Lechuga: Concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Claudio Pinto: Participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Isabel Henríquez: Participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Disponibilidade de dados da pesquisa

Não aplicável.

Conflito de interesses

Nenhum.

Editor

Sílvio Alencar Marques

Referências
[1]
J.W. Cheng, J.H. Li.
Intravascular large B‐cell lymphoma.
N Engl J Med., 389 (2023), pp. 2188
[2]
J. Vásquez, V. Romero, P. Vilas, J.A. Serra-Rexach, M.T. Vidán.
Progressive edemas and generalized telangiectasia: a presentation of intravascular B‐cell lymphoma.
Clin Case Rep., 7 (2019), pp. 2429-2432
[3]
D.J. Rajyaguru, C. Bhaskar, A.J. Borgert, A. Smith, B. Parsons.
Intravascular large B‐cell lymphoma in the United States (US): a population‐based study using surveillance, epidemiology, and end results program and national cancer database.
Leuk Lymphoma., 58 (2017), pp. 1-9
[4]
W. Zhang, Y. Tang.
Generalized telangiectasia as a hallmark of intravascular lymphoma: a case report and literature review.
Healthcare (Basel)., 12 (2024), pp. 1455
[5]
M. Ponzoni, E. Campo, S. Nakamura.
Intravascular large B‐cell lymphoma: a chameleon with multiple faces and many masks.
Blood., 132 (2018), pp. 1561-1567
[6]
S. Koizumi, Y. Togawa, Y. Saeki, R. Shimizu, M. Nakano.
A case of cutaneous variant of intravascular large B‐cell lymphoma in which dermoscopy revealed telangiectasias associated with erythematous induration.
Dermatol Reports., 16 (2023), pp. 9731

Como citar este artigo: Aitken C, Lépez A, Araos‐Baeriswyl E, Lechuga M, Pinto C, Henríquez I. Intravascular large B‐cell lymphoma: presentation with generalized dendritic‐type telangiectasias. A diagnostic challenge. A diagnostic challenge. An Bras Dermatol. 2025;100:501221.

Trabalho realizado no Hospital Dr. Sótero del Río, Puente Alto, Santiago, Chile.

Baixar PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas