Melanoacantoma é variante pigmentada rara de ceratose seborreica que mimetiza melanoma, representando um desafio diagnóstico.1 Embora comumente encontrado em áreas expostas ao sol, sua ocorrência no complexo aréolo‐mamilar é raramente relatada.2,3 O presente relato apresenta dois casos em pacientes jovens do sexo feminino com exposição prévia à radiação ultravioleta (RUV), enfatizando a necessidade de conscientização clínica e o papel da dermatoscopia e biopsia no diagnóstico de lesões pigmentadas em locais incomuns.
Paciente do sexo feminino, de 27 anos, apresentou‐se com lesão progressivamente crescente e pigmentada escura no mamilo esquerdo, observada pela primeira vez havia um ano. A paciente tinha histórico de exposição de corpo inteiro em cama de bronzeamento artificial há dois anos. O exame revelou duas manchas hiperpigmentadas com bordas irregulares (1,5cm e 1cm) no complexo aréolo‐mamilar (fig. 1A). A dermatoscopia mostrou fundo pigmentado com estruturas circulares (fig. 1B), e a histopatologia confirmou melanoacantoma com hiperpigmentação da melanina basal, acantose epidérmica e alongamento das cristas de rede (fig. 2A). Crioterapia superficial foi aplicada em quatro sessões ao longo de três meses, resultando em regressão parcial, sem progressão observada em seis meses de seguimento (fig. 2B).
Paciente do sexo feminino, de 34 anos, apresentou pigmentação irregular na aréola direita, que se desenvolveu durante o segundo trimestre de gestação. A paciente tinha histórico de exposição de corpo inteiro a cama de bronzeamento artificial um ano antes, com seis sessões. O exame revelou mancha hipopigmentada de 3cm com placas irregularmente pigmentadas (fig. 3A). A dermatoscopia demonstrou fundo pigmentado com estruturas circulares e pigmentação linear em forma de V, com padrão semelhante a escamas de peixe (fig. 3B). A histopatologia confirmou o melanoacantoma, mostrando acantose epidérmica, alongamento das cristas de rede, hiperpigmentação da camada basal, edema dérmico superficial, incontinência de melanina e infiltração linfocitária perivascular (fig. 4A). Ao longo de cinco anos de seguimento, a lesão apresentou despigmentação parcial sem tratamento, sem progressão observada (fig. 4B).
(A) Achados histopatológicos da segunda paciente: acantose irregular, alongamento das cristas da rede, aumento da melanina basal, edema dérmico, incontinência de melanina e infiltração linfocitária perivascular (Hematoxilina & eosina, 10×). (B) Regressão parcial da lesão sem tratamento após cinco anos na segunda paciente.
O melanoacantoma é variante altamente pigmentada da ceratose seborreica, comumente encontrada na cabeça, pescoço e tronco, com predileção por indivíduos mais velhos.1 Sua ocorrência no complexo aréolo‐mamilar é extremamente rara, com apenas dois casos relatados.2,3 Os fatores etiológicos propostos incluem mutações no gene FGFR3, exposição à RUV e influências hormonais, como gravidez ou terapia com estrogênio.3 Apesar de ser uma área não exposta ao sol, ambas as pacientes descritas aqui tinham histórico de uso de bronzeamento artificial, e uma delas desenvolveu a lesão durante a gravidez.
Os diagnósticos diferenciais incluem hiperceratose nevoide, ceratose seborreica e melanoma.2,4 Vários padrões, incluindo aparência em estrela, cristas, fissuras, aberturas em forma de comedões, vasos em grampo e demarcação nítida, foram descritos, juntamente com características específicas do melanoma, como véu branco‐azulado e pontos atípicos.1–5 Nos dois casos descritos no presente estudo, a dermatoscopia revelou estruturas circulares, que não haviam sido descritas anteriormente em melanoacantoma, mas foram observadas em outras lesões benignas, como máculas melanóticas labiais.6
A histopatologia permanece essencial para a confirmação do melanoacantoma, mostrando proliferação de queratinócitos basaloides e melanócitos dendríticos dispersos. Dadas as considerações estéticas e funcionais do complexo aréolo‐mamilar, a biopsia deve ser cuidadosamente planejada.2,3 A maioria dos casos não requer tratamento, a menos que sejam sintomáticos; a crioterapia resultou em regressão parcial em uma das pacientes aqui descritas.1
Esses casos enfatizam a importância de se considerar o melanoacantoma no diagnóstico diferencial de lesões pigmentadas na região aréolo‐mamilar e ressaltam a necessidade de avaliação dermatoscópica e histopatológica para um diagnóstico preciso. A presença de estruturas circulares amplia suas características conhecidas, e o histórico de exposição à RUV em ambas as pacientes sugere possível papel em sua patogênese.
Declaração de éticaOs pacientes neste manuscrito deram consentimento informado por escrito para a publicação dos detalhes do seu caso.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresAysun Sikar Akturk: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; análise estatística; concepção e planejamento do estudo.
Esin Diremsizoglu: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; análise estatística; concepção e planejamento do estudo.
Nilgün Sayman: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; análise estatística; concepção e planejamento do estudo.
Rebiay Kiran: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em condução propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; análise estatística; concepção e planejamento do estudo.
Cigdem Vural: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; análise estatística; concepção e planejamento do estudo.
Disponibilidade de dados da pesquisaNão se aplica.
Conflito de interessesNenhum.
EditorSílvio Alencar Marques.





